“Está de greve com o mundo?", eu perguntei, você riu e disse: “Você quer saber de tudo”. E riu de novo, como se eu fosse uma tola. Eu também me achei tola.
Eu fico sem saber o que fazer, sem saber por onde começar - se é que tem começo. Então, eu tento interagir na tentativa de resgatá-la de si mesma. É, eu acho que você está presa em si mesma. Mas ainda não sei se é porque quer ou porque não consegue se libertar. Não acho justo essa prisão. Você, quietinha e amuada. Murcha. Logo você que sempre foi tão expressiva, viva. Sinto falta de suas reclamações constantes e de seu mau humor instantâneo. A falta é tanta que numa tentativa desesperada eu me ponho a conversar com você, mesmo sem resposta, mesmo sem sua atenção. Eu falo bastante, faço-lhe mil perguntas, conto-lhe da minha vida, faço observações e comentários inoportunos. E continuo tagarelando até você dizer alguma coisa, rir. Nunca pensei que comemoraria por você formular uma frase de três ou quatro palavras. Quando isso acontece, de você pronunciar uma frase inteira, eu vibro! E me sinto vitoriosa por ter conseguido tal proeza. Porque agora isso se tornou proeza, não é mesmo? Falar, seu dom natural, agora é ato nobre, só para poucos, pouquíssimos e só de vez em quando, tá ficando raro. E eu me preocupo com isso. A preocupação é tamanha que me dá enjôo, dor de cabeça, ânsia. Porque eu quero entender o porquê, eu quero descobrir a causa, dar uma rasteira na medicina, que ainda não me diz o que você tem. Alguns dizem “é normal da idade” como palavras de consolo, mas não me consola. Jamais a imaginei assim, nesse estado inerte, praticamente estática. Eu já pensei em greve. Sim, em greve! Eu faço isso de vez em quando, fico de greve, sem falar, sem me dirigir a certas pessoas. Você poderia estar de greve comigo. Mas não está né? Não é só a mim que não responde, mas a todos que estão a sua volta. “Está de greve com o mundo?”, eu perguntei, você riu e disse: “Você quer saber de tudo”. E riu de novo, como se eu fosse uma tola. Eu também me achei tola. Daí eu perguntei se você estava feliz, foi quando seus olhos saltaram. E você continuou muda, calada. Eu insisti, perguntei o que sentia, se era tristeza. Então, você me deu uma resposta sabia: “A vida tem disso”. É...ninguém é feliz por 24 horas. “Felicidade eterna só nos comerciais de margarina, né?!!”. Você sorriu, fazendo carinho na minha mão. E eu corri. Corri para longe de você, para que não percebesse o quanto sou fraca. Chorei até meus olhos não aguentarem mais, até ficar com o rosto levemente deformado, inchado. É frustrante não tê-la por completo. Eu não desejei ver você desse modo. Em minhas preces sempre lhe pedi uma boa velhice. Não me atenderam. E, sinceramente, uma prece não atendida me deixa transtornada, totalmente perdida. Agora eu quero um milagre. Milagre, dizem, é mais difícil. Ai ai...
Milagres acontecem Lari (yn)
ResponderExcluirDuda!
Lari axei lindo, fiquei emocionada... Lembrei da minha vó...ela sempre fala que Nunca houve noite que pudesse impedir,o nascer do sol e a esperança. E não há problema que possa impedir as mãos de Deus para te ajudar,haverá um milagre dentro de você.
ResponderExcluirGrande Abraço..
adoro ler os seus texto...
bju
Lari, milagres são difíceis, mas são possíveis. E quem sabe você e seu jeito falante não dão uma rasteira - e logo - na medicina?! Amei o texto, flor. Beijo enorme.
ResponderExcluirO dom da palavra em uma pessoa que parece querer abracar o mundo... Queria tanto te dar um abraco daqueles de esmagar agora :/
ResponderExcluirMe sinto honrada de ter em minha vida uma pessoa tão sensível como vc...vc é mais que especial.
ResponderExcluirMilagres acontecem sim, é só acreditar!
Beijos