sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
2011/2012
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Prece
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Mentirinha
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
A caneta.
Eu estava lendo o livro, concentrada. Enquanto ele me rodeava, pedindo atenção. Atenção que eu negava. Até que ele me perguntou sobre o que era o livro. Numa tentativa desesperada de garantir a atenção, ele se mostrou interessado na minha leitura, aos quatro anos de idade! Eu disse que era livro de adulto. E ele continuou perguntando. Quem estava dentro do livro? O que acontecia? Foi chegando mais perto. Cercou-me. Sentou do meu lado. Com os dedinhos ia indicando palavras e perguntando o que elas significavam. Eu não resisti. Peguei a caneta marca texto, girei minhas mãos, transformei-me numa feiticeira e o transportei para dentro da obra. Enzo Gabriel, cara de pastel, eu quero você dentro desse livro de papel! O sorriso dele foi de orelha à orelha. Ele me pediu socorro, disse que tinha muito adulto dentro do livro, que as palavras estavam o afogando e que a vírgula queria matá-lo. Eu virava as páginas e ele virava junto. E a cada página virada, uma viagem. Uma nova aventura. Até que ameacei fechar o livro. Tia não! Se você fechar, eu fico aqui dentlo para semple. O rosto assustado indicava a angustia dele. Para sempre é muito tempo. Tá, sai daí Enzo. Ele sai faceiro, toma a caneta das minhas mãos e transforma coisas em sapos, gente em monstros. Há duas semanas que não encontro minha caneta...
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Escolha
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Coisa de adulto
A gente pede uma porta e o que abre é uma janela, com vista para um lugar bem diferente daquele que imaginamos. E diante da porta ainda trancada, fica a dúvida: pular pela janela ou girar a maçaneta? A gente até gira a maçaneta, mas a porta está chaveada. Então, olhamos pela janela, analisando a vista. Pode ser que não seja tão ruim. Nem o lugar e, quiçá, nem as pessoas. A gente respira fundo, suporta o frio que dá na barriga e que sobe seco dando nó na garganta. E reza, para que tudo dê certo. Porque é assim que adulto vive. De renúncias, dúvidas e apenas uma certeza. Somos aquilos que esolhemos ou, por vezes, aquilo que nos é permitido ser por um momento.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Encruzilhada
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Bicho-papão
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Cheirosinho
Há anos não usava uma colônia e por isso as borrifadas que deu sobre o pescoço deixavam-no, embora cheiroso, desconfortável. Por um momento até achou que tivesse escutado um espirro, mas não. Ninguém espirrou. Queria mesmo era ter escutado um espirro, daqueles bem fininhos, curtinhos. Atchim! Era assim que a esposa reagiria. E escutar um espirro que não existiu o reportou para o primeiro encontro, quando pôde chegar pertinho dela.
Ela, de uma beleza singular. De nariz arrebitado, que rimava com o resto do rosto perfeitamente emoldurado pelos cabelos negros ondulados que lhe caíam até a altura dos ombros. Seduzido, quis chegar mais perto ainda da moça que não o deixava mais dormir. E foi por chegar mais perto e querê-la por perto que abandonou o uso de colônias. Ela era alérgica a qualquer cheiro, dos cítricos aos doces, dos amadeirados aos florais.
Não teve outro jeito se não abandonar os frascos, até o mais minúsculo que, à época, custou-lhe quase todas as suas economias de um ano. Se hoje estava perfumado, era porque a mulher não estava mais ao seu lado. Até que a morte os separe. Foi só assim que ficou longe da amada. No dia seguinte, deixou a fragrância de lado para não escutar espirros.
sábado, 6 de agosto de 2011
A fruta nunca cai longe do pé
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Microcrônica de comercial de margarida
*É, eu sei. Sou tia babona.
domingo, 31 de julho de 2011
Desaparecido
quinta-feira, 14 de julho de 2011
O dedo do pé de Amanda
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Ele só queria filme, pipoca e coca-cola
quinta-feira, 7 de julho de 2011
O cappuccino refletindo a vida
terça-feira, 5 de julho de 2011
Sabido
- Tia, era hoje que você ia me leva no Carneiro?
- Não! No fim de semana...
- Ah tá.
Então, a mãe dele questiona.
- Mas você sabe o que é o Carneiro?
