O metro estava lotado, muita gente de pé e nós sentados, assim como vários outros. Do meu lado uma senhora sentada que com frequencia dirigia seu olhar para o senhor que estava a sua frente. Ele também a observava,descaradamente, ambos se queriam muito, havia necessidade e docilidade no olhar deles, que se desejavam desesperadamente. Entre um olhar e outro, a história, o companheirismo, a vida a dois. As maos dela denunciavam os tantos anos vividos e o rosto dele permitia-me lhes dar idade, entre os 50 e 60 anos, talvez mais. Intrigada, obsevava-os, na verdade admirava aquela vontade dos dois, de um sucumbir-se o outro, ali, na frente de todos. Vagou um canto ao lado dele. Ela pulou para o lado de lá, onde ele a esperava. Ela o entrelacou, apertando-o para si. O abraco durou uns instantes, e eu ali de espectadora de uma das cenas mais singelas que preseciei. Doce, era doce ver o casal de mais de 50 anos ainda apaixonadamente apaixonados. Ainda a dois. O abraco deles impregnou o metro de amor.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Porque o meu sonho é conhecer esse mundão de Deus
Foi na Bahia que conhecemos o Pablo, ele estava junto com o seu amigo Gaston. Dois argentinos que foram ao Festival de Verão de Salvador para assistir Gilberto Gil...um tanto intrigante, visto que por lá passam as melhores bandas de rock, pop e axé – sem desmerecer o Gil, claro, mas Pablo e Gaston ainda não fizeram seus 30 anos. Eles desconheciam a grandeza do Festival, mas a Paula fez questão de informar e de alertá-los que a qualquer momento um baiano seria capaz de roubar tudo o que eles tinham, carteira, máquina fotográfica, tênis...Os dois tremeram, literalmente. Mais relaxados, curtiram o show, na verdade os shows. E foram empurrados de um lado para o outro pela multidão que coreografava a música da Banda Eva: “Todo mundo pro lado de lá, todo mundo pro lado de cá”. Foi engraçado.
Após dois anos, vamos conhecer o país dos hermanos que estavam totalmente perdidos numa noite de tanta mistura, que, vale ressaltar, amaram. Convidamos-nos para ficar na casa do Pablito, que, muito bonzinho, não nos disse não. Pois, bem. Acho que agora é a nossa vez de ficarmos perdidas, de não sabermos o que falar e como agir. É a nossa vez de tremer, literalmente. Então, torço para encontrarmos pessoas, que assim como nós, nos informem e nos alertem dos perigos (será que têm?) que poderemos enfrentar. Tô fazendo figa para que não sejam argentinos, na expectativa de encontrar ‘guias turísticos’ que sejam italianos ou chilenos, indianos, bolivianos, peruanos. O importante é que sejam de uma nação que ainda não desbravamos, pois “quem tem boca vai a Roma”. É um tanto improvável, mas não impossível...Argentina, aí vamos nós!
Após dois anos, vamos conhecer o país dos hermanos que estavam totalmente perdidos numa noite de tanta mistura, que, vale ressaltar, amaram. Convidamos-nos para ficar na casa do Pablito, que, muito bonzinho, não nos disse não. Pois, bem. Acho que agora é a nossa vez de ficarmos perdidas, de não sabermos o que falar e como agir. É a nossa vez de tremer, literalmente. Então, torço para encontrarmos pessoas, que assim como nós, nos informem e nos alertem dos perigos (será que têm?) que poderemos enfrentar. Tô fazendo figa para que não sejam argentinos, na expectativa de encontrar ‘guias turísticos’ que sejam italianos ou chilenos, indianos, bolivianos, peruanos. O importante é que sejam de uma nação que ainda não desbravamos, pois “quem tem boca vai a Roma”. É um tanto improvável, mas não impossível...Argentina, aí vamos nós!
domingo, 20 de dezembro de 2009
Sobre a noticiabilidade do suicídio
Entre o noticiar ou não o suicídio, opto pelo não. Existe (ou pelo menos existia) um código de ética dentro da imprensa que declara que o suicídio não deve ser noticiado, que o ato não deve ser explorado, a não ser quando se trata de um caso memorável, no caso de pessoas públicas ou quando a situação é única, como os suicídios em massa. E, mesmo assim, estes suicídios devem ser tratados com responsabilidade, indo além da narração do “ele se matou com um tiro” ou “se matou por causa disso e daquilo”, há a necessidade de depoimentos de especialistas, e, principalmente, o abster-se dos aspectos sensacionalistas.
A princípio, o suicídio é de interesse de quem o pratica e de seus familiares, não havendo motivos para a propagação de tal ato, visto que não deve ser nada confortante para pais, irmãos, avós ou amigos se depararem com notas, matérias ou reportagens do ente querido, que, na maioria das vezes, se mata por problemas que até então todos desconheciam. E, por aqui, em menos de uma semana, três suicídios aconteceram. Os três muito bem noticiados, estampando as páginas de jornais, colorindo a telinha, ecoando pelas ondas do rádio ou em chamadas extremamente agressivas no monitor. Nenhum dos “auto-assassinos” era gente famosa, então, por que noticiar um suicídio?
Por que dá ibope? Porque causa imensos e incontroláveis burburinhos pela cidade. Porque o suicídio instiga a curiosidade. Não sei. O fato é que o porquê de não divulgar é mais sensato do que os vários porquês de divulgar. Suicídio é coisa séria, não é espetáculo de praça e nem capítulo de novela. Especialistas garantem que a divulgação de suicídios pode desencadear uma série de outros. Pesquisas apontam que há um aumento de 2% em casos de suicídio quando uma história semelhante aparece na imprensa.
Independente de exercer influência, de dar ideias ou quem sabe até incentivo, acredito que a publicação do suicídio faz mal. Mal para quem lê, mal para quem fica – os parentes e conhecidos que se culpam por naquele instante serem totalmente dispensáveis e tão insignificantes. Noticiar suicídio é que nem publicar assassinatos, detalhar estupro ou explorar histórias tristes de pessoas simples: não é notícia. São mazelas de uma sociedade, mazelas muito mal retratadas e personagens muito mal descritos.
A princípio, o suicídio é de interesse de quem o pratica e de seus familiares, não havendo motivos para a propagação de tal ato, visto que não deve ser nada confortante para pais, irmãos, avós ou amigos se depararem com notas, matérias ou reportagens do ente querido, que, na maioria das vezes, se mata por problemas que até então todos desconheciam. E, por aqui, em menos de uma semana, três suicídios aconteceram. Os três muito bem noticiados, estampando as páginas de jornais, colorindo a telinha, ecoando pelas ondas do rádio ou em chamadas extremamente agressivas no monitor. Nenhum dos “auto-assassinos” era gente famosa, então, por que noticiar um suicídio?
Por que dá ibope? Porque causa imensos e incontroláveis burburinhos pela cidade. Porque o suicídio instiga a curiosidade. Não sei. O fato é que o porquê de não divulgar é mais sensato do que os vários porquês de divulgar. Suicídio é coisa séria, não é espetáculo de praça e nem capítulo de novela. Especialistas garantem que a divulgação de suicídios pode desencadear uma série de outros. Pesquisas apontam que há um aumento de 2% em casos de suicídio quando uma história semelhante aparece na imprensa.
Independente de exercer influência, de dar ideias ou quem sabe até incentivo, acredito que a publicação do suicídio faz mal. Mal para quem lê, mal para quem fica – os parentes e conhecidos que se culpam por naquele instante serem totalmente dispensáveis e tão insignificantes. Noticiar suicídio é que nem publicar assassinatos, detalhar estupro ou explorar histórias tristes de pessoas simples: não é notícia. São mazelas de uma sociedade, mazelas muito mal retratadas e personagens muito mal descritos.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Não, não vá embora...
Porque eu vou morrer de saudade! Vou sentir falta de todas as brigas, de todos os carinhos, de todos os gritos...
Por isso que voltei, porque amo estar rodeada deles, de tê-los pelos quartos, pela sala, pela cozinha ou até disputando um espelho, uma pasta de dente, dividindo tudo, querendo dividir nada. A minha família não é nem um pouco normal, mas o amor que devoto a ela é monstruoso, todos temos as nossas diferenças e desavenças que se quadruplicaram com problemas que enfrentamos durante uns bons anos. Contudo, o nosso jeito é esse, e acredito que muita família quietinha não se ama e se ajuda tanto quanto nós nos amamos e nos ajudamos. Acho que faz parte da nossa genética italiana, muita voz alta, muitas gesticulações e um emaranhado de sentimentos expressados. Os que me conhecem sabem que eu preciso do tempo comigo mesma, a solidão por uns instantes me convém, é necessária. Todavia, jamais desejei ficar alheia a eles, gosto de casa movimentada, de gente berrando, de risadas espontâneas, de conversar no sofá ou na cama de um de nós. Sou apaixonada pelos nossos passeios em conjunto, quando todo mundo está reunido, mesmo que seja para ir à missa ou para assistir a um filme sem graça na televisão. Os almoços de domingo são os melhores, é tudo tão bom, desde a comida, a bebida, as conversas enquanto se come. Ainda não parece certo e concreto que eles se vão, também não quero pensar nisso, embora isso persiga a minha mente e o meu coração por dias, nessa semana. Eu sei que se eles se forem, por certo eu chorarei. O meu peito vai congelar. Mas, enquanto eles não se vão, pretendo apreciá-los muito mais do que eu os apreciei e venerei por esses meus 24 anos.
