tag:blogger.com,1999:blog-28419499503198698042024-03-12T22:20:50.584-07:00Lapsos on lineExistem dois tipos de pessoas no mundo: as que usam guarda-chuva e as que não usam.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.comBlogger197125tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-37720009197440724882016-04-25T12:45:00.003-07:002016-06-16T06:22:59.191-07:00Xeque-matePercebeu-se peça fora do tabuleiro. Teria o jogo a colocado para fora ou ela teria feito a jogada para cair fora? Quiçá as duas coisas. Sem jogadas ensaiadas e decoradas, sem as manhas manjadas, sem a técnica tão bem aperfeiçoada, sem as casas bem divididas, as peças e as regras, que, até então, faziam-lhe tanto sentido, desconfiguraram-se. Desfez-se a jogadora, fez-se a pessoa. Diante de um universo inteiramente novo, a dúvida apertava. Há vida além do tabuleiro? Lá fora o mundo a aguardava, com sua imensidão de possibilidades e combinações inimagináveis, pelas quais a prontidão tão exercida outrora, daria espaço para uma rotina de embaraços. Daria conta de laços e nós tanto quanto dava conta do quadrado em que se deslocava? Decretou xeque-mate às inquietações e fez sua última jogada ensaiada. Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-52264805877612508672014-08-03T11:48:00.000-07:002014-08-03T11:48:39.486-07:00Para você eu digo sim.Foi um sim de súbito, mas com toda a certeza. De peito aberto para uma vida a dois, uma vida que você desde o início, quiçá desde o primeiro encontro, me convidava a sentir e vivenciar. Esse convite sempre foi preciso e sereno, proposta que me soava indecente, a princípio, mas que depois se tornou fundamental e extremamente natural. E como acontece desde o nosso primeiro beijo, houve encaixe. A vida foi se encaixando e você se encaixando em mim, e eu em você. Fez-se união. Uma união que, daqui a três meses será oficializada: com a benção de Deus, dos familiares e amigos. Há um ano eu disse sim, para você. Com amor.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-3015616752550847242013-03-25T15:35:00.000-07:002013-03-25T15:35:24.393-07:00TibumO vento uiva na curva. Teria ele dito algum palavrão pela velocidade com que virou ou aquela expressão máxima de quem se desvia era um vocábulo de alívio de quem, enfim, encontra-se? De repente, o vento que zumbia parou. A partir de então, pela fresta da janela, só quem falava era a brisa. Brisa que se encontrava com o restinho de sol. E as voltas que a brisa dava em torno daquele último suspiro de luz parecia gracejo. Gracejo invisível, quase imperceptível. Só se sabe o que vento diz e se vê o que a brisa faz quem mergulha na simplicidade. Tibum.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-7131378132773443082013-01-17T19:39:00.002-08:002013-01-17T19:39:09.308-08:00Os três verbos dos 28 Os 28 é diferente dos 20 anos (meio óbvio!), quando você ainda deixa uma pessoa entrar e permanecer ao seu lado, sem saber ao certo se quer ou não. Aos quase 30, o desejo é mais preciso e a distância se torna fundamental para determinado tipo de gente. Para os incômodos, os desesperados e mal resolvidos: ignorância. Aos poucos, torna-se evidente que ninguém é obrigado a aguentar aquilo que não se aguenta. Se está cheio, larga mão. Abandona e recomeça, mais uma, duas, três vezes – com sensatez! Se não estagnar, a vida, naturalmente, segue seu curso. E o caminho que se percorre pode ser diferente do planejado. Mas e daí? Outro rumo. Quem disse que é pior?! Há oportunidade. Com 28 anos, sabe-se disso, porque a ânsia diminui, tanto a ânsia de chegar logo ao “pódio” quanto a ânsia que o novo provoca. Mudanças, às vezes pequenas e outras grandíssimas, são necessárias. Também, aos 28, aprende-se que aquela coisa da atração é factual: brigas atraem brigas, mau humor atrai mau humor e por aí vai. Simplicidade atrai simplicidade! Logo, simplificar é o verbo que impera, quando se está mais próxima ainda dos 30. Depois vem o desencanar. Desencanar-se de si mesma. De corpo, alma e coração. E dos outros. Afinal, cada pessoa é um universo, que sente e pensa de maneira única. Então, a felicidade, de verdade, só diz respeito a quem a sente. E ponto! Outro verbo bem presente aos 28 é o refutar. Depois de algumas experiências, sua conjugação passa a fazer sentido realmente. Tanto semântico, quanto prático. Aos 28 anos fica evidente que temos a vida que queremos. Pessoas, trabalho. Coisas.