- Xei sim. Ovelha ué!
domingo, 3 de julho de 2011
O chá quente na Rua da Dúvida com a Avenida da Instabilidade, na esquina da Intensidade
quinta-feira, 30 de junho de 2011
Para não dizer que eu não lembrei de nada
terça-feira, 21 de junho de 2011
Das minhas ignorâncias
E “só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas”.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Merchandising
- Paula! Eu preciso (o querer vem antes, daí depois eu preciso! E invoco com aquilo que preciso) escrever um livro. Topa?
- Bora.
Resultado: Um Olhar Sobre a Aids. Com a Ana junto. E histórias para nunca nos esquecermos. Como a da Dalva ou da cadela da vizinha. Mas as melhores mesmo estão no livro.
Lançamento
04.08.11
20h
Biblioteca Municipal Professor Egydio Martello, Campo Mourão (PR).
terça-feira, 14 de junho de 2011
O encontro
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Quero te dar a mão
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Nó.
Uma vez transbordados, difícil cessar
E o abraço apertado de quem quer consolar nada pode diante da dor de amar
De amar quem se foi para nunca mais voltar
quarta-feira, 1 de junho de 2011
O seu é outra
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Dengo.
E ele abraça as minhas pernas e vai se pendurando até que eu o pego no colo. No colo, ele coloca a bochecha dele do lado da minha. Bochecha com bochecha, enquanto uma de suas mãozinhas enrola uma mecha de cabelo meu. Daí ele para. Olha-me e me enche de beijos, um em seguida do outro. Ele sente saudade, tanto quanto eu. E isso me faz um bem, um bem que ninguém me faz.
domingo, 22 de maio de 2011
Da ingratidão do tempo
sábado, 14 de maio de 2011
Sem disfarces e de verdade
terça-feira, 3 de maio de 2011
Escondidinho
quinta-feira, 28 de abril de 2011
As chaves
A letra L, o símbolo do Pouca Vogal e um coração deformado pelo tempo ainda acompanham as chaves que me restaram. Duas, só. O chaveiro era mais pesado, até ontem. Tinha a chave para a porta da frente, a chave para porta de vidro, a chave para a outra porta de vidro, a chave para a porta da minha sala e ainda as duas chaves, pequenininhas, do meu armário. Eu senti de ter saído, mas só senti mesmo quando notei meu chaveiro sem graça. Sem as chaves que me abriram tantas portas.
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Epílogo
quarta-feira, 20 de abril de 2011
As feias que me desculpem...
segunda-feira, 18 de abril de 2011
A noite perfeita
sábado, 16 de abril de 2011
Fã
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Unindo o útil ao agradável
As cores que eu enxergava.
O amor que lhe devotava e...
Os beijinhos que lhe dava.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
“Surplesa”
domingo, 3 de abril de 2011
Um caso de amor bem resolvido
.
sexta-feira, 1 de abril de 2011
terça-feira, 29 de março de 2011
Sobre a facilidade de se dispensar pessoas
Enquanto os adultos se martirizam com a tarefa de se dispensar alguém, afinal, ser dispensado dói. Às vezes pouco, mas dói. As crianças nos dispensam com uma facilidade indescritível. Me dá um beijo? Não. Você gosta de mim? Não! Eu sou linda, não sou? Você é feia. Sinceridade ao extremo. Que sigamos o exemplo delas. Simples, para mim e você se fossemos desse jeito. Não é mesmo?
- Por que você não vai ao circo comigo?
Eu planejei durante a semana inteira...
- Porque não! Sorri, olhando-me.
- Humm, legal. Você vai com o Leo é?
- É. E continua sorrindo, com um arzinho de superioridade.
- Por que com o Leo e não comigo?
- Porque eu nunca fui no circo com o Leo, com você já né tia.
Óbvio, até demais. Sejamos óbvios também.
quinta-feira, 24 de março de 2011
De queixo caído
Meu sobrinho chega em casa e fica com “Mone” para cá, “Mone” para lá. Enquanto ele 'saracuteia' pelos quartos, cozinha e sala, repetindo o nome que ele havia aprendido na escolinha, eu o observo, com uma certa dúvida. O “Mone” que ele fala é o mesmo em qual eu estou pensando? Capaz! Isso aí só no Ensino Médio. Tsc tsc tsc. Ensino Médio na minha época.
No quarto, em cima da cama dele, várias pinturas do Monet. A professora deu para ele brincar de jogo da memória. Deve ter entregue para todas as crianças. Incrível (eu teria pensado na Turma da Mônica...)! Ele chega no quarto e esparrama todas as obras de Monet que estão impressas em papel sulfite e cortadas à mão. No momento em que embaralha as pinturas para iniciar a brincadeira, ele repete incessantemente o nome do artista. Faz bico, porque é francês, diz ele. E esse bico pronunciando “Mone” de Monet é que deixa todo mundo aqui babando, de queixo caído.