Por isso que voltei, porque amo estar rodeada deles, de tê-los pelos quartos, pela sala, pela cozinha ou até disputando um espelho, uma pasta de dente, dividindo tudo, querendo dividir nada. A minha família não é nem um pouco normal, mas o amor que devoto a ela é monstruoso, todos temos as nossas diferenças e desavenças que se quadruplicaram com problemas que enfrentamos durante uns bons anos. Contudo, o nosso jeito é esse, e acredito que muita família quietinha não se ama e se ajuda tanto quanto nós nos amamos e nos ajudamos. Acho que faz parte da nossa genética italiana, muita voz alta, muitas gesticulações e um emaranhado de sentimentos expressados. Os que me conhecem sabem que eu preciso do tempo comigo mesma, a solidão por uns instantes me convém, é necessária. Todavia, jamais desejei ficar alheia a eles, gosto de casa movimentada, de gente berrando, de risadas espontâneas, de conversar no sofá ou na cama de um de nós. Sou apaixonada pelos nossos passeios em conjunto, quando todo mundo está reunido, mesmo que seja para ir à missa ou para assistir a um filme sem graça na televisão. Os almoços de domingo são os melhores, é tudo tão bom, desde a comida, a bebida, as conversas enquanto se come. Ainda não parece certo e concreto que eles se vão, também não quero pensar nisso, embora isso persiga a minha mente e o meu coração por dias, nessa semana. Eu sei que se eles se forem, por certo eu chorarei. O meu peito vai congelar. Mas, enquanto eles não se vão, pretendo apreciá-los muito mais do que eu os apreciei e venerei por esses meus 24 anos.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Dançando, dançando...
Brasília ficou pequena. São inúmeros desvios, onde o dinheiro dos cofres públicos são alojados em cuecas. Tem gente que prefere o bolso mesmo e outros que afirmam que o montante era para os panetones das criancinhas. É tanta sujeira que ninguém mais enxerga limpo. Todo mundo acaba achando normal uma ocultada aqui, uma mentirinha ali, uma aumentada lá ou diminuída para cá. No momento, quem estampa as manchetes dos jornais é o governador do Distrito Federal, José Arruda (DEM – na verdade ex-DEM e hoje sem partido), personagem de um dos maiores escândalos filmados no Brasil. Partiu dele a ideia do panetone (bem convincente! ). Mas, em breve, brevíssimo, ele será mais um que deixará o atual governo, porém, assim como os demais, jamais deixará de lado a política – é muito amor à população, à cidadania e ao bem estar do próximo, do próximo bem material que ele mesmo queira comprar.José Arruda hoje é ladrão. Contudo, amanhã ele pode ser de novo governador ou talvez deputado, prefeito ou vereador (exemplos: Collor, Maluf, Sarney e ACM – in memorian). E, ainda, existe a possibilidade dele ser chamado para algum cargo de confiança. Arruda não ligaria. Só em seu governo são mais de 18 mil cargos comissionados. Sim, 18 mil pessoas que ele escolheu para atuar (roubar?) ao seu lado. Dizem por aí que a quantidade é grande, já que ao governo federal são destinados 21 mil cargos comissionados (21 mil cargos que são distribuídos por todo o Brasil, situação ‘similar’ a de José Arruda, que tem 18 mil pessoas de sua confiança espalhadas por toda...Brasília). É! Aperta, estica e puxa: rouba (todo mundo junto e sincronizado).
sábado, 12 de dezembro de 2009
Aquele abraço
Gosto de um abraço abraçado. Junto com o abraço eu sinto o cheiro e o carinho da pessoa que me aperta. Quando me dá saudade, eu me imagino abraçando a pessoa da saudade. Tenho amigos que têm abraços mais gostosos. O momento também intervém. Têm dias que o abraço de hoje ganha mais sentido que o abraço de ontem e vice-versa. Eu sinto vontade de abraçar as pessoas, até quem eu não conheço. Sinto a vontade e depois passa, é quando a pessoa atravessa a rua e eu a perco de vista. Mas, mesmo assim, a vontade de me entrelaçar a alguém é repetitiva. E lá vez em quando eu peço um abraço apertado para me despertar. Submeto-me ao abraço, ao toque de gente carregado de afago. Com o abraço eu equilibro as energias e os meus pés flutuam. Acho que o abraço eterniza e inspira a pessoa abraçada, resgata. É exílio a dois. Ele inala e lança vontades. Daí a minha paixão por um abraço abraçado e a minha necessidade de estar por entre seus braços. Mesmo sem saber em quais...
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Quem tem medo da imprensa?
“Foi um serial killing, aberração serial cometida arrogantemente ao longo de dez dias consecutivos: a Folha errou ao publicar o texto, errou no dia seguinte, incapaz de desculpar-se perante os leitores, errou quando não prestou atenção à primeira e breve reprimenda do ombudsman (domingo, 29/11), errou quando localizou o pivô do episódio e colocou em sua boca uma condenação ao texto e não à decisão de publicá-lo, e errou ao silenciar por tanto tempo diante de um desvio de conduta destas proporções. O ouvidor identificou outros erros, todos gerados pela mesma onipotência.” Alberto Dines, Observatório da Imprensa
Sem eleições ou qualquer outra prerrogativa, o jornalismo garantiu para si o quarto poder. Com o poder em mãos, institui-se como o detentor da verdade, aquele que discorre fatos assim como estes verdadeiramente o são. Daí a necessidade de verificar o assunto sobre o qual se discorre, de procurar fontes precisas, de ver os ‘dois lados da moeda’. Pois, assim, mesmo que a notícia não fosse/seja imparcial, visto que um texto é carregado ‘do nosso olhar’, ‘do nosso jeito’ (a gente se denuncia), as informações fluiriam de modo responsável, e, porque não, carregadas de verdades – mas, distantes de serem absolutas.
Principal instrumento para a construção da realidade, o jornalismo usurpa, frequentemente, os direitos que conquistou ao longo dos anos. Então, constrói realidades que não são, de fato, realidades. E, os que circulam por trás deste instrumento, que, na maioria das vezes, colocam-no para funcionar, rendem-se ao joguete, lançando informações imprecisas, assuntos não fidedignos, pautas chulas. É a prática do jornalismo maldito, em todos os sentidos.Independente de sexo, raça, cor ou partido, todos sabemos que há limites. Somos capazes de identificar quando um assunto é deveras impertinente e inconveniente. Contudo, a Folha de São Paulo, o maior jornal impresso do Brasil, não soube.
No dia 27 de novembro, a Folha publicou um artigo de César Benjamin, intitulado de “Os filhos do Brasil”, que, entre outras coisas, acusava o presidente Lula de tentar estuprar um jovem companheiro de cela. O quê? Quando? Onde? Por quê? Então...Benjamin, em seu brilhantíssimo artigo, conta de uma conversa que teve com o presidente e que ele lhe teria revelado a tentativa de subjugar um colega de cela, João Batista dos Santos (ex-militante do Movimento pela Emancipação do Protelariado – MEP), quando estiveram presos, por um mês, na época da ditadura militar, alegando que não conseguia ficar sem sexo (Óh!).
Teria mesmo o presidente da república falado isso? Bom, não sabemos. A versão da Folha nos dá pouca coisa, há somente um viés, o de César Benjamin (e os ‘dois lados da moeda’?). E, ele afirma o ocorrido (e ponto). Vamos à internet. Ah, a internet: inúmeras possibilidades e um bombardeio de pontos de vistas. É lá que encontramos os outros vieses. Lá que a verdade vem à tona. Lula, pelo que consta, não tentou seduzir ninguém. Ele teria (ainda não se sabe se disse ou não) dito mais ou menos o que Benjamin conta, mas em tom de brincadeira – de mau gosto, evidente.
O assessor do presidente garantiu que Lula ficou triste com a publicação do texto, ressaltando que sobre o assunto nada seria feito. “Vamos dar a mínima importância. Quando o assunto é sério, a gente reage, quando não é..”, explicou. Alguns veículos foram atrás do jovem João Batista dos Santos, hoje com 40 e poucos anos de idade. Inicialmente ele se recusou a dar entrevista formal e ser fotografado, afirmando que nada tinha para comentar sobre o assunto. Depois, acabou dizendo que soube do artigo logo no dia seguinte, quando começou a receber ligações de vários jornalistas e antigos companheiros.
