Não sei explicar ao certo o que eu senti. Acho que ver ele tão independente me fez perceber que a velocidade do relógio é rápida demais, que o tempo realmente não para. Pois, daqui um tempo, que cada vez fica mais perto, meu sobrinho não vai mais se agradar com os meus beijos e abraços apertados, com as minhas músicas cantadas erradas e fora de ritmo (afinação zero). Não vai mais ficar tagarelando atrás de mim, me puxando para andar de mão dadas ou pedindo para levar ele à piscina, à casa de alguém, para tomar um sorvete. Eu não vou mais escutar “Onde vamos, tia?”, assim, certinho, com o s no final do vamos (nem eu falo vamos, é vamo). Também, a voz gostosa de criança que dubla filme e que faz propaganda da OI, vai sumir.
Enfim, caiu a ficha. São quase dois anos que voltei para casa. Mas, não parece tanto, na verdade não parecia. Dois anos parecem pouco? Pouco ou muito, parece que eu não fiz nada. É esse nada que me aterroriza. Acredito que a proximidade do meu aniversário também contribui para que eu me sinta limitada ao tempo, querendo controlá-lo, vigiando para que ele não pule segundos, jamais os milésimos de segundo. Eu não tenho medo de ficar velha. Tenho medo de envelhecer, olhar para trás e achar que foi pouco. Às vezes eu quero voltar no tempo, outras quero adiantá-lo. Hoje, acho que por esses dias, eu quero saboreá-lo. Aprecia-lo sem moderação.
“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar
no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.”
(Carlos Drummond de Andrade, Contar o Tempo)
Enfim, caiu a ficha. São quase dois anos que voltei para casa. Mas, não parece tanto, na verdade não parecia. Dois anos parecem pouco? Pouco ou muito, parece que eu não fiz nada. É esse nada que me aterroriza. Acredito que a proximidade do meu aniversário também contribui para que eu me sinta limitada ao tempo, querendo controlá-lo, vigiando para que ele não pule segundos, jamais os milésimos de segundo. Eu não tenho medo de ficar velha. Tenho medo de envelhecer, olhar para trás e achar que foi pouco. Às vezes eu quero voltar no tempo, outras quero adiantá-lo. Hoje, acho que por esses dias, eu quero saboreá-lo. Aprecia-lo sem moderação.
“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar
no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.”
(Carlos Drummond de Andrade, Contar o Tempo)
Não se preocupe, será uma senhora muito bonita, apesar das rugas que representarão suas conquistas.
ResponderExcluirSérgio Maybuk.