Até o evangélico entrou na dança. O crente é chamado de cu quente, porque aos finais de semana se dá ao luxo de beber uma cervejinha e até dá um gole na cachaça.
O gordo se ofende. Estufa o peito e se diz indignado, não gosta de ser oprimido, de ser reduzido aos seus quilos a mais. É ruim quando vai na loja comprar roupa, argumenta. É difícil para passar na roleta do ônibus. Todo mundo olha, lamenta-se. A feia também está no time dos oprimidos, dos excluídos socialmente. Para ela, beleza não põe mesa. Insiste nisso, mesmo ciente de que para maioria põe. Daí fica sem mesa, tadinha. Culpa a mídia, os padrões de beleza divulgados. O aleijado, coitado. Até rima com o predicativo que carrega. Não gosta que tenham pena, assim como não gosta de mancar, de que o ajudem a subir escadas. Precisa provar a sua independência, para aqueles que o julgam coisa mínima. A lésbica também reclama. Diz que, se pudesse escolher, seria hetero, com certeza. Não é escolha! Defende-se. A moça virgem não quer mais ser chamada de Sandy. Está cansada de ser satirizada, quase que virou devassa, que nem a musa com a qual a comparam. Até o evangélico entrou na dança. O crente é chamado de cu quente, porque aos finais de semana se dá ao luxo de beber uma cervejinha e até dá um gole na cachaça.
O gordo tira sarro do cobrador de ônibus. O cobrador fala probrema, dois real! "Menas gente aqui hoje". Que burro! A feia não quer beijar o feio. Prefere gente mais apessoada, ajeitada, arrumada. Um galã desses de capa de revista, daquela que ela tanto critica, pode ser. O aleijado, por ser de família abastada, tem nojo de pobre. Carro popular, feijoada aos domingos, troco, nem pensar. Seu esquema é automóvel importado, comida francesa, gorjeta. Humilha o motorista que dirige sua BMW. A homossexual assumida caçoa da mulherzinha. Mulher que tem jeito de mulher a enjoa. Acha o cúmulo a voz fina, o salto alto, o batom vermelho. Se for necessário até empurra. É mulher macho, mesmo! A virgem, por opção, fala mal das amigas que decidiram abrir mão daquilo que ela acredita ser o símbolo maior do amor. Ingênua, ou nem tanto, difama as amigas para a mãe, o namorado e todos os demais amigos. Até inventa transas, beijos, festas e porres. As amigas são perdidas, salienta. O evangélico não acredita na conversão do vizinho, que era alcoólico e comia toda a mulherada. O crente acha que ‘pau que nasce torto nunca se endireita’. Quiçá, se o vizinho tivesse entrado para a igreja dele, daí a salvação do pecador estaria garantida.
O gordo, a feia, o aleijado, a lésbica e o evangélico não gostam de ser estigmatizados. Mas não se importam de estigmatizar.
Amei esse texto! Lari, vc tem uma sensibilidades incrível. Parabéns!
ResponderExcluirBoa, dona Larissa. Boa demais. Todos estigmatizam... Sem dó, nem piedade...
ResponderExcluirAmei. E é vdd, né... Sentam no proprio rabo e riem do rabo alheio...
ResponderExcluirMuito bom...
ResponderExcluirLariii, muito bom mesmo, aquele gordo indignado ali do começo me lembra um certo vídeo aí. rs
ResponderExcluirDuda
Nem preciso dizer da qualidade do texto, do conteúdo, já falaram tanto...
ResponderExcluir=D
Mais uma vez amei seu texto, dona Larissa.
=D