“Foi uma situação constrangedora”, afirmou. Santos disse que não conhece Benjamin e acredita que Lula "deve estar chateado" com o relato do colunista. A mulher de João Batista, que nunca tinha ouvido falar da suposta tentativa de estupro, denominou o artigo de “baixaria”, e agora teme dos filhos sofrerem no colégio com possíveis brincadeiras de mau gosto - heranças de um jornalismo maldito (e ponto!).
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Dando conta do tempo
Fiquei estarrecida ao presenciar aquela cena. Um misto de medo com insegurança, um friozinho na barriga. Ele estava lá, abrindo a geladeira e escolhendo o que ele queria comer. Então, ele olha para trás e vê que eu o observo, ainda perplexa. “Quero ioguti, tia. Tô pegando tá?!!”. Assim, como se nada tivesse acontecido. Olhei para a minha mãe. “Mãe , ele tá ficando grande!”. Ela confirmou com a cabeça, disse que ele já tinha 2 anos e meio, não se alterou - talvez porque ela já tenha criado dois filhos, viu os sobrinhos crescerem e é avó, afinal.
Não sei explicar ao certo o que eu senti. Acho que ver ele tão independente me fez perceber que a velocidade do relógio é rápida demais, que o tempo realmente não para. Pois, daqui um tempo, que cada vez fica mais perto, meu sobrinho não vai mais se agradar com os meus beijos e abraços apertados, com as minhas músicas cantadas erradas e fora de ritmo (afinação zero). Não vai mais ficar tagarelando atrás de mim, me puxando para andar de mão dadas ou pedindo para levar ele à piscina, à casa de alguém, para tomar um sorvete. Eu não vou mais escutar “Onde vamos, tia?”, assim, certinho, com o s no final do vamos (nem eu falo vamos, é vamo). Também, a voz gostosa de criança que dubla filme e que faz propaganda da OI, vai sumir.
Enfim, caiu a ficha. São quase dois anos que voltei para casa. Mas, não parece tanto, na verdade não parecia. Dois anos parecem pouco? Pouco ou muito, parece que eu não fiz nada. É esse nada que me aterroriza. Acredito que a proximidade do meu aniversário também contribui para que eu me sinta limitada ao tempo, querendo controlá-lo, vigiando para que ele não pule segundos, jamais os milésimos de segundo. Eu não tenho medo de ficar velha. Tenho medo de envelhecer, olhar para trás e achar que foi pouco. Às vezes eu quero voltar no tempo, outras quero adiantá-lo. Hoje, acho que por esses dias, eu quero saboreá-lo. Aprecia-lo sem moderação.
“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar
no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.”
(Carlos Drummond de Andrade, Contar o Tempo)
Enfim, caiu a ficha. São quase dois anos que voltei para casa. Mas, não parece tanto, na verdade não parecia. Dois anos parecem pouco? Pouco ou muito, parece que eu não fiz nada. É esse nada que me aterroriza. Acredito que a proximidade do meu aniversário também contribui para que eu me sinta limitada ao tempo, querendo controlá-lo, vigiando para que ele não pule segundos, jamais os milésimos de segundo. Eu não tenho medo de ficar velha. Tenho medo de envelhecer, olhar para trás e achar que foi pouco. Às vezes eu quero voltar no tempo, outras quero adiantá-lo. Hoje, acho que por esses dias, eu quero saboreá-lo. Aprecia-lo sem moderação.
“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar
no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.”
(Carlos Drummond de Andrade, Contar o Tempo)
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Zouá, Iamú e Louá: uma nota só
Zouá cresceu em meio a pirulitos gigantes e gororobas dançantes. Brincava com Iamú e Louá, com quem partilhava as bolinhas de gude, as frutas maduras caídas no chão, o taco de bets e o lápis de cor. Pintavam o 7, o 4, o 10 e o 1. Assim, sem se importar com a ordem.
Juntos gostavam de escorregar no arco-íris, de tomar banho na cachoeira de creme de leite e se lambusavam de café de tuti-fruti. Também, cheiravam flores que declamavam poesias e se encostavam em rochas cor de rosa maravilha. Zouá, Iamú e Louá se escondiam atrás de cogumelos afrodisíacos, onde moravam os duendes, cutucavam os ninhos dos dragões e apostavam corrida nos campos por onde trotavam os unicórnios.
Em noite de lua cheia, Zouá criava asas e dava voos rasantes sobre os pés de algodão doce. No céu, ela tocava as estrelas, invertendo seus lugares. Aconchegava-se e cochilava nas nuvens. Depois, apertava as mãos dos anjos que encontrava, puxando os seus cachinhos por entre as auréolas.
Já, Iamú, cuspia fogo pela boca. Brincava de dar luz às terras sombrias, zombava de bruxas, lobisomens e curupiras. Passava horas conversando com o homem do saco, esquentando-o do frio que lhe batia. Em noite de lua grande, Louá também se transformava. Ia para a água e virava sereia. Cercada de peixes, algas e conchas, dançava ao ritmo da maré. Sincronizada, era iluminada pelas ninfas de água doce.
Aos primeiros brilhos de sol, Zouá, Iamú e Louá perdiam a forma. Retomavam as brincadeiras de roda, comiam jujubas de jiló e glacê, que as borboletas teciam. Juntos apertavam as mãos e gargalhavam, suprindo a ausência daquela noite de lua cheia.
Zouá tirou do bolso um saquinho, surrado, de pano, desembrulhou-o. Lá tinha o pó de pirimpimpim. Deu um pouquinho para Iamú e outro tanto para Louá, dividindo o segredo de família.
Em noite de lua cheia, Zouá criava asas e dava voos rasantes sobre os pés de algodão doce. No céu, ela tocava as estrelas, invertendo seus lugares. Aconchegava-se e cochilava nas nuvens. Depois, apertava as mãos dos anjos que encontrava, puxando os seus cachinhos por entre as auréolas.
Já, Iamú, cuspia fogo pela boca. Brincava de dar luz às terras sombrias, zombava de bruxas, lobisomens e curupiras. Passava horas conversando com o homem do saco, esquentando-o do frio que lhe batia. Em noite de lua grande, Louá também se transformava. Ia para a água e virava sereia. Cercada de peixes, algas e conchas, dançava ao ritmo da maré. Sincronizada, era iluminada pelas ninfas de água doce.
Aos primeiros brilhos de sol, Zouá, Iamú e Louá perdiam a forma. Retomavam as brincadeiras de roda, comiam jujubas de jiló e glacê, que as borboletas teciam. Juntos apertavam as mãos e gargalhavam, suprindo a ausência daquela noite de lua cheia.
Zouá tirou do bolso um saquinho, surrado, de pano, desembrulhou-o. Lá tinha o pó de pirimpimpim. Deu um pouquinho para Iamú e outro tanto para Louá, dividindo o segredo de família.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Entre o vestido curto e a falta de respeito
A pátria tupiniquim, mais uma vez, cai nas graças do preconceito, da agressão e do anti-moralismo. O sinônimo do Brasil deveria ser hipocrisia. O país do futebol e do carnaval se contradiz diariamente, e, pior, massivamente. A nação do menor biquíni do mundo, do nudismo antes da páscoa e das mulheres frutas, como Melancia e Melão, desaprova vestido curto em estudante universitária. Que ironia!
E, o vestido curto, considerado ousado para aquela ocasião, toma dimensões maiores que a própria situação, diga-se repugnante. Do que falamos? Falamos sobre a estudante Geisy Arruda, 20 anos, de Turismo da Universidade Bandeirante (Uniban), em São Bernardo, no ABC paulista, que foi no dia 22 de outubro, para a universidade de vestido, considerado um tanto curto e ousado para a ocasião, causando um grande alvoroço pelos corredores, lotados por universitários que a hostilizaram. A jovem teve de ser escoltada pela Polícia Militar até sua casa.
E ninguém discutiu a situação, discutiu-se o comprimento do vestido, falou-se sobre roupas, dicas de moda, conceitos de vestimenta. Nada a respeito de machismo, de falso moralismo, de respeito e cidadania. O fato se limitou ao vestido, que, talvez, se não fosse curto como era (não era tão curto assim), não tivesse causado aquele tumulto. E, quem sabe, de calça jeans, Geisy, não tivesse garantindo para si a fama de ‘puta da Uniban’, como a intitularam nos vídeos expostos na web.
De acordo com a defesa de Geisy, até um dos policiais que a escoltou, teria repudiado a sua vestimenta e não os estudantes que a xingavam pelos corredores. "Ele deu lição de moral em vez de debelar a confusão", afirmou o seu advogado Nehemias Domingos de Melo.
Quanto à Unibam, instituição que deveria ter um posicionamento mais inteligente e ético, constata-se o insensato: a expulsão da estudante da universidade. A Uniban até que tentou ser mais cautelosa, mas a imprudência imperou na sindicância que foi instaurada para o caso. Assim, ao invés da expulsão dos alunos que incitaram as agressões, decidiu-se pela expulsão da estudante agredida. Os argumentos para tal ato são medíocres.