Simplificar, desencanar e refutar. Até os 30 e para além deles!
Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-76660543873464604882013-01-02T05:13:00.000-08:002013-01-02T05:13:08.759-08:00Vi-ra-daDiz que o Ano Novo, de verdade, acontece quando a gente quiser. Pode ser no começo do ano, no meio ou no fim. Independe de data, da cronologia. Mas eu preciso da virada, do dia 31 de dezembro para o dia 01 de janeiro. É nesse intervalo de tempo, entre o ano que se despede para o ano que nasce, que eu ganho gás. Para mudanças, para novos planos. Também, esse marco, é um momento de retrospectiva. De lembrar as perdas e os ganhos do ano que está acabando. De, mentalmente, fotografar os melhores momentos. Os melhores abraços, os melhores sorrisos. De visitar dores, de um mal entendido, de uma briga, de um arrependimento, de uma perda. Duas perdas. É a tentativa, quase sempre falha, de compreender o incompreensível. De divagar em mim mesma, refazendo os caminhos e rostos que passaram durante o ano, por mim. Para mim. Oração. Mais uma oração, duas, três. Eu rezo, para que o ano inicie bem. Que o durante seja bom e que o ciclo se conclua com mais prós do que contras. É quase meia noite. Uma pitada de medo com alegria. São os fogos e a energia única que só o Ano Novo, do calendário, tem.
Feliz Ano Novo!
Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-49459740046181171502012-12-06T14:54:00.000-08:002012-12-06T14:54:13.930-08:00Capítulo 1Ai. O sussurro curto e baixo marcou a primeira vez. Estava leve, com o olhar de quem não está onde de fato se encontra. E enquanto o namorado se atentava ao preservativo, ela prestava atenção ao ambiente que parecia vibrar, depois das pernas não mais bambas. Ainda nua, reparou no lençol, que nem estava sujo, como disseram a ela que ficaria. Também ninguém fumou, porque, claro, nem um e outro apreciavam o cigarro. E ele não dormiu, como previu a maioria. Após o gozo, deitaram juntos, respirando fundo. Ou era o silêncio que fazia parecer que ambos respiram fundo. Ele, então, ligou a TV e buscou alguma coisa para assistir, ficou pulando de um canal para o outro. E de um canal para o outro ela ia montando a cena da qual acabara de ser protagonista. Quis tomar o controle da mão do namorado e o convidar para a próxima cena. Conteve-se. Ainda era preciso decorar alguns capítulos...Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-56623021155515576702012-10-30T01:53:00.000-07:002012-10-30T01:53:23.730-07:00O Grande DiaEle gargalhou no primeiro encontro. Foi depois de escutá-lo rindo (uma das risadas mais gostosas que já escutei) que me senti presenteada pela vida, por tê-lo por perto. E gostei, logo de cara, do encontro – que mal havia iniciado. Como o enredo da peça de teatro era uma comédia, era inevitável o riso, de ambos. De todo o público. Mas o dele era especial. Destacava-se no meio da plateia. O que, por vezes, me fazia rir mais ainda, porque, além da peça, eu podia gargalhar da risada dele. Doeu minha barriga e eu desejei aquela risada para mim. Que viessem muitas outras. E foi por causa da gargalhada (e não por ele ser um moreno alto, bonito e sensual) e do ambiente em que estávamos (naquele primeiro dia de nós dois juntos) que eu pensei que poderia passar o resto dos meus dias com ele. E, desde então, a vontade só aumenta.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-13629931561107128352012-10-20T14:52:00.002-07:002012-10-20T14:52:43.696-07:00Francisco e TerezaChamam-se de amor. Amor para lá, amor para cá. Amor com bom dia, boa tarde e boa noite. Mas sem diálogo. Amor de dividir as refeições e garrafa de vinho, como se não estivessem na mesma mesa, incomodados com o silêncio ininterrupto produzido somente por pessoas que já se conheceram, mas que se perderam uma da outra. Amor de ver filme juntos mas separados. De intimidades, de usar o mesmo banheiro com a porta aberta e de tirar a roupa sem fazer carícias. Amor de dormir juntos, nunca de conchinha. Amor de retratos espalhados pela sala, nas paredes do corredor. De pose. Amor registrado em cartório, confirmado na igreja e atestado com os filhos. Mas sem resquícios no dia a dia. Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-53412732896835704122012-08-16T04:29:00.000-07:002012-08-16T04:29:15.057-07:00Preciosidade
