segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Vai e vem.

Uma palavra simples e juvenil caracteriza o relacionamento deles: ioiô. Perderam as contas de quantas vezes tinham terminado e depois retomado o namoro, se é que podiam chamar aquilo de namoro. O vai e volta era tão frequente que mesmo separados sabiam que estavam juntos e mesmo juntos sabiam que estavam separados. Juntos ou separados, jamais estiveram no mesmo ritmo
Não eram harmônicos. Quando ela estava bem, ele não estava e vice-versa. Ela queria, ele não. Ele queria, ela não. Desconheciam a sintonia e sofriam com essa falta de rima. Mas, como juravam que o que sentiam era amor, insistiam. Empurravam a relação com a barriga.
Depois com a barriga e as mãos. Posteriormente, com a barriga, mãos, pés, pernas...Era preciso força para manter um relacionamento como o deles. Ambos tinham se tornado um vício um para o outro. Era difícil largar, abandonar aquilo que tinham criado e mantido há dois anos.
Algumas semanas eram amorzinhos. Dengos, chamegos. Bem me quer. Nos outros dias eram mal me quer. Brigavam feio, insultavam-se. Despediam-se. Curtiam outras bocas, outros corpos, outras brigas. Não demora e voltavam um para o outro. A saudade os deixava mais leves, o que favorecia a relação. Até acontecer alguma desavença.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Uma mola encolhida

Tem dias que a gente acorda se sentindo minúscula demais, sem graça demais, limitada demais. Nesses dias as horas demoram a passar e o embrulho no estômago parece que vai ser para sempre. Dá náuseas. O mal estar faz parecer que nada presta, que nada vale a pena.
Para onde vou? O que estou fazendo? Isso tem futuro? Eu mudo de vida? De estilo? De jeito? Por que eu sou assim? Qual é o problema? Existe solução? Mas eu fiz a escolha certa? Eu, você ou ele? Nenhum? Todos? Você? Ele? Eu? O que eu sinto, penso, quero? Se eu rezar adianta? Se eu fazer acontece? E se eu mandar tudo para aquele lugar?
Mandar tudo para aquele lugar de imediato, quando o cérebro não para de lhe fazer perguntas, parece ser a melhor opção. Então há uma sensação de alívio carregada de coragem. Que passa. Porque depois das inúmeras dúvidas sobre o que fazer e como viver, a massa encefálica lhe avisa que o melhor mesmo é esperar.
A sua parte racional afirma que a sensatez deve prevalecer. Não dá para mandar tudo à merda. Merda! E tudo fica cinza novamente. Então, você se reduz a ser aquela mola encolhida num cantinho de um quarto qualquer escuro e frio. Esperando um abraço, uma mão, uma luz, um mantra...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Bendito torcicolo

Acordou com torcicolo. Tentou virar para o lado da mulher, para que ela apertasse o botão do despertador que não parava de tocar, mas não conseguiu. Gemeu de dor. A esposa, enfim, acordou. Preocupada dirigiu o olhar a ele, perguntando o que sentia. Apontou o pescoço, ela entendeu que era torcicolo.
Como era boa nessa coisa de massagem, buscou um de seus cremes. Pediu ao marido que sentasse e começou a massagear onde doía. O homem se sentiu estranho. Ambos se sentiram um pouco incomodados. Ela e ele estavam muito mais próximos do que o habitual. Há meses não se tocavam.
Enquanto a mulher o massageava, ele aproveitava o momento para sentir a pele dela. A mão que aliviava a dor do seu pescoço lhe libertava a alma, provocando seu corpo. Lembrou de quando se conheceram, das mãos que nunca se largavam, das bocas que não se desgrudavam. Do cheiro que exalavam. Não se beijavam mais. Por quê? Ele próprio se perguntava.
A esposa deslizava a mão no torcicolo dele, o movimento repetitivo lhe trazia recordações. De épocas em que tanto a mão dela quanto a dele se lambuzava de prazer. Não visitavam mais a parte íntima um do outro. Ela também buscava respostas para essa distancia.
Sentiu vontade de se envolver nas costas do marido, de roçar seus seios nela. Desistiu. O marido quis pegar-lhe de jeito, entrelaçar suas pernas à dela. Desistiu. Não sabiam mais fazer carícias. A massagem acabou. O marido rezou para amanhecer de novo com torcicolo. A esposa pediu um milagre, para que o torcicolo se estendesse ao corpo inteiro.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Balanço de final de ano

Um recorde jamais previsto. Um desejo atendido. Uma decisão a ser feita. Um caminho para seguir. Um livro para ser lançado. Uma foto para nunca esquecer. Uma dedicatória para eternidade. Uma mensagem que salvou meu dia. Um texto que salvou a minha vida. Uma pessoa para guardar no potinho.
Uma lição já decorada. Um clássico coração partido. Um novo amor para chamar de meu. Um show para embalar a nossa história. Uma briga, duas brigas, várias brigas. O ano do autorreconhecimento, de uma carência que não tem fim, de vontades que nunca cessam. Eu tenho um plano!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sem peso na consciência