Alegando que a educação se faz com atitude e não complacência, a Uniban em nota publicada como anúncio publicitário em jornais neste domingo, 8, julga a vestimenta da moça, ressaltando que a mesma vinha vestindo com frequência roupas inapropriadas para usar numa universidade, e, mais, que Geisy, no dia 22, teria feito um caminho maior que o de costume, o que teria estimulado as agressões: “Foi apurado que a aluna tem frequentado as dependências da unidade em trajes inadequados, indicando uma postura incompatível com o ambiente da universidade, e, apesar de alertada, não modificou seu comportamento. A sindicância apurou que, no dia da ocorrência dos fatos, a aluna fez um percurso maior que o habitual aumentando sua exposição e ensejando, de forma, explícita, os apelos dos alunos que se manifestavam em relação à sua postura, chegando, inclusive, a posar para fotos.”
Não bastasse o descrito, a universidade (?) afirma que a atitude dos universitários perante à aluna foi “uma reação coletiva de defesa do ambiente escolar”:“Foi constatado que a atitude provocativa da aluna, no dia 22 de outubro, buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar, o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar.”
Por fim, a instituição que diz fazer educação com atitude e não complacência reitera a expulsão de Geisy e a suspensão, temporária, dos universitários envolvidos no escândalo: Decisão do Conselho Superior da Universidade: Diante de todos os fatos apurados pela comissão de sindicância, o Conselho Superior, amparado pelo relatório apresentado e nos termos do Regimento Interno, decidiu, com base no Capítulo IV – Regime Disciplinar, artigos 215 e seguintes: 1 – Desligar a aluna Geisy Villa Nova Arruda do quadro discente da Instituição, em razão do flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade; 2 – Suspender das atividades acadêmicas, temporariamente, os alunos envolvidos devidamente identificados no incidente ocorrido no dia 22 de outubro.
Com chave de ouro, a Unibam se diz descontente com a mídia, afirmando que os veículos de comunicação não contribuíram para um debate sério e equilibrado sobre temas fundamentais como ética, juventude e universidade. A nós, meros expectadores do fato e de sua repercussão, fica a dúvida: Entre o vestido curto e a falta de respeito, o que seria sério e equilibrado para a Uniban? Até os mais tolos responderiam apropriadamente esta questão.
E, o vestido curto, considerado ousado para aquela ocasião, toma dimensões maiores que a própria situação, diga-se repugnante. Do que falamos? Falamos sobre a estudante Geisy Arruda, 20 anos, de Turismo da Universidade Bandeirante (Uniban), em São Bernardo, no ABC paulista, que foi no dia 22 de outubro, para a universidade de vestido, considerado um tanto curto e ousado para a ocasião, causando um grande alvoroço pelos corredores, lotados por universitários que a hostilizaram. A jovem teve de ser escoltada pela Polícia Militar até sua casa.
E ninguém discutiu a situação, discutiu-se o comprimento do vestido, falou-se sobre roupas, dicas de moda, conceitos de vestimenta. Nada a respeito de machismo, de falso moralismo, de respeito e cidadania. O fato se limitou ao vestido, que, talvez, se não fosse curto como era (não era tão curto assim), não tivesse causado aquele tumulto. E, quem sabe, de calça jeans, Geisy, não tivesse garantindo para si a fama de ‘puta da Uniban’, como a intitularam nos vídeos expostos na web.
De acordo com a defesa de Geisy, até um dos policiais que a escoltou, teria repudiado a sua vestimenta e não os estudantes que a xingavam pelos corredores. "Ele deu lição de moral em vez de debelar a confusão", afirmou o seu advogado Nehemias Domingos de Melo.
Quanto à Unibam, instituição que deveria ter um posicionamento mais inteligente e ético, constata-se o insensato: a expulsão da estudante da universidade. A Uniban até que tentou ser mais cautelosa, mas a imprudência imperou na sindicância que foi instaurada para o caso. Assim, ao invés da expulsão dos alunos que incitaram as agressões, decidiu-se pela expulsão da estudante agredida. Os argumentos para tal ato são medíocres.
Alegando que a educação se faz com atitude e não complacência, a Uniban em nota publicada como anúncio publicitário em jornais neste domingo, 8, julga a vestimenta da moça, ressaltando que a mesma vinha vestindo com frequência roupas inapropriadas para usar numa universidade, e, mais, que Geisy, no dia 22, teria feito um caminho maior que o de costume, o que teria estimulado as agressões: “Foi apurado que a aluna tem frequentado as dependências da unidade em trajes inadequados, indicando uma postura incompatível com o ambiente da universidade, e, apesar de alertada, não modificou seu comportamento. A sindicância apurou que, no dia da ocorrência dos fatos, a aluna fez um percurso maior que o habitual aumentando sua exposição e ensejando, de forma, explícita, os apelos dos alunos que se manifestavam em relação à sua postura, chegando, inclusive, a posar para fotos.”
Não bastasse o descrito, a universidade (?) afirma que a atitude dos universitários perante à aluna foi “uma reação coletiva de defesa do ambiente escolar”:“Foi constatado que a atitude provocativa da aluna, no dia 22 de outubro, buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar, o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar.”
Por fim, a instituição que diz fazer educação com atitude e não complacência reitera a expulsão de Geisy e a suspensão, temporária, dos universitários envolvidos no escândalo: Decisão do Conselho Superior da Universidade: Diante de todos os fatos apurados pela comissão de sindicância, o Conselho Superior, amparado pelo relatório apresentado e nos termos do Regimento Interno, decidiu, com base no Capítulo IV – Regime Disciplinar, artigos 215 e seguintes: 1 – Desligar a aluna Geisy Villa Nova Arruda do quadro discente da Instituição, em razão do flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade; 2 – Suspender das atividades acadêmicas, temporariamente, os alunos envolvidos devidamente identificados no incidente ocorrido no dia 22 de outubro.
Com chave de ouro, a Unibam se diz descontente com a mídia, afirmando que os veículos de comunicação não contribuíram para um debate sério e equilibrado sobre temas fundamentais como ética, juventude e universidade. A nós, meros expectadores do fato e de sua repercussão, fica a dúvida: Entre o vestido curto e a falta de respeito, o que seria sério e equilibrado para a Uniban? Até os mais tolos responderiam apropriadamente esta questão.
*O texto foi escrito antes da Uniban voltar atrás e amenizar o ‘julgamento’ de Geisy, ‘acolhendo-a’ novamente na instituição. Também, escrevi antes dela ser convidada para posar nua e dela colocar megahair e mudar o visual (o vidinha!). Enfim, foi produzido antes de Geisy fazer piada da própria situação, aproveitando-se de uma ‘fama’ momentânea.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Doping, por favor
Hoje bateu a saudade dos meus tempos áureos, daqueles dias que me ligavam para mimar ou das noites mal dormidas devido a um bate-papo, sem nexo, no mundo virtual. À minha memória remetem cenas bregas de relacionamentos sem futuro, sem regras e sem monotonia. Épocas em que a instabilidade reinava e esse era o charme. Era o tal do amor que batia na porta mas não entrava e que chutava para o gol, mas era contra. Tempos em que os jogadores poderiam ser escolhidos a dedo, e ainda tinha a reserva. Que beleza! Então, o jogo acabou. Limito-me às lembranças das investidas não vestidas. E, com isso vem a vontade de trocar de categoria. Quem sabe basquete? Pois eu quero cesta! Entretanto, para ser cesta tem que ter a tal da habilidade e da sorte. Eu sou desprevenida, sem dotes e sem sorte.
* http://www.youtube.com/watch?v=wuEdS4zYhVg
* http://www.youtube.com/watch?v=wuEdS4zYhVg
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
A queda do palco poderia ser a do preconceito
“O Brasil tem esse lado cor de rosa, a maior parada gay do mundo, a maior associação de gays, lésbicas e transgêneros da América do Sul. E tem o lado vermelho-sangue: a cada dois dias, um gay é assassinado.” Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia
Foi hoje, o palco caiu e junto com ele o Governador do Estado, Roberto Requião, que sofreu uma luxação no pé esquerdo, mas passa bem. Nenhum outro arranhão, nada grave. O fato ocorreu na solenidade de entrega de ônibus - daqueles que ele tem distribuídos aos montes - na cidade de Paiçandu, no noroeste do Estado. A queda do palco poderia ser a do preconceito, mas, uma pena, não foi.
Na semana passada nosso queridíssimo chefe de Estado mostrou, mais uma vez, a sua intensa (ou será extensa?) ignorância, ao dizer que o câncer de mama nos homens pode ter aumentado devido às passeatas gays: “A ação do governo não é só em defesa do interesse público. É da saúde da mulher também. Embora hoje o câncer de mama seja uma doença masculina também. Deve ser consequência dessas passeatas gay", disse ele, ao anunciar as ações para o controle da doença no Estado. Pronunciamento infeliz, triste, tristemente.
