terça-feira, 16 de novembro de 2010

Relíquia

Conheci o Fabiano através da menina que morava comigo, lá em Guarapuava. Ele era de Iretama e treinava laço e tambor em Campo Mourão, no Parque de Exposições, local que a minha amiga frequentava. Eu estava no primeiro ano de Jornalismo e ele quase perdendo o curso de Veterinária. Tinha reprovado demais.

No dia em que nos conhecemos, eu ofereci suco de limão dizendo que era laranja. O que fez ele ter certeza de que de frutas, verduras, roça, eu não entendia absolutamente nada. Não bastasse a troca das frutas, fiz pipoca, a pedidos, na panela de pressão, que era a maior panela da casa. Tampei a panela de pressão e quase matei ele e a minha companheira de casa de susto.
A partir de então, ganhei um apelido, Relíquia. Pois, de acordo com ele, poucas mulheres tinham lhe arrancado tantas gargalhadas numa noite só. Porque além de engraçada, eu tinha uma maneira peculiar de contar as minhas histórias, de falar da minha família, de explicitar meus anseios. E ele gostava disso.
Considerei-o uma Relíquia também. Porque tem um coração bom, é incapaz de fazer maldades. Talvez, ele seja o homem mais bondoso e sincero que já conheci. Uma Relíquia mesmo, de sorriso largo, um dos mais bonitos que já vi. Desde então, ambos chamamos um ao outro de Relíquia.
Foi ele quem realizou um dos meus sonhos, o de pegar carona de caminhão. Ele fazia isso com frequência e disse que um dia me chamaria para ir junto. Chegou o dia e eu entrei em um estado de felicidade intenso. Avisei que iria para Campo Mourão de carona, matando a menina que morava comigo e o dono do meu prédio de preocupação.
Deu tudo certo, em menos de 10 minutos na BR,com um pedaço de papelão escrito Estudante Campo Mourão, estávamos dentro da boleia. Tivemos o maior papo com o motorista que nos deixou em Iretama, onde conheci sua família e provei do tempero de sua mãe. Fiquei para o almoço.
Depois, ele também veio para casa, onde conheceu minha família. Minha mãe o adorou, não tinha como não gostar dele. Carregava consigo a leveza e a rusticidade de quem morava na roça, fala firme, simples, coração mole. Uma Relíquia.
Passamos uns três anos nos visitando, tanto em Guarapuava quanto em Campo Mourão. Ele terminou a faculdade antes que eu e acabamos perdendo o contato. Revi-o ontem, no meio da rua, literalmente. Eu aguardava minha mãe, quando um carro desconhecido começou a buzinar e parou no meio da avenida. Era ele, que baixou o vidro, convidando-me para entrar.
Expliquei que esperava minha mãe, conversamos menos de três minutos. Deu tempo de quase nada, só de falar que estávamos bem. Os carros atrás começaram a buzinar, dentre eles, a minha mãe. Despedimo-nos, apertando as mãos. Sem combinar, dissemos ao mesmo tempo: Saudades, Relíquia! Corri para o carro, sorrindo de orelha a orelha, contando do reencontro. Se eu pudesse guardava ele num potinho, certeza.

2 comentários:

  1. A vida é um relicário. Resta-nos enxergar as relíquias. E você, Lari, ah você tem um jeito pra isso hein... Linda...

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  2. amiga ate ue lembrei de voce comentando sobre ele...

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Porque quem comunica se trumbica.