Queria ser médico para salvar vidas. Seus planos mudaram. Seria médico para se dar bem na vida. Fez especialização em cirurgia plástica. Tem clínica própria, equipamentos de última geração. Três enfermeiras trabalham com ele. Tem secretária também, que é sua amante, assim como uma das enfermeiras. Vestir-se de branco é o seu charme. Além de mulheres, de branco tem mais prestígio. Atende no SUS também, porque uma graninha a mais é sempre bem vinda.
No público, o atendimento é diferenciado, em menos de cinco minutos examina os pacientes dando-lhes o diagnóstico. Com pressa, já que ganha por paciente - quanto mais melhor -, esqueceu de verificar os batimentos cardíacos do pedreiro que reclamava de dores no peito. Não viu as inflamações na pele da menina que dizia ter fortes dores de cabeça. E ao menino que vomitava sem parar indicou soro caseiro, pois devia ser virose.
Todos morreram. O pedreiro do coração,a menina de uma doença crônica e o menino de um vírus raro. A consciência não pesou. Perder paciente é rotina médica. Só ficava sem sono quando uma de suas clientes da clínica lhe dava cheques sem fundo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Fotograma Poético

O registro do cheiro doce de verão para lembrar do sabor da saudade que fica.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Relíquia

Conheci o Fabiano através da menina que morava comigo, lá em Guarapuava. Ele era de Iretama e treinava laço e tambor em Campo Mourão, no Parque de Exposições, local que a minha amiga frequentava. Eu estava no primeiro ano de Jornalismo e ele quase perdendo o curso de Veterinária. Tinha reprovado demais.

No dia em que nos conhecemos, eu ofereci suco de limão dizendo que era laranja. O que fez ele ter certeza de que de frutas, verduras, roça, eu não entendia absolutamente nada. Não bastasse a troca das frutas, fiz pipoca, a pedidos, na panela de pressão, que era a maior panela da casa. Tampei a panela de pressão e quase matei ele e a minha companheira de casa de susto.
A partir de então, ganhei um apelido, Relíquia. Pois, de acordo com ele, poucas mulheres tinham lhe arrancado tantas gargalhadas numa noite só. Porque além de engraçada, eu tinha uma maneira peculiar de contar as minhas histórias, de falar da minha família, de explicitar meus anseios. E ele gostava disso.
Considerei-o uma Relíquia também. Porque tem um coração bom, é incapaz de fazer maldades. Talvez, ele seja o homem mais bondoso e sincero que já conheci. Uma Relíquia mesmo, de sorriso largo, um dos mais bonitos que já vi. Desde então, ambos chamamos um ao outro de Relíquia.
Foi ele quem realizou um dos meus sonhos, o de pegar carona de caminhão. Ele fazia isso com frequência e disse que um dia me chamaria para ir junto. Chegou o dia e eu entrei em um estado de felicidade intenso. Avisei que iria para Campo Mourão de carona, matando a menina que morava comigo e o dono do meu prédio de preocupação.
Deu tudo certo, em menos de 10 minutos na BR,com um pedaço de papelão escrito Estudante Campo Mourão, estávamos dentro da boleia. Tivemos o maior papo com o motorista que nos deixou em Iretama, onde conheci sua família e provei do tempero de sua mãe. Fiquei para o almoço.
Depois, ele também veio para casa, onde conheceu minha família. Minha mãe o adorou, não tinha como não gostar dele. Carregava consigo a leveza e a rusticidade de quem morava na roça, fala firme, simples, coração mole. Uma Relíquia.
Passamos uns três anos nos visitando, tanto em Guarapuava quanto em Campo Mourão. Ele terminou a faculdade antes que eu e acabamos perdendo o contato. Revi-o ontem, no meio da rua, literalmente. Eu aguardava minha mãe, quando um carro desconhecido começou a buzinar e parou no meio da avenida. Era ele, que baixou o vidro, convidando-me para entrar.
Expliquei que esperava minha mãe, conversamos menos de três minutos. Deu tempo de quase nada, só de falar que estávamos bem. Os carros atrás começaram a buzinar, dentre eles, a minha mãe. Despedimo-nos, apertando as mãos. Sem combinar, dissemos ao mesmo tempo: Saudades, Relíquia! Corri para o carro, sorrindo de orelha a orelha, contando do reencontro. Se eu pudesse guardava ele num potinho, certeza.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Satisfação