Com os pés fincados no século 21, nosso País, ainda, teima em cavalgar à moda Idade Média e o tio Requião é apenas mais um destes típicos cavaleiros medievais. De acordo com a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travesti e Transexuais (ABGLT), o Brasil, mesmo tendo a maior parada gay do mundo, a de São Paulo, é o País que mais mata homossexuais no planeta. No ano passado foram registrados 190 assassinatos, um a cada dois dias, superando a média de 2007, ano em que houve 122 homicídios. Este ano, só no Paraná foram mortos 19 gays e travestis.
Campeão mundial em crimes de homofobia, o Brasil, quando comparado com os países prata e bronze, ganha em disparada no quesito ignorância. Em segundo lugar está o México com 35 assassinatos anuais (aqui são 190) e em terceiro lugar, bronze ignorância, nosso Tio Sam, os E.U.A., com 25 crimes por ano (aqui são 190).
A sociedade do livre arbítrio, por ora, não sabe lidar com o diferente, embora propague aos quatro ventos que sim: ‘viva as diferenças’. Mais de 3 milhões de pessoas vão à parada gay de São Paulo e o Brasil foi a primeira nação que realizou a primeira conferência GLBT do mundo, além de ter o primeiro presidente que apresentou um programa nacional para os gays. Quais são os frutos disto? Um arco-íris de hipocrisia. É o preconceito enrustido, expresso nos números de assassinatos de homossexuais que é crescente ano a ano. As estatísticas são altas e declarações como a de Requião só fomentam o preconceito, a discriminação e a violência à classe...Alguém aceita mamonas de sobremesa?
Na semana passada nosso queridíssimo chefe de Estado mostrou, mais uma vez, a sua intensa (ou será extensa?) ignorância, ao dizer que o câncer de mama nos homens pode ter aumentado devido às passeatas gays: “A ação do governo não é só em defesa do interesse público. É da saúde da mulher também. Embora hoje o câncer de mama seja uma doença masculina também. Deve ser consequência dessas passeatas gay", disse ele, ao anunciar as ações para o controle da doença no Estado. Pronunciamento infeliz, triste, tristemente.
Com os pés fincados no século 21, nosso País, ainda, teima em cavalgar à moda Idade Média e o tio Requião é apenas mais um destes típicos cavaleiros medievais. De acordo com a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travesti e Transexuais (ABGLT), o Brasil, mesmo tendo a maior parada gay do mundo, a de São Paulo, é o País que mais mata homossexuais no planeta. No ano passado foram registrados 190 assassinatos, um a cada dois dias, superando a média de 2007, ano em que houve 122 homicídios. Este ano, só no Paraná foram mortos 19 gays e travestis.
Campeão mundial em crimes de homofobia, o Brasil, quando comparado com os países prata e bronze, ganha em disparada no quesito ignorância. Em segundo lugar está o México com 35 assassinatos anuais (aqui são 190) e em terceiro lugar, bronze ignorância, nosso Tio Sam, os E.U.A., com 25 crimes por ano (aqui são 190).
A sociedade do livre arbítrio, por ora, não sabe lidar com o diferente, embora propague aos quatro ventos que sim: ‘viva as diferenças’. Mais de 3 milhões de pessoas vão à parada gay de São Paulo e o Brasil foi a primeira nação que realizou a primeira conferência GLBT do mundo, além de ter o primeiro presidente que apresentou um programa nacional para os gays. Quais são os frutos disto? Um arco-íris de hipocrisia. É o preconceito enrustido, expresso nos números de assassinatos de homossexuais que é crescente ano a ano. As estatísticas são altas e declarações como a de Requião só fomentam o preconceito, a discriminação e a violência à classe...Alguém aceita mamonas de sobremesa?
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Falando de amor
A felicidade se encontra nas pequenas coisas da vida, é o que disse, não necessariamente nesta ordem e desta maneira, um poeta brega ou uma música sertaneja. Para não haver brigas ou acusações de plágio, concordo com os dois.
Chego em casa, depois daquele dia exaustivo. É ele quem me recepciona. ‘Onde você tava?’, pergunta, com aquele olhar de que por horas me esperava. Caminha na minha direção, enquanto termino de fechar o portão (rimou). Ele pega na minha mão e começa a tagarelar. Fala das guloseimas que comeu, comenta da escolinha, fala que quer ir no circo – ele jamais esquece do circo. ‘Vamos na piscina, vamos?’. Só tenho tempo de fazer um ou dois comentários e dizer que a piscina fica para o fim de semana. ‘Mas eu tô sem fralda, tia’, lembra ele - sempre falo que ele só pode ir para o clube depois que não usar mais fralda, ele levou a sério, e tem se empenhado, também argumentado, claro. De mãos dadas seguimos até a cozinha, onde paro para beber uma água. Sigo para o quarto e ele corre atrás, tagarelando novamente. É isso que me deixa feliz. Simples, assim ó!
Chego em casa, depois daquele dia exaustivo. É ele quem me recepciona. ‘Onde você tava?’, pergunta, com aquele olhar de que por horas me esperava. Caminha na minha direção, enquanto termino de fechar o portão (rimou). Ele pega na minha mão e começa a tagarelar. Fala das guloseimas que comeu, comenta da escolinha, fala que quer ir no circo – ele jamais esquece do circo. ‘Vamos na piscina, vamos?’. Só tenho tempo de fazer um ou dois comentários e dizer que a piscina fica para o fim de semana. ‘Mas eu tô sem fralda, tia’, lembra ele - sempre falo que ele só pode ir para o clube depois que não usar mais fralda, ele levou a sério, e tem se empenhado, também argumentado, claro. De mãos dadas seguimos até a cozinha, onde paro para beber uma água. Sigo para o quarto e ele corre atrás, tagarelando novamente. É isso que me deixa feliz. Simples, assim ó!
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Cotidiano
Sobre perspectivas, destino, condição. Sobre eu e você ou talvez nada disso
Emprego fixo para quê? O salário baixo ainda não contribui para que ele compre aquele carro almejado, aquele tênis da moda, aquela blusa de marca. Também, ainda, ele não pode comprar o sobrado que ele paquera, há, pelo menos, uns dois anos. Ele estudou quatro anos para isso: viver limitado ao seu semi-salário. ‘Você está em começo de carreira, é por isso, já melhora’, consolam-no. Enquanto isso ele imagina. Pensa no que ele queria realmente ter feito: viajar. As viagens sempre foram seu ideal, seu projeto de vida, seu consumo. Então foi estudar, pois pensava que depois de formado teria a grana para viajar. Enganou-se. O mundo adulto lhe deu uma rasteira, vieram as obrigações, a contribuição em casa, a compra do mercado, o pão do café da tarde, a gasolina para ir até o cinema, o remédio quando ficou doente. E, ainda, tinha o cabelo que deveria ser cortado, os dentes que deveriam ser tratados, o presente do amigo, o computador que quebrou. Desistiu das viagens. O seu empecilho foi a responsabilidade, que o impregnou de cuidados, que o impediu de agir por súbito. E assim, lentamente, o homem que se dizia do mundo, tornou-se enraizado. Teve bom emprego, fez carreira, casou, teve filhos. É feliz. Mas, de vez em quando ele engasga e por um bom tempo viaja, viaja em seus pensamentos, relembrando seus mais absurdos sonhos, seus mais atípicos desejos. E, então, ele se recorda de sua frase clichê, dita à sua mãe quando tudo parecia dar errado: ‘Se nada der certo eu fujo com o circo’. Ele ri. Aos quarenta ele, ainda, acredita que dá tempo de fugir. Só não sabe como. ‘Pai, me dá um braço’, escuta.
Emprego fixo para quê? O salário baixo ainda não contribui para que ele compre aquele carro almejado, aquele tênis da moda, aquela blusa de marca. Também, ainda, ele não pode comprar o sobrado que ele paquera, há, pelo menos, uns dois anos. Ele estudou quatro anos para isso: viver limitado ao seu semi-salário. ‘Você está em começo de carreira, é por isso, já melhora’, consolam-no. Enquanto isso ele imagina. Pensa no que ele queria realmente ter feito: viajar. As viagens sempre foram seu ideal, seu projeto de vida, seu consumo. Então foi estudar, pois pensava que depois de formado teria a grana para viajar. Enganou-se. O mundo adulto lhe deu uma rasteira, vieram as obrigações, a contribuição em casa, a compra do mercado, o pão do café da tarde, a gasolina para ir até o cinema, o remédio quando ficou doente. E, ainda, tinha o cabelo que deveria ser cortado, os dentes que deveriam ser tratados, o presente do amigo, o computador que quebrou. Desistiu das viagens. O seu empecilho foi a responsabilidade, que o impregnou de cuidados, que o impediu de agir por súbito. E assim, lentamente, o homem que se dizia do mundo, tornou-se enraizado. Teve bom emprego, fez carreira, casou, teve filhos. É feliz. Mas, de vez em quando ele engasga e por um bom tempo viaja, viaja em seus pensamentos, relembrando seus mais absurdos sonhos, seus mais atípicos desejos. E, então, ele se recorda de sua frase clichê, dita à sua mãe quando tudo parecia dar errado: ‘Se nada der certo eu fujo com o circo’. Ele ri. Aos quarenta ele, ainda, acredita que dá tempo de fugir. Só não sabe como. ‘Pai, me dá um braço’, escuta.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
E se eu cair?