Toda manhã, quando escovava os dentes, aproveitava para espiar o ‘namorido’ pelo espelho do banheiro. No momento que o encarava escondida, ele dormia profundamente, esparramado pela cama, ocupando o espaço que até então ela estava. Mirou o relógio para ver se ainda dava tempo de tomar o café. Tranquilo. Aos pés dela, ainda descalços, Chocolate, o cachorro. Cuspiu a pasta e mandou que Chocolate fosse para ‘caminha’. Esquentou o leite no microondas e tomou uma xícara. Terninho, brincos e pulseiras. Vestiu o sapato. Uma maquiagem básica feita no espelho do corredor. Voltou para trás e centralizou o porta-retrato com a foto do abraço triplo (dela, da mãe e da irmã). Cuidadosamente, para evitar barulho, fechou a porta do apartamento e deu três giradas na chave. Fechou os olhos e respirou fundo. Satisfação! Felicidade é mesmo coisa simples, certificou-se. Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-44018583759366966672012-04-26T16:21:00.002-07:002012-04-26T16:21:28.282-07:00Silêncio gostosoParece cócegas! Dessas que mexem com o corpo inteiro e que se desmancham em riso. Riso expressivo, que deixa os olhos pequenininhos, porque a boca sorri largo, como que querendo alcançar as orelhas. Às vezes parece um “plim”. “`Plim” que dá da cabeça até o dedão do pé. E tem ocasiões que é como andar nas nuvens, uma paz, uma leveza. Em certos momentos, arde. Queima a alma até suar o corpo ou o corpo queima até suar a alma? Diante de tantas sensações, por vezes simultâneas, eu me calo. Não encontro o vocabulário adequado. Mas não importa. Porque até no silêncio você está comigo. E me salva, de várias formas.
<iframe width="420" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/2I7Z4Bq6Whs" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-3418636415763313842012-03-04T07:48:00.000-08:002012-03-04T07:51:25.563-08:00Tudo alinhado, demais.Nenhuma almofada fora do lugar. A vermelha ao lado da amarela que está do lado da marrom, seguida de mais uma vermelha. Todas no centro do sofá de canto. No chão, o brilho chama a atenção. Sobre a mesa de jantar, apenas o vaso com as flores. Não há cadernos, chaves, revistas ou mesmo cartas, que antes eram deixados pela mesa, fazendo-a parecer muito mais um móvel de escritório do que uma mobília de sala de jantar. Ao lado da porta de entrada, perto do tapete, nenhum sapato. Ainda se tira o calçado para entrar em casa, mas ninguém mais o deixa fora da sapateira. Casa limpa e arrumada, sinônimo de ausência e silêncio. Foi até a sapateira, pegou uns calçados e os deixou no pé da porta. Depois, espalhou papéis dos mais diversos sobre a mesa. Também jogou uma almofada no chão e desalinhou as demais, que ficaram perdidas uma das outras no sofá. Disfarçava a saudade, simulando a bagunça de outrora.