Oscar-Claude Monet (Paris, 14 de novembro de 1840 — Giverny, 5 de dezembro de 1926) foi um pintor francês e o mais célebre entre os pintores impressionistas.
O termo impressionismo surgiu devido a um dos primeiros quadros de Monet, "Impressão, nascer do sol", quando de uma crítica feita ao quadro pelo pintor e escritor Louis Leroy: "Impressão, nascer do Sol” – eu bem o sabia! Pensava eu, justamente, se estou impressionado é porque há lá uma impressão. E que liberdade, que suavidade de pincel! Um papel de parede é mais elaborado que esta cena marinha." . A expressão foi usada originalmente de forma pejorativa, mas Monet e seus colegas adotaram o título, sabendo da revolução que estavam iniciando na pintura.
sexta-feira, 18 de março de 2011
A minha primeira tatuagem
- Espera Enzo, você tem que ficar grande.
- Maaaas, você vai me leva né?
- Opa! Levo sim...
Dia seguinte.
Chega em casa chupando o chicletes, mas a atenção está totalmente focada no que vem junto com a goma de mascar.
- Ajudaaaaa, tila pra mim.
Três tentam o ajudar. Ninguém consegue. Antes de recorrer ao pai, ele mesmo tenta.
- Tá aqui ó. Olhaaaa a minha tatuagem!
Exibe-se. Com o cuspe, colou a tatuagem do chiclete no braço. Uma tribal preta com prata. Um luxo!
Na hora do banho...
- Nãooo mãaae, não ela pla lava o blaço.
- Como não?
- Eu quelo mostla pros meus amiguinhos.
Risos, a casa inteira escuta.
- Filho, hoje é sexta-feira, você não pode ficar sem lavar o braço até segunda!
- Aaaaaaa mãeee, por favo. Eu quelia mostla pros meus amiguinhos...
terça-feira, 15 de março de 2011
Pimenta nos olhos dos outros é refresco
O gordo se ofende. Estufa o peito e se diz indignado, não gosta de ser oprimido, de ser reduzido aos seus quilos a mais. É ruim quando vai na loja comprar roupa, argumenta. É difícil para passar na roleta do ônibus. Todo mundo olha, lamenta-se. A feia também está no time dos oprimidos, dos excluídos socialmente. Para ela, beleza não põe mesa. Insiste nisso, mesmo ciente de que para maioria põe. Daí fica sem mesa, tadinha. Culpa a mídia, os padrões de beleza divulgados. O aleijado, coitado. Até rima com o predicativo que carrega. Não gosta que tenham pena, assim como não gosta de mancar, de que o ajudem a subir escadas. Precisa provar a sua independência, para aqueles que o julgam coisa mínima. A lésbica também reclama. Diz que, se pudesse escolher, seria hetero, com certeza. Não é escolha! Defende-se. A moça virgem não quer mais ser chamada de Sandy. Está cansada de ser satirizada, quase que virou devassa, que nem a musa com a qual a comparam. Até o evangélico entrou na dança. O crente é chamado de cu quente, porque aos finais de semana se dá ao luxo de beber uma cervejinha e até dá um gole na cachaça.
O gordo tira sarro do cobrador de ônibus. O cobrador fala probrema, dois real! "Menas gente aqui hoje". Que burro! A feia não quer beijar o feio. Prefere gente mais apessoada, ajeitada, arrumada. Um galã desses de capa de revista, daquela que ela tanto critica, pode ser. O aleijado, por ser de família abastada, tem nojo de pobre. Carro popular, feijoada aos domingos, troco, nem pensar. Seu esquema é automóvel importado, comida francesa, gorjeta. Humilha o motorista que dirige sua BMW. A homossexual assumida caçoa da mulherzinha. Mulher que tem jeito de mulher a enjoa. Acha o cúmulo a voz fina, o salto alto, o batom vermelho. Se for necessário até empurra. É mulher macho, mesmo! A virgem, por opção, fala mal das amigas que decidiram abrir mão daquilo que ela acredita ser o símbolo maior do amor. Ingênua, ou nem tanto, difama as amigas para a mãe, o namorado e todos os demais amigos. Até inventa transas, beijos, festas e porres. As amigas são perdidas, salienta. O evangélico não acredita na conversão do vizinho, que era alcoólico e comia toda a mulherada. O crente acha que ‘pau que nasce torto nunca se endireita’. Quiçá, se o vizinho tivesse entrado para a igreja dele, daí a salvação do pecador estaria garantida.