Já faz um tempo que ouvi de uma amiga que “a Lari doce” já não existe. E a constatação de tal transformação só me ocorre agora. A ficha caiu...Recebi uma notícia, destas que mudam a vida de uma família inteira, que traz esperança, que recicla. Ela é boa, e, apesar de boa, ela, ainda, não me trouxe ânimo. Eu enrijeci e perdi a ternura. Os calos não me permitem pular, abraçar, agradecer. E guardei a felicidade para o momento certo, para o instante em que aquela notícia seja, realmente, oriunda da vida nova, da reciclagem. Do bem-estar. Guardo-a para a hora de me despedir, definitivamente, dos dias sombrios e das lágrimas constantes. Com este adeus eu espero recuperar a minha docilidade. Entretanto, a fortaleza que me transformei – que há tempos não combina com a minha frágil aparência -, impede-me de pensar desta forma. Meus pés ainda não flutuam, permaneço fincada no chão, com as asas podadas. Preciso de mais um tempo, porém, já imagino o dia do meu voo certeiro.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Promoção
Primeira vez que o vejo e ele já vem com um “paixão”. Não deu certo. Detesto paixão, amor e todos os seus derivados: mor, morzinho, morzão...mo. É muita intimidade para pouca coisa, na verdade, por pouquíssimo tempo. Prefiro ser chamada pelo nome mesmo, talvez pelo sobrenome ou um simples você (nessas horas a segunda pessoa do singular soa perfeitamente). Depois vêm as flores, como se elas fossem mágicas e pudessem me encantar. Ele deve imagina que eu as recebo e sinto o cheiro, que emanaria o tal do amor. Seria certeiro. Mas comigo deu errado. Sem flores, por favor, não gosto de flores (mentira, eu gosto, mas se não há química, quem dirá flores). Na seqüência, o celular. Ele não para de tocar. O celular tocando depois daquele semi-encontro me apavora. Deixe-me na expectativa. É gostoso sentir borboletas no estômago, ficar na dúvida. A certeza nem sempre é positiva, eu acho. Em seguida, o grude. Atraio vários chicletes e dos mais variados sabores. Não sei bem porque, vai ver que é o meu signo e os tais dos ascendentes. Não ao chiclete! Ainda não sobrevive a um relacionamento que eu me doe por tempo integral. Eu preciso de ar. O ver todo dia não me enjoa, mas a toda hora, me invade. Mas hoje, tudo bem, eu estou disponível para às 24 horas. Rendo-me à mesmice e à banalidade. Pode começar a me ligar, suporto o “paixão” ou outros apelidos de mau gosto. Me ligue, me mande flores, eu vou adorar - por pouco tempo (é apenas a carência me visitando).
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Meu Brasil brasileiro
Brasil, 07 de setembro de 2009.
Aos cegos que não leem braile
Aqui tudo que se planta dá e tudo que é gente ginga, batuca, canta, mexe, dança. E como dança. Em solos verde-amarelos o rebolado é necessário, a tal da ginga é fundamental. Tem gente que já nasce com ela, herança de família, e outros, para não ficar para trás, aprendem rapidinho a coreografia, e que sintonia! Se não é esperto, se não for do batente, aqui dança. Aqui você só não dança se for bandido, político e ladrão – daí você mesmo cria uma coreografia e comanda os bailarinos, mas esta dança é vulgar. Dela não se deve dançar.
Bandido, político e ladrão à parte. Quero falar do que é bom, porque por aqui todo mundo anda vendado. Fecham-se os olhos para o melhor assim como os fecham para o governo que rouba, para a policia que mata e para lei que não é cumprida. Se a cegueira é o melhor remédio para aquilo que é ruim, pode ser que enxergar o bom seja o melhor meio para fugir da autodestruição (se vemos o bom: valorizamos, cuidamos, protegemos).
O pulmão do mundo está aqui, bem aqui. Todo o mundo já o avistou, menos os nativos (recado de urgência: tirem a venda!). De cada quatro espécies no mundo, uma está por estas matas, todo o mundo já viu, reviu, conferiu. E você? Agora até petróleo o Brasil tem, e todo o mundo ficou de olho, inclusive os brasileiros (Biiiiiiiiiiiiiiiiiii, biiiiiiii – apitou o detector de mentiras, brasileiro ainda não viu). Contudo, mesmo assim, no breu, o pré-sal é nosso. Também teve a crise. Ela veio, e não quebramos. Apontaram-nos como o país do futuro. Ninguém conseguiu ler, a vista, viciada, não deixou.
Aqui tem mulata que faz macarrão, branca que samba e índio que come enlatado, além dos estrangeiros que fazem tudo isto muito bem e com muito gosto. E para essa mistura não se teve/tem receita. O ponto surgiu naturalmente. Misturou tudo, mexeu bem: tá no ponto!
No Brasil tem japonês que é católico, negro que é evangélico e branco que é budista. Têm também os portugueses, italianos, ucranianos, holandeses (e tudo o mais aqui se encontra) que freqüentam terreiros e rezam para orixás. O nome disso tudo é diversidade cultural, porque aqui se tem arte, tem língua, tem crença, tem culinária e hábitos, mesmo que mais da metade da população não saiba, ou melhor, não vê.
Agora, o mais irônico: aqui ninguém se enxerga. A nação verde-amarela é capaz de ver de longe o que os vizinhos fazem, mas é incapaz de avistar o próprio umbigo – talvez por isso fiquem de olho no alheio. A população brasileira é uma das maiores do mundo, e, absolutamente, a mais impar de todas. Os nativos dessa terra são dotados de uma amabilidade única e inigualável. O calor humano do povo daqui é intenso, o afeto transmitido por eles é transcendental. Por isso, com precisão afirmo: foi aqui que inventaram o abraço.
Depois do carinho, o que mais chama atenção nos brasileiros é a arte de saber improvisar, de saber se virar. A arte de se desdobrar e ralar estão no sangue. Corre nas veias deles a força de vontade de viver, de vencer. O porém é que eles não sabem disso. Na verdade, não conseguem ver tanta possibilidade, tanta capacidade, tanta virilidade.
É uma pena que a cegueira coletiva impere no país do futebol e do carnaval – é lógico que o Brasil é muito mais do que isso, se assim falo é porque isto é o pouco que eles conseguem enxergar. Dizem os mais positivos – a minoria, claro - que aqui é um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Eu fico com eles, sim é com certeza.
OBS: Talvez isso aqui não seja uma carta. Talvez os pessimistas continuem pessimistas. Talvez a visão retorne (será que algum dia nos enxergamos?). Talvez o carnaval tenha fim e o futebol azar. Talvez seja só uma névoa. Feliz dia da pátria!
Olhos cor de mel
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Herói
Têm dias que meu coração, sozinho, me derruba. O desespero me assola, as responsabilidades me gritam e me cobram, e a minha liberdade se transforma em sinônimo de solidão. Dói. E quando essa dor me visita, é ele que a manda embora.
Quando o vejo sorrindo, o tempo parece parar. Na verdade, este é um momento câmera lenta na minha cabeça, cada movimento tem sua expressividade, por mais singelo que seja, por mais insignificante que pareça (à primeira vista). Daí, eu tiro o retrato daquele riso sorrido. Guardo a foto, eternizando-a em minha memória. É essa pintura que me acalma quando acho que tudo vai dar errado, que tudo pode piorar. Ela é capaz de derrotar até a Lei de Murphy. Ele ainda não sabe deste dom, ainda é muito pequeno. Por enquanto, desconhece todas essas dores, mas as afasta de mim de um jeito que parece saber exatamente do que se trata...
Eu escuto seus passos nada discretos pelo corredor . “Vamos brincar, vamos?” (assim, certinho, com o s no final do vamos). Ele pega na minha mão e me puxa para junto dos brinquedos. Pronto, me salvou.
OBS: Eu lembro de quando me avisaram que eu ia ser tia, recordo não gostar da ideia, muito menos do título. Besteira. Os outros me advertiram: “Você vai adorar ser tia!”. Nunca discordei. Mas também não podia imaginar o quão fundamental essa função me seria. Esqueceram de me avisar que se tratava de um presente.
Quando o vejo sorrindo, o tempo parece parar. Na verdade, este é um momento câmera lenta na minha cabeça, cada movimento tem sua expressividade, por mais singelo que seja, por mais insignificante que pareça (à primeira vista). Daí, eu tiro o retrato daquele riso sorrido. Guardo a foto, eternizando-a em minha memória. É essa pintura que me acalma quando acho que tudo vai dar errado, que tudo pode piorar. Ela é capaz de derrotar até a Lei de Murphy. Ele ainda não sabe deste dom, ainda é muito pequeno. Por enquanto, desconhece todas essas dores, mas as afasta de mim de um jeito que parece saber exatamente do que se trata...