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-74240252476404279702012-02-26T17:46:00.000-08:002012-02-26T17:49:26.844-08:00RemorsoAcorda às 6:30. Toma banho, veste a roupa, senta para o café. Das 08:00 às 12:00, trabalho. No horário de almoço, visita aos clientes, banco, uma olhada nas lojas. Volta ao trabalho, das 13:30 às 18:00. Em casa às 18:30, toma banho, veste a roupa, come. Vai para o computador. Checa e-mail, manda e-mail, lê as notícias, enquanto conversa no Facebook. Ainda tem que terminar de escrever o projeto, concluir o planejamento, verificar as propostas e confirmá-las. Termina as atividades perto das 21:00. Assiste um pouco de TV, vê o namorado. Às 23:00 está na cama, desacelerando, retomando o dia e planejando o que vem. Não conversou com os pais, não telefonou para os avós. Também não respondeu a mensagem do amigo, assim como não brincou com o cachorro. E ainda faltou pagar uma conta, colocar a ideia nova no papel, ir ao advogado e começar a tal da atividade física que ainda nem escolheu qual será. Se o dia tivesse mais que 24 horas, o remorso seria menor?Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-65839039096724659732012-01-18T05:28:00.000-08:002012-01-18T08:39:20.759-08:0027 janeirosMandela ficou 27 anos preso. É muito tempo! Uma vida, a minha vida. E falando assim, em 27 anos de idade, nem parecem muito. Vinte sete anos. Vin-te se-te, ainda mais próxima dos 30. Existem listas do que se fazer antes dos 30 anos e eu ainda não fiz a minha, embora tenha em mente alguns itens. O medo de parte deles ficar só na vontade é grande, por isso o temor a cada aniversário. Daí, um friozinho na barriga, como esses que dão de andar de montanha-russa, acompanha-me durante o dia do meu nascimento. O friozinho é abafado com a sensação gostosa de mais um ano de vida. É a estreia da nova idade a ser pronunciada. E toda estreia é especial. Quantos anos você tem? Vinte sete anos! Soa tão natural, mesmo que alguns se assustem. Feliz ano novo, para mim.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-31062329628271751682011-12-09T16:05:00.000-08:002011-12-09T16:07:56.619-08:002011/2012Amigo secreto, presentes para a mãe, irmão, sobrinho. Panetone no café da manhã, árvore de Natal na sala. A saudade quase cessada com a gente que vem chegando de carro, ônibus, avião. Uma alegria tímida, querendo explodir na virada do ano. Uma retrospectiva mental . Uns projetos concluídos, outros em desenvolvimento e alguns nem no ínicio. Listinha de realizações para o novo ano. E você aqui, mesmo sem saber seu paradeiro. Suspeito do céu. E, sem querer, lembro da partida. Ainda dói 2011 em mim, por você. E dá frio na barriga, por 2012.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-62210861415191022011-11-29T18:16:00.000-08:002011-11-29T18:19:55.460-08:00PrecePouco, mas o suficiente para querer que permaneça por um período longo. Quiçá interminável. De olhar para frente e desejar a sua mão na minha. De acordar já pensando em você e repetir o pensamento à noite. Rir a dois é melhor, de doer a barriga e pedir figa. Fico boba. E até duvido que você exista. Belisco. É de verdade, respirando numa frequência irresistível. Além do encaixe em mim. Que os trinta dias sejam apenas uma prévia do bem que você me faz.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-74614970317621954252011-11-02T10:01:00.000-07:002011-11-02T20:52:51.343-07:00MentirinhaQuando a moça bonita se aproximou, não imaginava que a convidaria para um almoço no restaurante do outro lado da rua. Surpreendeu-se com a atitude. Há anos estendia a mão naquela esquina e nunca havia recebido tal convite. Talvez as rugas a tivessem ajudado. A piedade é maior para velhinhas que mendigam, concluiu. Enquanto atravessavam a rua, a moça bonita se explicava. Disse que ela lembrava a avó, que morreu há pouco tempo. É o mesmo tom de pele, o mesmo cabelinho cinza escondido num coque!, contava a moça bonita toda empolgada. A velha mendiga apenas sorria, sem jeito, sem responder nada. Refletida na janela do restaurante, hesitou em entrar. O reflexo lhe mostrava tantas coisas, inclusive que não era apta para o ambiente onde a levavam. A saia bege que descia até a canela tinha uns furinhos que, por mais que fossem