terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Tudo por Dolores *

João perdeu a empresa, teve que vendê-la para pagar as dívidas acumuladas quando se afastou da diretoria , de quando achou que curaria a infelicidade de Dolores com mimos, terapia e tempo disponível para ela, só ela.

João Carreira era um português que contrariava as piadinhas acerca dos lusitanos, ele era extremamente inteligente, desses homens que são bons de negócios, de multiplicar fortunas. Ele multiplicou a fortuna dele. Dono de uma empresa de ônibus, abriu mais 10 filias espalhadas pelo interior do Paraná, na década de 50.
Com a empresa crescendo e prosperando, João Carreira conquistou não só status, mas muita mordomia para a família dele, que agora tinha mais de duas empregadas para cuidar da casa grande e dois motoristas que levava ele, a mulher e os filhos para onde quisessem.
A casa grande era apenas um dos imóveis que tinham. Compraram apartamentos e construíram um condomínio modesto, desses de casas para classe C e D. João tinha lucros consideráveis com os aluguéis, mas também investia em ações, para garantir que o dinheiro não tivesse fim. Naquela época, poucas pessoas faziam cruzeiros e viajavam para a Europa. A família de João vivia em cruzeiros e quase morava no continente europeu. Era puro glamour. Os negócios iam bem. A mulher gostava da boa vida que tinha e os filhos cresciam com grandes oportunidades, com um futuro ilustre, garantia Carreira. Até Dolores aparecer.
Ah Dolores! Dolores era linda. João Carreira se apaixonou por ela no primeiro dia em que a avistou. Foi num baile da alta sociedade. Dolores vestia seu melhor vestido, que acentuava suas curvas delicadas de seu corpo mignon.
João quis aquele corpo. E Dolores, percebendo o interesse, esbanjou sensualidade e bom papo. Filha de um grande fazendeiro da cidade, Dolores era da turma da vanguarda. Tinha estudado na França, cursado artes cênicas e tentado uma vida no Rio de Janeiro, ela não combinava nadinha com aquela cidade interiorana, para onde seu pai a havia arrastado. E João achou a vida dela, o jeito dela, sobretudo ela, o máximo.
Largou a mulher, esqueceu dos filhos e foi morar num dos apartamentos que alugava com Dolores, que achava justa a decisão de Carreira, bolando planos para a vida a dois que levariam. O relacionamento durou cinco anos. João e Dolores se entediam muito bem, mas Dolores, de repente, sem motivos, achou que não era realmente feliz. Falou sobre isso com Carreira, que pagou terapeuta, que lhe deu joias e inúmeras viagens, que se afastou da empresa.
Dolores ficou com os apartamentos e com o condomínio de João. A ex-mulher e os filhos se mudaram da casa grande para uma bem pequena, viveram um tempo das ações que tinham comprado. João? João perdeu a empresa, teve que vendê-la para pagar as dívidas acumuladas quando se afastou da diretoria, de quando achou que curaria a infelicidade de Dolores com mimos, terapia e tempo disponível para ela, só ela.
Continuou na empresa como motorista. De dono das 10 - fora a sede - empresas de ônibus para motorista de uma das empresas. Hoje, com mais de 60 anos, ainda trabalha como motorista de ônibus da empresa que no passado foi dele. De vez em quando visita a ex-mulher e os filhos. Da Dolores não tem mais notícias, nunca mais a viu, desde que o abandonou, levando seus últimos bens. Mas, só de se lembrar dela ou pronunciar o nome, ele suspira. Faria tudo de novo por Dolores, afirma.

*História verídica. Achei João burro, extremamente burro. Gostei da Dolores, quis ser tão hipnotizante quanto ela, claro.

Um comentário:

  1. O coração tem razões que a própria razão desconfia. Vai entender. Não concordo, também, mas enfim...

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Porque quem comunica se trumbica.