Quando um dos seus muitos amores, desses que pareciam que seria para sempre mas acabaram, dá sinal de vida, ela entra em êxtase. Não sabe ao certo dizer qual é a sensação que sente quando eles a procuram, seja para falar a toa, para contar alguma novidade ou até mesmo para admitir que sentem falta. Só sabe que é prazerosa. Recaída não é, tem certeza. Afinal, o amor se foi e após diversas mutações, virou nada. Um nada que não é de todo nada, claro.
Para ela, o amor se transformava depois do término. Virava decepção, raiva, rejeição, arrependimento, mal dizer. Tudo dependia de como era o fim. Tinha amores que se tornavam amizade, logo de cara. Também havia aqueles com gostinho de bis. Depois de um tempo, todos se convertiam na mesma coisa: nada, que não era de todo nada. Mas também não sabia denominar o que era. Talvez carinho. Quiçá saudade.
Quando a procuravam, independente do desfecho, da trama, sabia que tinham valido a pena. Era gostoso saber que era, ainda, importante para alguém que, um dia, foi muito mais que importante. Lembrar era o final feliz dela e dos seus inúmeros amores. Sentada no sofá, distraída, via TV sem enxergar o programa que passava. Neste momento, ela recordava seus amores, os mais marcantes e intensos, sempre. Lentamente, um sorriso tomava conta de sua face.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Púlpito

Hoje é o dia do preto ou do roxo.
Estou de preto. Afinal, essa coisa se ser jornalista mil e uma utilidades, cansa. Bastante. Se além de escrever os textos, você revisa, driagrama, fotografa e edita imagens, faz vídeos, mexe com site-twitter-emails, trabalha mais que as 5 horas diárias previstas pelo Decreto de Lei nº 5.452/43 (Consolidação da Leis do Trabalho – CLT), e tudo isso sem a remuneração adequada: Vista-se de preto ou roxo! Hoje é o dia em prol do aumento real e da ampliação de direitos da profissão.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

E dormir era tudo o que ela queria fazer


Ao sair do banho, pegou o creme como de costume e se sentou para espalhá-lo pelo corpo. Achava extremamente chato aquele ritual, mas necessário para a maciez da pele. Tinha um corpo bem desenhado, não era nem gorda, nem magra. No ponto. Não no ponto que ela queria, mas no ponto para quem a avistasse.
Deixou a toalha cair no chão, analisou-se no espelho, detalhe por detalhe. As coisas ainda estavam de pé. E não havia ninguém para admirá-la. Mas, vestiu sua melhor lingerie. Antes de deitar na cama, abriu a janela.
Era noite, só enxergava os faróis dos carros, os semáforos, as luzes do poste. Sozinha em seu quarto- sala- cozinha-escritório. Só o banheiro era separado. Decidiu fumar seu último cigarro, ia parar no dia seguinte, para sempre.
Enquanto fumava uma fome lhe bateu. Seu apetite estava voraz. Tinha fome de beijos, sussurros, corpo de homem. Fumou mais um cigarro. Foi para a cama. Dormir a fazia esquecer de seus desejos. Dormiu com vontade de não acordar mais.

sábado, 6 de novembro de 2010

Ai que saudade de ocê!



Era a primeira coisa que João escutava, depois de um longo tempo na estrada. Ficava meses fora, a percorrer o interior brasileiro, de norte a sul, em sua carreta. Quando voltava para casa, a mulher, ao escutar o barulho do caminhão, corria para fora. Ia ao encontro do marido, que antes de chegar ao portão, já a tinha nos braços. Grudada no seu pescoço, repetia sem parar: Ai que saudade de ocê. Ai que saudade de ocê. Ai que sauda...Oxê, pare mulher. To aqui! Ela se calava. E o puxava para dento de casa.
Enquanto João descansava, ela se metia no fogão, de onde saiam os pratos preferidos dele. Cozinhava tudo, tudo aquilo que ele pedisse, que tivesse vontade de comer. Nos meses sem ele, ficava longe do fogão. Não tinha apetite. Com ele em casa, não ligava nadinha de ficar horas na cozinha preparando suas guloseimas. Aproveitava aquele tempo dele ali, na rede, no sofá, na cama. O apetite dela pela comida e pela vida tinha voltado. Era sempre assim. Os dias com ele mais felizes, os dias sem ele, mais amenos. Sem tanta graça.
Ela chegou a sentir inveja e raiva do caminhão, porque o automóvel tinha o marido por mais tempo do que ela. Pensou algumas vezes em ir viajar com ele. Mas não dava certo. João dizia que ela era bonita demais para percorrer estradas, para tomar sol na cara e virar madrugadas. Não queria essa vida para ela. Então, num esforço danado, rodava quilômetros, sozinho.
Tinha vontade de dançar um xote, de dormir na cama, de arrancar o avental da mulher. Assim, a saudade que ele sentia rasgava seu peito. Às vezes achava que a saudade da mulher era pior, porque ela sempre estava no mesmo lugar, com o mesmo sorriso, a esperar. E a espera cansa. Entretanto, os caminhos que fazia sem ela também eram torturantes, também cansavam. Perdeu as contas de quantas vezes quis largar essa vida. Ainda não deu, quem sabe mais para frente. Enquanto isso, aproveita o aconchego de casa e o cheiro dela nele. Fica um mês ali, depois, tem que ir. Viajar de novo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O dedo na ferida