O gordo, a feia, o aleijado, a lésbica e o evangélico não gostam de ser estigmatizados. Mas não se importam de estigmatizar.
sábado, 12 de março de 2011
Sorte
terça-feira, 8 de março de 2011
pessoas
Um feliz dia das mulheres. Mulheres que são simples e puramente pessoas, todos os dias.
domingo, 6 de março de 2011
E um e dois e dois e três...
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Você tem direito a um pedido...
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Tudo por Dolores *
João Carreira era um português que contrariava as piadinhas acerca dos lusitanos, ele era extremamente inteligente, desses homens que são bons de negócios, de multiplicar fortunas. Ele multiplicou a fortuna dele. Dono de uma empresa de ônibus, abriu mais 10 filias espalhadas pelo interior do Paraná, na década de 50.
Com a empresa crescendo e prosperando, João Carreira conquistou não só status, mas muita mordomia para a família dele, que agora tinha mais de duas empregadas para cuidar da casa grande e dois motoristas que levava ele, a mulher e os filhos para onde quisessem.
A casa grande era apenas um dos imóveis que tinham. Compraram apartamentos e construíram um condomínio modesto, desses de casas para classe C e D. João tinha lucros consideráveis com os aluguéis, mas também investia em ações, para garantir que o dinheiro não tivesse fim. Naquela época, poucas pessoas faziam cruzeiros e viajavam para a Europa. A família de João vivia em cruzeiros e quase morava no continente europeu. Era puro glamour. Os negócios iam bem. A mulher gostava da boa vida que tinha e os filhos cresciam com grandes oportunidades, com um futuro ilustre, garantia Carreira. Até Dolores aparecer.
Ah Dolores! Dolores era linda. João Carreira se apaixonou por ela no primeiro dia em que a avistou. Foi num baile da alta sociedade. Dolores vestia seu melhor vestido, que acentuava suas curvas delicadas de seu corpo mignon.
João quis aquele corpo. E Dolores, percebendo o interesse, esbanjou sensualidade e bom papo. Filha de um grande fazendeiro da cidade, Dolores era da turma da vanguarda. Tinha estudado na França, cursado artes cênicas e tentado uma vida no Rio de Janeiro, ela não combinava nadinha com aquela cidade interiorana, para onde seu pai a havia arrastado. E João achou a vida dela, o jeito dela, sobretudo ela, o máximo.
Largou a mulher, esqueceu dos filhos e foi morar num dos apartamentos que alugava com Dolores, que achava justa a decisão de Carreira, bolando planos para a vida a dois que levariam. O relacionamento durou cinco anos. João e Dolores se entediam muito bem, mas Dolores, de repente, sem motivos, achou que não era realmente feliz. Falou sobre isso com Carreira, que pagou terapeuta, que lhe deu joias e inúmeras viagens, que se afastou da empresa.
Dolores ficou com os apartamentos e com o condomínio de João. A ex-mulher e os filhos se mudaram da casa grande para uma bem pequena, viveram um tempo das ações que tinham comprado. João? João perdeu a empresa, teve que vendê-la para pagar as dívidas acumuladas quando se afastou da diretoria, de quando achou que curaria a infelicidade de Dolores com mimos, terapia e tempo disponível para ela, só ela.
Continuou na empresa como motorista. De dono das 10 - fora a sede - empresas de ônibus para motorista de uma das empresas. Hoje, com mais de 60 anos, ainda trabalha como motorista de ônibus da empresa que no passado foi dele. De vez em quando visita a ex-mulher e os filhos. Da Dolores não tem mais notícias, nunca mais a viu, desde que o abandonou, levando seus últimos bens. Mas, só de se lembrar dela ou pronunciar o nome, ele suspira. Faria tudo de novo por Dolores, afirma.