remendados, insistiam em aparecer. Bege quase branca que contrastava com a blusa de lã pink, que lhe foi doada recentemente. Mas o que mais a incomodou mesmo não foi a roupa, mas a falta de um sapato fechado. O chinelo de dedo não escondia suas unhas sujas, de quem passa horas e horas caminhando pelas ruas. Num vai e vem curto, mas sem fim. Como ontem tinha chovido, debaixo das unhas ficou terra. Até esfregou quando chegou em casa, mas por não ter a força de outrora, não conseguiu tirar toda a sujeira. E o tempo não foi bondoso com ela, as rugas na sua face indicavam muito mais idade do que realmente tinha. Tímida, deu um passo para trás. Mas a moça bonita, num gesto natural, sugerindo apoio e compreensão, pegou-a pelo braço. Entraram juntas no restaurante. Durante o almoço, a moça bonita a entupiu de perguntas, além de comida, claro. A velha mendiga contou que morava distante, quase fora da cidade. Cuidava dos netos, cinco. Porque a filha tinha morrido. Depois que viuvou e sem forças para continuar na fábrica onde trabalhou por anos e anos, foi para as ruas. Fixou-se na esquina e a apontou da janela do restaurante. Seu trabalho não lhe trazia muito orgulho. Estender a mão à espera de esmola nunca esteve em seus planos. Mas aceitou o destino, visto que não tinha muitas alternativas. A moça bonita se disse sentida. Contudo, achou muito digna a velha mendiga que cuidava de metade de uma dezena de netos. Não devia ser fácil, pensava. Entristeceu-se. A velha mendiga, ao se despedir, rezou para moça bonita nunca descobrir a verdade. Pois a vida que tivera era muito mais triste do que contara. Preferia mentir sua história a pronunciá-la ou mesmo escutá-la. Posicionou-se na esquina, estendeu a mão. Ali, embora com certa vergonha, sentia-se melhor.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-75360887964280262352011-10-26T11:26:00.000-07:002011-10-26T11:56:23.467-07:00A caneta.<p class="MsoNormal">Eu estava lendo o livro, concentrada. Enquanto ele me rodeava, pedindo atenção. Atenção que eu negava. Até que ele me perguntou sobre o que era o livro. Numa tentativa desesperada de garantir a atenção, ele se mostrou interessado na minha leitura, aos quatro anos de idade! Eu disse que era livro de adulto. E ele continuou perguntando. Quem estava dentro do livro? O que acontecia? Foi chegando mais perto. Cercou-me. Sentou do meu lado. Com os dedinhos ia indicando palavras e perguntando o que elas significavam. Eu não resisti. Peguei a caneta marca texto, girei minhas mãos, transformei-me numa feiticeira e o transportei para dentro da obra. Enzo Gabriel, cara de pastel, eu quero você dentro desse livro de papel! O sorriso dele foi de orelha à orelha. Ele me pediu socorro, disse que tinha muito adulto dentro do livro, que as palavras estavam o afogando e que a vírgula queria matá-lo. Eu virava as páginas e ele virava junto. E a cada página virada, uma viagem. Uma nova aventura. Até que ameacei fechar o livro. Tia não! Se você fechar, eu fico aqui <i>dentlo</i> para <i>semple</i>. O rosto assustado indicava a angustia dele. Para sempre é muito tempo. Tá, sai daí Enzo. Ele sai faceiro, toma a caneta das minhas mãos e transforma coisas em sapos, gente em monstros. Há duas semanas que não encontro minha caneta...