Eu não vou para o céu. Não depois de lhe despejar palavras tão duras. Eu sei, eu errei, mas esse meu jeito de expulsar tudo o que me incomoda é inevitável. Tento, engulo seco. Mas sai, às vezes sem querer, outras por querer, como forma de ser livre mais uma vez. Sabe, quando algo me sufoca, eu fico louca. Tá, mais louca ainda. Eu preciso de ar. Porque eu sinto demais. É uma das minhas fraquezas, essa coisa de sentir o dobro. Eu sinto em intensidades não calculáveis. As minhas dores, assim como minhas paixões, são demasiadamente efusivas. Queimam-me, machucam. É, em você também machuca. O problema é que sou fraca demais. Então eu fujo, procuro alternativas, miro para outros cantos. Tem vez que dá certo. Se a dor persiste? Eu a transformo em outra coisa qualquer. Não nasci para dores. A minha busca incessante é por um equilíbrio, no qual eu me permita sentir dores. Expulsá-las nem sempre é o mais sensato. Eu invejo você e a sua sanidade. Certos exageros são desnecessários, sou ciente disso. Falta eu aprender.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O destino conjugando a vida

O ônibus que o trazia atrasou. Passou horas sem notícias dele. Pensou que tivesse desistido do encontro até receber uma mensagem avisando que chegaria somente à noite. Para a noite não tinham o que fazer. A sorveteria estaria fechada, a praça seria perigosa e o colega em comum teria ido para a casa dos pais, em outra cidade.
Como era a primeira vez que estariam juntos, ambos achavam que ir a casa dela era coisa precipitada. Na verdade, ela achava que era cedo demais. Mesmo não morando com os pais, teria que apresentá-lo a companheira de casa, aos vizinhos que certamente estariam reunidos no apartamento da frente. Era melhor que não fossem para casa dela. Então resolveram circular pelos arredores.
O bairro ficou pequeno e as horas passaram rápidas. Quando se deram conta, ele tinha que partir. Beijaram-se numa rua vazia, quase sem iluminação. Quando por fim se tocaram, a chuva veio. Não se importaram muito com o céu sem estrelas e as roupas molhadas. Foi a única vez que se viram. Mas bastou, para ele e para ela.
Por um tempo mantiveram contato. Depois se perderam um do outro. Ficaram anos sem se ver. Recentemente se encontram, relembraram daquela noite de chuva. Ele a elogiou, disse que continuava linda, que seus olhos mantinham o mesmo brilho. Ela agradeceu, falou da saudade que tinha e disparou perguntas, como sempre. Queria saber de tudo, como andava a vida dele.
Agora ele era casado. Foi tirando a foto da carteira, mostrando o filho de um ano. O filho era a cara do pai e o pai um babão. Perguntou se ele era feliz. Um silêncio ficou entre os dois. Não queria aquele silêncio, indagou por curiosidade, porque na época da faculdade ele nunca falou em filhos, casamento, essas coisas. No fim ele respondeu que não tinha do que reclamar. Entendeu que ele tinha seguido o ciclo natural da vida.
Ela falou do trabalho, da família, dos amigos, dos amores. Admitiu estar solteira. Ele não acreditou. Lembrou de quando se conheceram, dos rapazes que a desejavam. Mesmo com os anos, não poderia ser diferente, deveria haver muitos homens para ela escolher, já que continuava com a mesma beleza, a mesma simpatia, o mesmo tom harmônico de voz.
Não era preciso perguntar se ela era feliz, ele via a felicidade em seus olhos. Era do tipo que sorria além da boca, com o corpo inteiro. Falaram sem parar, queriam aproveitar o reencontro. Absorver a presença do outro. Depois de falar do presente, puseram-se a conversar sobre o passado. Do dia em que se encontraram, das conversas infindáveis que tinham, da companhia que um fazia ao outro nos dias em que a melancolia os visitava.
Por fim, o celular dos dois tocou. Ele tinha que levar o leite, ela tinha uma reunião. Despediram-se com um demorado abraço. Atravessaram a rua, em lados opostos. Saíram rindo, com a certeza de que a vida não era feita apenas de escolhas, mas de pequenos erros e um tanto de incerteza. Talvez se encontrassem daqui alguns anos de novo. Ela poderia estar casada e ele separado. Poderia ser ao contrário também. Ou nada disso.