*História verídica. Achei João burro, extremamente burro. Gostei da Dolores, quis ser tão hipnotizante quanto ela, claro.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
O Anacoreta
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Da coragem de fazer seu próprio destino
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Notícia ruim
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Uma prece não atendida
Eu fico sem saber o que fazer, sem saber por onde começar - se é que tem começo. Então, eu tento interagir na tentativa de resgatá-la de si mesma. É, eu acho que você está presa em si mesma. Mas ainda não sei se é porque quer ou porque não consegue se libertar. Não acho justo essa prisão. Você, quietinha e amuada. Murcha. Logo você que sempre foi tão expressiva, viva. Sinto falta de suas reclamações constantes e de seu mau humor instantâneo. A falta é tanta que numa tentativa desesperada eu me ponho a conversar com você, mesmo sem resposta, mesmo sem sua atenção. Eu falo bastante, faço-lhe mil perguntas, conto-lhe da minha vida, faço observações e comentários inoportunos. E continuo tagarelando até você dizer alguma coisa, rir. Nunca pensei que comemoraria por você formular uma frase de três ou quatro palavras. Quando isso acontece, de você pronunciar uma frase inteira, eu vibro! E me sinto vitoriosa por ter conseguido tal proeza. Porque agora isso se tornou proeza, não é mesmo? Falar, seu dom natural, agora é ato nobre, só para poucos, pouquíssimos e só de vez em quando, tá ficando raro. E eu me preocupo com isso. A preocupação é tamanha que me dá enjôo, dor de cabeça, ânsia. Porque eu quero entender o porquê, eu quero descobrir a causa, dar uma rasteira na medicina, que ainda não me diz o que você tem. Alguns dizem “é normal da idade” como palavras de consolo, mas não me consola. Jamais a imaginei assim, nesse estado inerte, praticamente estática. Eu já pensei em greve. Sim, em greve! Eu faço isso de vez em quando, fico de greve, sem falar, sem me dirigir a certas pessoas. Você poderia estar de greve comigo. Mas não está né? Não é só a mim que não responde, mas a todos que estão a sua volta. “Está de greve com o mundo?”, eu perguntei, você riu e disse: “Você quer saber de tudo”. E riu de novo, como se eu fosse uma tola. Eu também me achei tola. Daí eu perguntei se você estava feliz, foi quando seus olhos saltaram. E você continuou muda, calada. Eu insisti, perguntei o que sentia, se era tristeza. Então, você me deu uma resposta sabia: “A vida tem disso”. É...ninguém é feliz por 24 horas. “Felicidade eterna só nos comerciais de margarina, né?!!”. Você sorriu, fazendo carinho na minha mão. E eu corri. Corri para longe de você, para que não percebesse o quanto sou fraca. Chorei até meus olhos não aguentarem mais, até ficar com o rosto levemente deformado, inchado. É frustrante não tê-la por completo. Eu não desejei ver você desse modo. Em minhas preces sempre lhe pedi uma boa velhice. Não me atenderam. E, sinceramente, uma prece não atendida me deixa transtornada, totalmente perdida. Agora eu quero um milagre. Milagre, dizem, é mais difícil. Ai ai...
domingo, 13 de fevereiro de 2011
O que me faz sorrir?
Caras estranhos me fazem sorrir, sobretudo os barbudos! Investidas de amores do passado me fazem sorrir também. Sensação gostosinha essa. A minha vida amorosa me faz sorrir. Na verdade, gargalhar. Tenho boas histórias, um dia, quem sabe, eu as publique em algum lugar. Arrancaria risos de muita gente, certeza. As minhas cantadas me fazem sorrir. Afinal, bancar a pedreira não é para qualquer uma, não é mesmo?
O Duca Leindecker me faz sorrir. Como não sorrir diante de um riso tão encantador? E ele riu para mim, tenho a prova! Estar escrevendo um livro me faz sorrir. Sorrir à toa, de um jeito diferente. É um sorriso natural, meio bobo até. Ficar sozinha, esticar a perna e saborear um livro que ganhei me faz sorrir. Para cada livro, um sorriso. Ah! As dedicatórias que me escrevem nos livros me fazem sorrir. São as melhores dedicatórias. Vinho me faz sorrir, não é por causa do efeito do álcool, é porque a bebida me leva para um tempo bom, de muito companheirismo e papos descontraídos.
As minhas viagens me fazem sorrir. Para cada canto que vou, um encontro. Sempre acho pessoas especiais, dessas que por uma semana fazem a diferença para toda a vida. O trajeto das viagens me faz sorrir. A estrada pode proporcionar momentos únicos, como a preocupação com uma amiga que “foi ao banheiro”; um mapa do destino rolando no asfalto; um pote de sorvete, que derreteu claro, comprado para comer no caminho; um esquenta animado antes de chegar à festa...Vários sorrisos. Músicas me fazem sorrir. A minha vida sem música seria cinza, as melodias me dão cores.