</p>Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-68351600905179845322011-10-21T05:19:00.000-07:002011-10-21T05:21:56.053-07:00EscolhaPartir parecia tão fácil, uma alternativa madura e ao mesmo tempo divertida. Ares novos, pessoas novas. Eu gosto disso. Mas eu também gosto de rotina. Como uma boa capricorniana, eu sou sistemática e gosto de me sentir confortável num ambiente onde eu já conheço todos. E todos são tão bons. E eu penso em cada rosto que eu vou deixar de ver, em cada espaço que vai ficar nos abraços, em cada palavra que não vou escutar mais. “Tia” é elogio e ouvir por telefone não será a mesma coisa. Lidar com a saudade é penoso para mim, sempre foi. Acho que é por isso que, de uma maneira ou de outra, sempre trago quem eu gosto para perto. Ninguém entende o motivo de eu ficar. Às vezes nem eu. Eu estava preparada para partir a qualquer momento, mas agora a decisão pesa. O coerente é eu ir, sim, eu sei. E eu sempre faço o que é coerente, não é mesmo? Mas, a minha vontade é ficar. Aqui tem uma lista sem fim de prós. Lá? Tem, mas eu finjo que não tem. Aqui. Aqui fala tão forte em mim.<br /><br /><iframe width="400" height="301" src="http://www.youtube.com/embed/_cIbyOVYTYQ" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe>Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-36862348609736739492011-10-11T11:51:00.000-07:002011-10-11T11:58:46.085-07:00Coisa de adulto<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeqWhpsgh-6w_5pvGyO5xnRexUrSPTBU0op4HKrymm2HSltZCYWIZOA0eI2T-PlFhjs2Nxat4v8S1re5pH3EyC8JeWgX-0z9EDkl7ovYKYNdzzHNrTer6yJHL40miCWL28WKg1FVwe3-C-/s1600/mulher+pensando+na+janela.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 297px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeqWhpsgh-6w_5pvGyO5xnRexUrSPTBU0op4HKrymm2HSltZCYWIZOA0eI2T-PlFhjs2Nxat4v8S1re5pH3EyC8JeWgX-0z9EDkl7ovYKYNdzzHNrTer6yJHL40miCWL28WKg1FVwe3-C-/s400/mulher+pensando+na+janela.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5662310799422449698" /></a><br /><br /><br />A gente pede uma porta e o que abre é uma janela, com vista para um lugar bem diferente daquele que imaginamos. E diante da porta ainda trancada, fica a dúvida: pular pela janela ou girar a maçaneta? A gente até gira a maçaneta, mas a porta está chaveada. Então, olhamos pela janela, analisando a vista. Pode ser que não seja tão ruim. Nem o lugar e, quiçá, nem as pessoas. A gente respira fundo, suporta o frio que dá na barriga e que sobe seco dando nó na garganta. E reza, para que tudo dê certo. Porque é assim que adulto vive. De renúncias, dúvidas e apenas uma certeza. Somos aquilos que esolhemos ou, por vezes, aquilo que nos é permitido ser por um momento.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-19731479631403510842011-10-03T08:02:00.000-07:002011-10-03T09:54:08.900-07:00EncruzilhadaEle notou primeiro o abismo que se instalou entre os dois. Não a procurava mais debaixo dos lençóis e nem fora deles. Ela fingia que era tudo como antes, temia reações. Não estava preparada para um término e nem mesmo para um recomeço. Indecisa, simulava normalidade. Talvez numa noite qualquer ou numa manhã de domingo os dois voltassem a se falar e se olhar. Era um palpite. Na verdade muito mais esperança do que palpite. Na alegria e na tristeza? Ele refletia sobre o juramento que nunca fizeram, mas que une a maioria dos casais. Não casaram. Foram morar juntos, amar-se bastava à época. Agora ele acha que podiam ter feito o juramento. Não sabe explicar o motivo, mas acredita que tem um peso maior quando duas pessoas se unem sabendo que devem se amar na alegria e na tristeza. Se pudesse, teria casado e jurado que a amaria na alegria e na tristeza. Contudo, na frieza, jamais. Sem saber, ela concordava com ele e não sabia como quebrar o gelo da relação. Se ela o amava? Ah, sim. Só que de vez em quando se esquecia. E o mesmo acontecia com ele. Há um momento em que os casais se perdem e que, mesmo juntos, seguem por direções opostas. Ele e ela sabem disso e torcem por uma encruzilhada. Que pode não aparecer.