Eu escuto seus passos nada discretos pelo corredor . “Vamos brincar, vamos?” (assim, certinho, com o s no final do vamos). Ele pega na minha mão e me puxa para junto dos brinquedos. Pronto, me salvou.
OBS: Eu lembro de quando me avisaram que eu ia ser tia, recordo não gostar da ideia, muito menos do título. Besteira. Os outros me advertiram: “Você vai adorar ser tia!”. Nunca discordei. Mas também não podia imaginar o quão fundamental essa função me seria. Esqueceram de me avisar que se tratava de um presente.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Prefeito morre por causa de amante
Errado.
Prefeito morre por causa de "amor não contabilizado".
Gostei dessa definição.
Prefeito morre por causa de "amor não contabilizado".
Gostei dessa definição.
sábado, 11 de julho de 2009
Ela olhou e ele estava ali
Ela esperava um príncipe, mas vieram vários. Ela achou que seria para sempre, mas houve muitos para sempre-que-sempre-acabaram.
Quando criança não tinha tempo para pensar no príncipe. As bonecas e as brincadeiras de rua tomavam a maior parte de seus pensamentos, quando estes não eram ocupados pelas guloseimas da padaria da esquina. As donzelas de seu reino sempre falavam de seus príncipes, sonhando com aquele, que, de algum modo, abalaria seus corações e com o qual viveriam felizes para sempre, embora esse para sempre nunca durasse tanto.
O primeiro encontro com o seu príncipe foi tardio. Foi depois dos quinze que ela começou a pensar no príncipe, que desde então, nunca fora encantando. Ela o conheceu num bate-papo, desses que se tem aos montes na internet. Ali mesmo, conduzidos pelos códigos binários, sem luar e sem jantar à luz de vela, apaixonaram-se. Denominaram-se amor. E foi amor, por que não? O sentimento era recíproco e intenso. Ele era seu príncipe, ela sentiu.
Com o tempo, ambos amadureceram e a vida lhes apontou destinos opostos. Foram estudar fora. Ele em uma faculdade em uma cidade. Ela em uma faculdade em outra cidade. Separaram-se. Por um tempo o coração dela ficou desnorteado. Ela havia sentido que ele era o seu príncipe, porém não era. A dor do para sempre-que-sempre-acaba e que ela não queria que acabasse foi suprimida com a chegada de outro príncipe. Sim, ela sentiu que ele era o seu príncipe...por alguns meses foi assim. Mais uma vez errou. A distância não deixou que fosse.
Um outro príncipe chegou, ela não acreditou. Não, ele não é meu príncipe, pensava. Entretanto, sua fada madrinha uma peça lhe pregou. Sim, ele era seu príncipe. Diferentes, de personalidades antagônicas, mesmo assim: vingou. Por um tempo ela achou que ele, definitivamente, era seu príncipe. E a ele, mais uma vez, se entregou. Errou.
Depois dele, mais príncipes vieram.Vinham rápido, e saíam mais rápido ainda de sua vida. E, era assim mesmo que ela queria. Tirada a venda, ela se permitia amar um príncipe a cada dia. De cada um retirava o que podia. Encantou. Desencantou. Percebeu que o amor que tanto esperava, encontrava-a todo dia, bastava ela se permitir. E assim o fez. Embebedada de amor, próprio e pelo próximo, permitiu-se.
Quando criança não tinha tempo para pensar no príncipe. As bonecas e as brincadeiras de rua tomavam a maior parte de seus pensamentos, quando estes não eram ocupados pelas guloseimas da padaria da esquina. As donzelas de seu reino sempre falavam de seus príncipes, sonhando com aquele, que, de algum modo, abalaria seus corações e com o qual viveriam felizes para sempre, embora esse para sempre nunca durasse tanto.
O primeiro encontro com o seu príncipe foi tardio. Foi depois dos quinze que ela começou a pensar no príncipe, que desde então, nunca fora encantando. Ela o conheceu num bate-papo, desses que se tem aos montes na internet. Ali mesmo, conduzidos pelos códigos binários, sem luar e sem jantar à luz de vela, apaixonaram-se. Denominaram-se amor. E foi amor, por que não? O sentimento era recíproco e intenso. Ele era seu príncipe, ela sentiu.
Com o tempo, ambos amadureceram e a vida lhes apontou destinos opostos. Foram estudar fora. Ele em uma faculdade em uma cidade. Ela em uma faculdade em outra cidade. Separaram-se. Por um tempo o coração dela ficou desnorteado. Ela havia sentido que ele era o seu príncipe, porém não era. A dor do para sempre-que-sempre-acaba e que ela não queria que acabasse foi suprimida com a chegada de outro príncipe. Sim, ela sentiu que ele era o seu príncipe...por alguns meses foi assim. Mais uma vez errou. A distância não deixou que fosse.
Um outro príncipe chegou, ela não acreditou. Não, ele não é meu príncipe, pensava. Entretanto, sua fada madrinha uma peça lhe pregou. Sim, ele era seu príncipe. Diferentes, de personalidades antagônicas, mesmo assim: vingou. Por um tempo ela achou que ele, definitivamente, era seu príncipe. E a ele, mais uma vez, se entregou. Errou.
Depois dele, mais príncipes vieram.Vinham rápido, e saíam mais rápido ainda de sua vida. E, era assim mesmo que ela queria. Tirada a venda, ela se permitia amar um príncipe a cada dia. De cada um retirava o que podia. Encantou. Desencantou. Percebeu que o amor que tanto esperava, encontrava-a todo dia, bastava ela se permitir. E assim o fez. Embebedada de amor, próprio e pelo próximo, permitiu-se.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Presente no Dia dos namorados
Depois de alguns dias da entrega...
- Entregou a encomenda?
- Entreguei, mas ele tava com uma menina do lado
- Vixi, será que deu problema para ele?
- Deu nada. Entreguei na hora em que a menina não tava junto.
- Ah, fechou então!
- Eu entreguei no Dia dos Namorados tá...
- Ai, não. Que mico heim. Não tinha lembrado que era Dia dos Namorados.
- Hahaha. Mas eu achei que você tivesse mandado o cartão e o chocolate justamente por causa da data.
Risos.
- Não, era só para aproveitar que...Ok, dá nada não!
Contando sobre o ocorrido com o amigo.
- É isso, dei presente para ele no Dia dos Namorados, sem saber. E sem querer! Para completar ele estava acompanhado. (rindo da própria desgraça)
- Lari, você não pode namorar.
- Por quê?
- Porque se você namorar, quem vai me contar uma história como esta?
- Entregou a encomenda?
- Entreguei, mas ele tava com uma menina do lado
- Vixi, será que deu problema para ele?
- Deu nada. Entreguei na hora em que a menina não tava junto.
- Ah, fechou então!
- Eu entreguei no Dia dos Namorados tá...
- Ai, não. Que mico heim. Não tinha lembrado que era Dia dos Namorados.
- Hahaha. Mas eu achei que você tivesse mandado o cartão e o chocolate justamente por causa da data.
Risos.
- Não, era só para aproveitar que...Ok, dá nada não!
Contando sobre o ocorrido com o amigo.
- É isso, dei presente para ele no Dia dos Namorados, sem saber. E sem querer! Para completar ele estava acompanhado. (rindo da própria desgraça)
- Lari, você não pode namorar.
- Por quê?
- Porque se você namorar, quem vai me contar uma história como esta?
Porque às vezes eu também pergunto...
Eu gosto deste texto. Concordo, porque frequentemente eu faço a mesma pergunta.