Ah! Ver cores me faz sorrir! Também cheiros e toques me fazem sorrir. E escrever sobre o que me faz sorrir, me faz sorrir. Porque tudo aquilo que é importante vem à tona, mexendo com os meus sentidos...Satisfação.
Obs: Os blogs que me fazem sorrir já ganharam o selo (vocês sabem o quanto me fazem sorrir!)...A Dayse me faz sorrir. Sorria, meu bem!
domingo, 6 de fevereiro de 2011
O mesmo caminho para um destino diferente
Às 18h e alguns minutos, o fusca vermelho estava parado em frente à escola pela qual passava. O carro sempre estava lá, sem ninguém ao volante ou no banco do passageiro. Era um automóvel bem cuidado, embora antigo. Só os bancos que não eram tão bons. Ao ultrapassar o fusca imóvel pela calçada lateral, podia espiar pelos vidros o ambiente interno. Os bancos ainda estavam cheios de furos, com a cor gasta e o volante também. O dono ainda não arrumou. Ou a dona. Nunca soube quem era o proprietário daquele carro, mesmo conhecendo seus defeitos. Defeitos antigos, de quando passava por aquela rua todos os dias, talvez de antes do atual dono do fusca tê-lo.
Após o fusca, avistaria uma velha varrendo a calçada. Ao inclinar seu corpo para dobrar a esquina, enxergou a velha. Ainda mais velha, ainda mais lenta. Tinha muitas folhas para varrer. E as varria todos os dias, naquela hora do dia. Olhou para cima, para a rede elétrica, e viu o par de All Star gasto junto do céu azul. Há meses o tênis estava lá. Talvez anos. Porque demorou para notar o calçado preso na rede elétrica, já que anda olhando para frente e para baixo, normalmente contando seus passos. Vez ou outra algo lhe chama a atenção, então olha para os lados ou ergue a cabeça.
Foi num dia quente que avistou o All Star, num dia de semana, desses que mesmo depois das 18h o sol ainda se faz presente, vivo, quente. Meninos e meninas daquela rua arremessavam pedras, galhos e afins para cima na tentativa de tirar o tênis do fio de energia. As crianças não conseguiram tirar o All Star de lá, constatou.
Seguindo reto, na descida, esbarraria com uma casa de um jardim cheio de rosas, das mais diversas, das mais belas. Era uma casa modesta, mas extremamente charmosa, com uma varanda que contorna a casa. A rede pendurada não era mais da cor de antes. Também notou que o senhor que lia na cadeira de balanço não estava por lá. Era a hora da leitura dele, ela sabia disso. Durante anos o viu devorando livros sobre aquela cadeira, que se encontrava vazia, naquela varanda, naquele horário. Ele deveria estar ali. O senhor combinava tanto com as rosas do jardim! Uma vez o viu conversando com as flores enquanto as regava. Antes de dar as costas para a casa, um moço embicou o carro no portão, impedindo que ela passasse. O moço podia ser o senhor da cadeira quando jovem. Talvez o velho tivesse morrido e o filho tomava conta da casa. Sentiu pelo senhor, mas ficou feliz pelas rosas, que continuavam belas.
Retomou os passos após o moço adentrar com o carro na garagem. Passou pela construção abandonada, pela igreja que nunca viu aberta. Pelo bar de onde sempre ecoavam gritos e risadas provocados pelo bingo. Bingoooo! O canto das cigarras ia ficando mais ameno à medida que caminhava. Sorriu para os vizinhos que chegavam e para aqueles que já proseavam reunidos na calçada. Desviou da bicicleta de uma das crianças. Pulou o buraco no qual por inúmeras vezes machucou o pé. Subiu o degrau que separava uma calçada da outra. Chegou em casa. Era sua última noite ali. Deixou um colchão para dar o adeus definitivo.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Flertando aos 26 anos
Ele a olha, esperando uma resposta. Ela fica por segundos sem responder, analisando o que foi dito. Pensa na idade, na idade de novo e de novo na idade. Sente-se nova ainda para viver um amor de verdade, mais uma vez.
Ela: É...pode ser.
Diz, concluindo que ambos não combinavam.
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Todo dia é dia de saudade de lá
- Tô com saudade de Guarapuava, mãe!
- Você sente falta de lá né? Eu sei. E me dá um sorriso como quem diz que é normal, que vai passar.
- É. Eu acho que quando tiver velha vou ter que passar por lá só para sentir o vento frio, para respirar aquele ar gelado...