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-40716437886170011902011-09-23T07:45:00.000-07:002011-09-23T10:53:41.898-07:00Bicho-papãoEu assusto os moços mais jovens. Eles, normalmente, acham que eu tenho entre 19 e 23 anos. 19 anos! Então, começa o diálogo. Jornalista formada. Recém-formada? Não, graduada há 4 anos, praticamente. Sou tia também. Buh! Susto. É engraçado. Os homens se intimidam com mulheres mais velhas. Eu acho graça. Só ainda não descobri se é vantagem ou não ter imã para calouros. Nada contra moços mais novos, que fique claro. Com os mais velhos acontece algo parecido. O problema com esses é um pouco mais agudo, porque as conversas que utilizam para a aproximação são limitadas. Destinadas às garotas de 15 anos. E eu aprecio bom papo. Eu tenho 26 anos. Nossa, jurava que era bem menos. Pois é. Aí até adequar a conversa à idade apropriada, foi-se a chance de haver interesse. Porque eu desanimo fácil. E eles também. A minha idade me complica. E eu me complico, mais ainda.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-10616998938963149242011-08-31T06:21:00.000-07:002011-08-31T18:03:09.080-07:00CheirosinhoO vento intrometido passou pela fresta da janela e fez arrepiar os poucos cabelos que lhe restaram. Estava sentado na poltrona da sala cheia de filhos, netos e bisnetos, quando o vento, além de movimentar os fios de cabelos, levou sua fragrância a quem estava por perto. Mas antes mesmo da brisa, a família já tinha percebido o perfume. Elogiaram. Ele, tímido e ainda sem jeito, agradeceu com um riso sem graça.
<br />Há anos não usava uma colônia e por isso as borrifadas que deu sobre o pescoço deixavam-no, embora cheiroso, desconfortável. Por um momento até achou que tivesse escutado um espirro, mas não. Ninguém espirrou. Queria mesmo era ter escutado um espirro, daqueles bem fininhos, curtinhos. Atchim! Era assim que a esposa reagiria. E escutar um espirro que não existiu o reportou para o primeiro encontro, quando pôde chegar pertinho dela.
<br />Ela, de uma beleza singular. De nariz arrebitado, que rimava com o resto do rosto perfeitamente emoldurado pelos cabelos negros ondulados que lhe caíam até a altura dos ombros. Seduzido, quis chegar mais perto ainda da moça que não o deixava mais dormir. E foi por chegar mais perto e querê-la por perto que abandonou o uso de colônias. Ela era alérgica a qualquer cheiro, dos cítricos aos doces, dos amadeirados aos florais.
<br />Não teve outro jeito se não abandonar os frascos, até o mais minúsculo que, à época, custou-lhe quase todas as suas economias de um ano. Se hoje estava perfumado, era porque a mulher não estava mais ao seu lado. Até que a morte os separe. Foi só assim que ficou longe da amada. No dia seguinte, deixou a fragrância de lado para não escutar espirros.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-14113666889291934352011-08-06T06:15:00.001-07:002011-08-06T06:17:26.686-07:00A fruta nunca cai longe do péEu tão dona da razão, você tão dona do coração. Eu, um vulcão em erupção. Você, um mar sem onda. Você, a paciência que nunca tive. Eu, o imediatismo (aquela coisa de sem rodeios e de preferência já – agora) que você dispensa. Será efeito de nossas épocas? Pois é, até nisso a gente não combina. Nossa diferença de quase 30 anos de idade colabora para que pensemos de maneira tão oposta. E nessa coisa de sermos tão avessas, a gente se preocupa demasiadamente. Eu com você e você comigo. Você questiona as minhas escolhas, eu não entendo as suas. Daí que a gente se preocupa, que a gente coça a cabeça, coloca a mão no queixo. Depois desses movimentos de quem busca comprensão, o silêncio. Uma olha para outra. Você tenta se encontrar em mim e eu em você. Alguma coisa temos em comum. Temos de ter! Mas a gente ainda não achou essa parte em comum. A semelhança externa a gente vê todo dia. Eu vejo você no espelho e você me vê no seu espelho. Quiçá seja isso. Eu uma parte adormecida de você, aquilo que você nunca foi por algum motivo. E você uma parte do que eu ainda vou ser, por algum motivo.