VACA ESTRELA E BOI FUBÁ
(de Patativa, Nietzsche e Deus, não necessariamente nesta ordem)
por Larissa Santos PereiraPensar
Pensar no que simboliza a música me faz lembrar de Nietzsche, que desafiadoramente, registra: “Eu não acreditaria em um Deus que não soubesse dançar”. Também eu não acreditaria em um Deus estático, enclausurado em sua redoma e apenas preocupado em anotar, diariamente, no grande Livro da Vida, os meus pecados diários. Sou católica, de formação judaico-cristã e, portanto, cresci em um ambiente no qual o Deus era realmente punitivo, mas, em contraponto, fortemente amoroso.Na Congregação das Irmãs da Sagrada Família, onde estudei e também na minha casa, a palavra Deus era sinônimo da palavra amor. Na minha casa, em especial, este bem-querer se dava tanto nas relações afetivas quanto na marcante presença da música. Ouvir música sempre foi significativo para a nossa família, sendo que o repertório variava dos ditos clássicos da MPB da época (saudosos anos 80), passando pelas “brasas” da jovem guarda e chegando até algumas expressões do forró e rock nacional.Dentre os cantores, minha mãe tinha predileção por Fagner, cearense que me inquietava pela firmeza com que ca(o)ntava não as músicas “de amor”, mas as histórias do cotidiano nordestino, como a seca e a conseqüente exploração do sertanejo. Nesse contexto, uma composição sempre me chamou a atenção: Vaca Estrela e Boi Fubá, da autoria de Patativa do Assaré, que tece uma narrativa entremeada de sofrimento e lirismo para caracterizar a vida do vaqueiro que, aos poucos, é forçado, pela lógica da seca perversa, a abrir mão de seu gado.Vaca Estrela e Boi Fubá é uma canção triste, que desperta nos/as ouvintes, uma sensação de estranheza no mundo, um nó na garganta que anestesia a vontade de agir, quase imobilizando o poder de reação. É também uma canção dura. Lembro de não entender porque a vaca e o boi em questão apresentavam nomes tão suaves, contrastando com o universo ali descrito: astúcias do sábio compositor.Hoje, passadas duas décadas de quando, certamente, ouvi pela primeira vez esta música, ela me veio à mente de forma arrebatadora, trazendo, ao seu lado, Nietzsche e Deus. Ontem à noite fui a uma Estação de Transbordo do Transporte Coletivo de Salvador. A capital da Bahia ostenta cerca de 3.350.523 habitantes, grande parte deles amontoados em sub-bairros, sub-empregos, sub-moradias, sub-opções de lazer, sub-vida, enfim. A Estação Pirajá, onde fui, serve como eixo de condução para muitos bairros periféricos de Salvador, com nomes expressivos, como Palestina ou Boca da Mata.Ao chegar à Estação eu, incauta escriba, fui informada de que havia uma fila de espera, não só para aguardar (uma média de 20, 30 minutos), como para, finalmente, ingressar no Amontoamento Noturno, vulgo Transporte Coletivo. Foi aqui, ao me reunir aos demais usuários daquele serviço, que recordei da vaca, de Nietzsche e de Deus, necessariamente nessa ordem. Explico-me: é estupenda a sensação de desumanização que aquela experiência causa no indivíduo. A ida, lenta e paciente para o ônibus, me fez imaginar-me como uma vaca, que, silenciosamente, resignava-se e caminhava para o Abatedouro. Não, não é exagero afirmar. Todos/as nós ali, naquele momento, éramos bois e vacas, impregnados da mais pura e ofensiva bestialidade.A minha caracterização animalizada naquele momento me espantava e, ao mesmo tempo, me indignava. A insistência profunda de Nietzsche ecoava em minhas reflexões: então, esta é a condição humana? É para isso que somos? É isso o que somos? Uma grande massa desprezível a que se titula povo, que se aglutina de manhã e à noite, para ir e voltar dos serviços e/ou estudos e assim, nestas experiências, se animalizar de forma cada vez mais acentuada?Já nos últimos passos daquela infeliz fila me lembrei de Deus. A lembrança foi fugaz – não há tempo para digressões quando se precisa disputar um lugar em pé em um ônibus com os motores já ligados para partir –, mas intensa o suficiente para, em mim, formular o desejo da pergunta ainda inquietante: “Deus, que música você dança?”.
VACA ESTRELA E BOI FUBÁ
(de Patativa, Nietzsche e Deus, não necessariamente nesta ordem)
por Larissa Santos PereiraPensar
Pensar no que simboliza a música me faz lembrar de Nietzsche, que desafiadoramente, registra: “Eu não acreditaria em um Deus que não soubesse dançar”. Também eu não acreditaria em um Deus estático, enclausurado em sua redoma e apenas preocupado em anotar, diariamente, no grande Livro da Vida, os meus pecados diários. Sou católica, de formação judaico-cristã e, portanto, cresci em um ambiente no qual o Deus era realmente punitivo, mas, em contraponto, fortemente amoroso.Na Congregação das Irmãs da Sagrada Família, onde estudei e também na minha casa, a palavra Deus era sinônimo da palavra amor. Na minha casa, em especial, este bem-querer se dava tanto nas relações afetivas quanto na marcante presença da música. Ouvir música sempre foi significativo para a nossa família, sendo que o repertório variava dos ditos clássicos da MPB da época (saudosos anos 80), passando pelas “brasas” da jovem guarda e chegando até algumas expressões do forró e rock nacional.Dentre os cantores, minha mãe tinha predileção por Fagner, cearense que me inquietava pela firmeza com que ca(o)ntava não as músicas “de amor”, mas as histórias do cotidiano nordestino, como a seca e a conseqüente exploração do sertanejo. Nesse contexto, uma composição sempre me chamou a atenção: Vaca Estrela e Boi Fubá, da autoria de Patativa do Assaré, que tece uma narrativa entremeada de sofrimento e lirismo para caracterizar a vida do vaqueiro que, aos poucos, é forçado, pela lógica da seca perversa, a abrir mão de seu gado.Vaca Estrela e Boi Fubá é uma canção triste, que desperta nos/as ouvintes, uma sensação de estranheza no mundo, um nó na garganta que anestesia a vontade de agir, quase imobilizando o poder de reação. É também uma canção dura. Lembro de não entender porque a vaca e o boi em questão apresentavam nomes tão suaves, contrastando com o universo ali descrito: astúcias do sábio compositor.Hoje, passadas duas décadas de quando, certamente, ouvi pela primeira vez esta música, ela me veio à mente de forma arrebatadora, trazendo, ao seu lado, Nietzsche e Deus. Ontem à noite fui a uma Estação de Transbordo do Transporte Coletivo de Salvador. A capital da Bahia ostenta cerca de 3.350.523 habitantes, grande parte deles amontoados em sub-bairros, sub-empregos, sub-moradias, sub-opções de lazer, sub-vida, enfim. A Estação Pirajá, onde fui, serve como eixo de condução para muitos bairros periféricos de Salvador, com nomes expressivos, como Palestina ou Boca da Mata.Ao chegar à Estação eu, incauta escriba, fui informada de que havia uma fila de espera, não só para aguardar (uma média de 20, 30 minutos), como para, finalmente, ingressar no Amontoamento Noturno, vulgo Transporte Coletivo. Foi aqui, ao me reunir aos demais usuários daquele serviço, que recordei da vaca, de Nietzsche e de Deus, necessariamente nessa ordem. Explico-me: é estupenda a sensação de desumanização que aquela experiência causa no indivíduo. A ida, lenta e paciente para o ônibus, me fez imaginar-me como uma vaca, que, silenciosamente, resignava-se e caminhava para o Abatedouro. Não, não é exagero afirmar. Todos/as nós ali, naquele momento, éramos bois e vacas, impregnados da mais pura e ofensiva bestialidade.A minha caracterização animalizada naquele momento me espantava e, ao mesmo tempo, me indignava. A insistência profunda de Nietzsche ecoava em minhas reflexões: então, esta é a condição humana? É para isso que somos? É isso o que somos? Uma grande massa desprezível a que se titula povo, que se aglutina de manhã e à noite, para ir e voltar dos serviços e/ou estudos e assim, nestas experiências, se animalizar de forma cada vez mais acentuada?Já nos últimos passos daquela infeliz fila me lembrei de Deus. A lembrança foi fugaz – não há tempo para digressões quando se precisa disputar um lugar em pé em um ônibus com os motores já ligados para partir –, mas intensa o suficiente para, em mim, formular o desejo da pergunta ainda inquietante: “Deus, que música você dança?”.
E aí? Quer dizer que agora eu também sou jornalista?!!
Sim, agora você também é jornalista. Advogados, médicos, economistas, professores, pedreiros, donas de casa. Todos, jornalistas. O inciso V do art. 4º do Decreto-Lei 972 de 1969 que fixava a exigência do diploma de curso superior para o exercício da profissão de jornalista foi considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O diploma é desnecessário. Triste, infelizmente.E mais, além de alegar que o inciso V do art. 4º do Decreto-Lei 972 fere a liberdade de expressão, garantida pela Constituição, o STF comparou jornalistas com cozinheiros (nada contra a esta classe, ainda mais agora que somos parceiros). Comparar jornalista com cozinheiros, que não precisam de conhecimentos prévios para o preparo de um bom prato, é rudimentar. Retrocesso total.O jornalista cozinha palavras, aquece denuncias e assa informações. Pronto, a mídia virou um bolo. E, que bolo! Um bolo de confusões, com calda de matéria comprada e recheio de manipulação - não que antes não houvesse, porque a ética você tem ou não, independe de diploma.Então, por que fazer faculdade de jornalismo? Por que fazer inglês, espanhol ou francês? Porque o mercado pede, e, principalmente, porque a aquisição de conhecimento é sempre útil. As horas dedicadas às aulas de redação, história, geopolítica, economia, filosofia. Ás aulas técnicas de rádio e Tv. E, ainda, às aulas complexas de teoria da comunicação. Quatro anos de formação humana e ética, sem validade? Não! Aquilo que se aprende é propriedade eterna de quem o adquiriu.
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