Minha mãe me olha, tentando entender o porquê de tanta saudade. Nem eu sei. Só sei que é assim!
domingo, 30 de janeiro de 2011
Teresinha
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Carta à Cleycianne
Olá irmã Cley, saudações em Cristo!
A sua palavra tem se expandido pelo Brasil afora. Aqui no PR, uma jornalista amante de um traficante, com quem fornicava, saiu da prisão esta semana. O caso dela ficou conhecido no mundo inteiro, contribuindo para com a imagem satânica que os estrangeiros fazem de nosso País.
Entretanto, Deus é mas, como você diz. Arrependida, agora a jornalista não é mais oca. Ungida, saiu da cadeia com bíblia na mão sem precisar de sua transformação em Cristo, sem necessitar do ungido programa photoshop! É o mel descendo do céu. O povo de Deus grita: Uoooooooba! Pura Unção!
Segue a foto para a verificação em Cristo.
Beijos.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Uma lenda urbana com nome, sobrenome e até RG
Ela continua a história. Ele me traiu com uma cadela, com uma cadela, com uma cadela. Ela estava enfatizando demais o “cadela”, então mirei para a Paula e para a Ana que estavam concentradas no relato, como se não tivessem notado o destaque para o qual ela dava à palavra cadela. Quiçá elas repararam, porém acharam melhor não fazer comentários. Seria informação demais, como diz uma delas. Ou talvez não tenha dado tempo.
Resolvi perguntar, mesmo com medo de ser super bola fora, o que normalmente sou, se ela se referia a uma cadela. Tipo cadela de cachorra? (Tentando não parecer assustada, mas já com uma cara de espanto por prever a resposta). É, com a minha cadela, no nosso quintal! Minha boca foi se esticando, esticando até formar um semi-sorriso. No momento, minhas amigas se olhavam com as bocas abertas. Espantadas. Não aguentei. Meu meio-sorriso se transformou num sorriso completo. Dei risada. Muita risada, de quase perder o fôlego.
Eu peguei meu marido com a minha cadela, repetia a entrevistada. E eu, sem noção, não parava de rir. A verdade é que depois dessa revelação me segurei para não rir durante a entrevista inteira, que durou mais de duas horas. O assunto não era zoofilia, mas enfim, eu não conseguia parar de achar engraçado o fato de aquela mulher ser traída por uma cadela. Uma cadela??!!
Esse tipo de história, para mim, até o momento, era lenda urbana, desses causos que um conta para o outro e esse outro diz que escutou do fulano que afirmou não saber quem, onde, como. São relatos sempre distantes, sem nomes, sobrenomes, sem endereços. Ali tínhamos tudo, até o RG dos envolvidos. Menos da cadela, é claro.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
domingo, 23 de janeiro de 2011
Uma estrela de peso
D`Alva tem uma virilidade que não combina com seu corpo magro, quase esquelético, e uma doçura ao acolher e falar que não rima nadinha com os caminhos tortos que escolheu seguir. Estrela D`Alva é peculiar. Poucos são aqueles que conseguem enxergar-lá como tal. Impregnada de um passado fosco – quase negro –, de uma vida sem luxos, seu brilho fica escondido, exposto somente para quem chega pertinho dela. Para quem tem tempo e disposição para ouvir sua história. E que história!
Ao olhar para ela que está parada na janela, mais à direita do que à esquerda, tragando seu cigarro, consigo vê-la ao fundo, no céu.Eu monto um quadro. Um quadro bonito, de um céu sem estrelas, porque não tinha estrelas, brotava ela com sua simplicidade (de jeans, regata, cabelos presos). De um céu azul escuro, quase negro, despontava uma única estrela: Naquele apartamento Estrela D`Alva nos irradiava com sua luz. Ela que é forte. Mulher em seu sentido mais amplo e pleno.
Perto dela tudo fica mesquinho, demasiadamente minúsculo. Até eu e você. Porque Estrela D`Alva carrega um peso nos dedos, nos braços, nos ombros, nos olhos, no coração, por opção. Por amor, é o que diz. Peso que eu e você juntas não suportaríamos.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Das oportunidades perdidas
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Microconto de esperança
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
O dia em que nasci
domingo, 16 de janeiro de 2011
Embrulho
Com a cara amarrada, listou em pensamento aquilo que fez seu estômago ficar mal, causando-lhe aquele mal estar súbito. A lista nem ficou tão grande, mas era excessivamente tediosa. Como não percebeu esse tédio impregnado em seus pertences e afazeres antes? Frisou a testa procurando o início de tudo. De onde vinha essa monotonia que lhe provocava uma insatisfação aguda?