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-70343120354607675462011-08-04T15:39:00.000-07:002011-08-04T18:28:58.334-07:00Microcrônica de comercial de margaridaTodo mundo em volta da mesa e ele me diz, sussurrando, como quem conta um segredo, escondendo a boca com as mãos: “Pirata”. Era para passar para frente. Passo para meu avô, que passa para a minha mãe, que passa para minha cunhada. “Cadê meu pai?” (Está se arrumando para aula). Telefone sem fio. Entre uma mordida no pão francês e o gole do café, a gente sussurra as palavras dele no ouvido do outro. Elefante, Pipoca, Carrinho, Huck. O café de fim de tarde e quase noite, a nossa janta, fica com gosto de filme de final feliz*.<br /><br /><span style="font-size:78%;">*É, eu sei. Sou tia babona.</span>Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2841949950319869804.post-27995001168051649302011-07-31T07:23:00.000-07:002011-07-31T08:10:55.651-07:00DesaparecidoO poste estava cheio de papel. Quase não era mais poste, mas uma espécie de outdoor barato ao alcance de qualquer olho. Do mais atento ao mais preguiçoso. Bastava não ter olhos tão baixos, desses que se escondem mirando o chão, para dar de cara com os anúncios. Sexo por mixaria. Procura-se cachorro. Desaparecido. Perca peso, fale comigo. Vejo o futuro. Não tinha nenhuma novidade. Todo dia era assim. Ao aguardar o ônibus para voltar para casa tinha a mania de fitar o poste. De longe, lia todos os bilhetinhos fixados. Pegou essa mania depois que viu a mãe do desaparecido colocando o cartaz que anunciava o sumiço. Deu dó da mulher que, em meio às lágrimas e já encurvada como quem faz força para se manter em pé, fixava a folha de papel sulfite no poste. E nem precisou olhar a face da mãe para notar sua aflição. O ambiente ficou carregado e quem presenciou a colagem do cartaz se incomodou. Só tinha três aninhos o filho. Há quatro meses, desde que viu a mãe do desaparecido, imaginava as histórias por trás dos anúncios. E toda vez que mirava o poste, fantasiava. Deu nome para o cachorro: Tobi, que fugiu porque quis. Não queria donos nem nome fofo. Simples, fugiu. Era um cachorro de madame metido a ser vira-lata. Se não foi atropelado, deu sorte! Para as profissionais do sexo, uma vida bandida. Todas bandidas, imaginava. Tão bandidas quanto acabadas. Só podia. O valor era muito baixo para o prazer que afirmavam proporcionar. Imaginava-as pelancudas e fedidas. Ou quase esqueléticas e fedidas. Não sabia porquê, mas o sexo por mixaria não lhe cheirava muito bem. Seria preconceito? Perguntou-se, mas não se deu ao trabalho de responder. Pulava para o outro cartaz. O que falava sobre peso era com certeza de um ex-gordo. Absoluta certeza. Um ex-gordo que ajudava gordos e gordas a ficarem magros e com isso ele ficava rico. Era um bom empreendimento, ainda mais com essa neura de magreza.A cigana que via o futuro? De fato era uma cigana! Um luxo! Abaixo do “Vejo o futuro” tinha “Amarro o amor”. Mandigas de amor existem desde que o mundo é mundo. E essa coisa esotérica é curiosa. Tão curiosa quanto perigosa. Mexer com o lado de lá pode não ser tão vantajoso. Sem nunca ter visto a tal da mulher que jogava búzios e tarô, apostava que era uma charlatona. Algo lhe dizia que era uma tiazona - bonita até - que não tinha amarrado o grande amor de sua vida e que, de verdade, não amarrava nada. Nadinha. Quanta bobagem!, disse a si mesma depois de ser interrompida pelo barulho do ônibus. Despedia-se do poste e dos pensamentos que o mesmo a acometia quando subia os degraus do transporte coletivo. Sentada no banco, durante o percurso, rezava para o menino desaparecido.Larissa Bortollihttp://www.blogger.com/profile/15490970609463490654noreply@blogger.com3