sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Entre o vestido curto e a falta de respeito

A pátria tupiniquim, mais uma vez, cai nas graças do preconceito, da agressão e do anti-moralismo. O sinônimo do Brasil deveria ser hipocrisia. O país do futebol e do carnaval se contradiz diariamente, e, pior, massivamente. A nação do menor biquíni do mundo, do nudismo antes da páscoa e das mulheres frutas, como Melancia e Melão, desaprova vestido curto em estudante universitária. Que ironia!
E, o vestido curto, considerado ousado para aquela ocasião, toma dimensões maiores que a própria situação, diga-se repugnante. Do que falamos? Falamos sobre a estudante Geisy Arruda, 20 anos, de Turismo da Universidade Bandeirante (Uniban), em São Bernardo, no ABC paulista, que foi no dia 22 de outubro, para a universidade de vestido, considerado um tanto curto e ousado para a ocasião, causando um grande alvoroço pelos corredores, lotados por universitários que a hostilizaram. A jovem teve de ser escoltada pela Polícia Militar até sua casa.
E ninguém discutiu a situação, discutiu-se o comprimento do vestido, falou-se sobre roupas, dicas de moda, conceitos de vestimenta. Nada a respeito de machismo, de falso moralismo, de respeito e cidadania. O fato se limitou ao vestido, que, talvez, se não fosse curto como era (não era tão curto assim), não tivesse causado aquele tumulto. E, quem sabe, de calça jeans, Geisy, não tivesse garantindo para si a fama de ‘puta da Uniban’, como a intitularam nos vídeos expostos na web.
De acordo com a defesa de Geisy, até um dos policiais que a escoltou, teria repudiado a sua vestimenta e não os estudantes que a xingavam pelos corredores. "Ele deu lição de moral em vez de debelar a confusão", afirmou o seu advogado Nehemias Domingos de Melo.
Quanto à Unibam, instituição que deveria ter um posicionamento mais inteligente e ético, constata-se o insensato: a expulsão da estudante da universidade. A Uniban até que tentou ser mais cautelosa, mas a imprudência imperou na sindicância que foi instaurada para o caso. Assim, ao invés da expulsão dos alunos que incitaram as agressões, decidiu-se pela expulsão da estudante agredida. Os argumentos para tal ato são medíocres.
Alegando que a educação se faz com atitude e não complacência, a Uniban em nota publicada como anúncio publicitário em jornais neste domingo, 8, julga a vestimenta da moça, ressaltando que a mesma vinha vestindo com frequência roupas inapropriadas para usar numa universidade, e, mais, que Geisy, no dia 22, teria feito um caminho maior que o de costume, o que teria estimulado as agressões: “Foi apurado que a aluna tem frequentado as dependências da unidade em trajes inadequados, indicando uma postura incompatível com o ambiente da universidade, e, apesar de alertada, não modificou seu comportamento. A sindicância apurou que, no dia da ocorrência dos fatos, a aluna fez um percurso maior que o habitual aumentando sua exposição e ensejando, de forma, explícita, os apelos dos alunos que se manifestavam em relação à sua postura, chegando, inclusive, a posar para fotos.”
Não bastasse o descrito, a universidade (?) afirma que a atitude dos universitários perante à aluna foi “uma reação coletiva de defesa do ambiente escolar”:“Foi constatado que a atitude provocativa da aluna, no dia 22 de outubro, buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar, o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar.”
Por fim, a instituição que diz fazer educação com atitude e não complacência reitera a expulsão de Geisy e a suspensão, temporária, dos universitários envolvidos no escândalo: Decisão do Conselho Superior da Universidade: Diante de todos os fatos apurados pela comissão de sindicância, o Conselho Superior, amparado pelo relatório apresentado e nos termos do Regimento Interno, decidiu, com base no Capítulo IV – Regime Disciplinar, artigos 215 e seguintes: 1 – Desligar a aluna Geisy Villa Nova Arruda do quadro discente da Instituição, em razão do flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade; 2 – Suspender das atividades acadêmicas, temporariamente, os alunos envolvidos devidamente identificados no incidente ocorrido no dia 22 de outubro.
Com chave de ouro, a Unibam se diz descontente com a mídia, afirmando que os veículos de comunicação não contribuíram para um debate sério e equilibrado sobre temas fundamentais como ética, juventude e universidade. A nós, meros expectadores do fato e de sua repercussão, fica a dúvida: Entre o vestido curto e a falta de respeito, o que seria sério e equilibrado para a Uniban? Até os mais tolos responderiam apropriadamente esta questão.
*O texto foi escrito antes da Uniban voltar atrás e amenizar o ‘julgamento’ de Geisy, ‘acolhendo-a’ novamente na instituição. Também, escrevi antes dela ser convidada para posar nua e dela colocar megahair e mudar o visual (o vidinha!). Enfim, foi produzido antes de Geisy fazer piada da própria situação, aproveitando-se de uma ‘fama’ momentânea.

2 comentários:

  1. Lari, nem preciso te dizer que amei, né... e o quanto eu acho ridículo o circo que isso está se tornando.
    Amo vc, nega.
    Mtão.

    ResponderExcluir
  2. não vou comentar o fato, mas sim o seu profissionalismo. Você escreve muito bem! Se já gostava de vc antes de ler teus textos, gosto ainda mais agora. Li o texto com vontade. Só discordo de uma coisa no teu perfil... rs

    Bjs

    ResponderExcluir

Porque quem comunica se trumbica.