Não achou os indícios. Ficou bravo consigo mesmo. Pensou em quebrar tudo. Depois da demolição restam os entulhos. E se por ventura quisesse reaproveitar algum? Sucedeu-lhe uma ideia melhor. O abandono. Iria embora da sua própria vida para nunca mais voltar. Não carregaria móveis, roupas, trabalho, amigos ou família. Daria adeus ao passado chato em busca de um futuro mais variável. Queria correr riscos. Perigo. Antes de dar o fora, avisou-a da decisão. Sem entender nada, ela deu a mão a ele. Foram.
sábado, 15 de janeiro de 2011
Ideologia II
PT, PV, PSDB, PMDB, PSTU, PSOL, PL...
- Qual é o seu partido?
- O meu partido?
- É.
- O meu partido é um coração partido.
Drama, adoro um.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Greve
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Descobrindo os sexos
- Tia, cadê seu pipi?
- Hã!?
- Seu pipi que nem o meu?
- Não tenho pipi.
- Mas que que voxê tem aí?
Que pergunta! O que eu respondo? O que eu respondo? Ele tem três anos, preciso de uma palavra amena...
- Uma periquita.
Uma periquita? Que ideia foi essa? Dou risada enquanto ele pronuncia a nova palavra.
- Periquita, perliquita, peliquita, periquita...Mas por que voxê não tem pipi?
- Ué, porque eu tenho uma periquita. Sou mulher.
- Mas como que é exa periquita...peliquita? É, é, é...igual pipi?
- Não. É diferente.
- Como tia, como? Me mostla.
- Ela não voa.
No momento em que dou risada da minha explicação ridícula, meu sobrinho sai pela casa gritando para todo mundo que a minha periquita não voa e pedindo explicações, pois ele quer saber por que a peliquita não voa. Do meu quarto escuto minha mãe.
- Larissa, o que você tava falando pro Enzo?
- Sobre os sexos, mãe. Sobre os sexos.
Em tempo, é melhor eu esclarecer a cena deste discurso. Não, ninguém estava nu. Eu estava no meu quarto escrevendo, no computador. Meu sobrinho me espiava da porta, meio que escondido nela. A cena é típica. Ele vem correndo até meu quarto e pergunta o que estou fazendo, se digo que estou trabalhando, ele fica quietinho, por um tempo breve, atrás da porta me olhando. Mas, dessa vez, ele nem me chamou. Ficou me fitando por uns 10 segundos, o que é muito tempo para uma criança ativa e inquieta como ele, e disparou a pergunta, seguida de outras questões...como descrevi acima.
sábado, 8 de janeiro de 2011
Microconto de inveja
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Quando se tem senso de humor...
- Larissa! Não é vc que tá presa por tráfico de drogas, né? A matéria de O Diário fala só "uma conceituada jornalista de C. Mourão"...
Demoro para responder.
- Larissa! Vou interpretar a falta de resposta como sendo "sim".
- kkkkkkkkkkkkkkkkk. Seu bobo.
- Vc tá ocupada com o quê? Interrogatório?
- Capaz, imagina eu amante de traficante? Se é pra ser amante que seja de alguém melhor né? Hahuahuaha. Fique tranquilo, não sou eu.
- Loucuras de amor! Pense na adrenalina.
Eis que ele lembra de quando fechou o bar aqui da cidade, também por causa de drogas.
- Viu, o dia que fechou o Corleone ela tava lá filmando...Eu sendo revistado e a bandida filmando!
E é verdade, ele foi revistado!
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Mulher com quase 30
sábado, 1 de janeiro de 2011
Noite de ano novo
Várias espiadas no relógio. É quase meia noite. Enquanto o ponteiro do relógio parece demorar a girar, os fogos anunciam a virada. Olha para a TV, as imagens confirmam. É ano novo. Abraços, beijos, felicitações. Em cada um a expectativa de uma vida melhor. Adeus ao ano que se foi. Bem vindo o ano que chega, que seja, sobretudo, lépido. Entre os abraços, o brinde, as risadas e o barulho dos talheres daqueles que comiam, sentiu o cheiro do novo, de recomeço, exalando de si mesma e daqueles que a rodeavam. O cheiro saía da alma, não do calendário.
Feliz Ano Novo.