quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Dando conta do tempo

Fiquei estarrecida ao presenciar aquela cena. Um misto de medo com insegurança, um friozinho na barriga. Ele estava lá, abrindo a geladeira e escolhendo o que ele queria comer. Então, ele olha para trás e vê que eu o observo, ainda perplexa. “Quero ioguti, tia. Tô pegando tá?!!”. Assim, como se nada tivesse acontecido. Olhei para a minha mãe. “Mãe , ele tá ficando grande!”. Ela confirmou com a cabeça, disse que ele já tinha 2 anos e meio, não se alterou - talvez porque ela já tenha criado dois filhos, viu os sobrinhos crescerem e é avó, afinal.
Não sei explicar ao certo o que eu senti. Acho que ver ele tão independente me fez perceber que a velocidade do relógio é rápida demais, que o tempo realmente não para. Pois, daqui um tempo, que cada vez fica mais perto, meu sobrinho não vai mais se agradar com os meus beijos e abraços apertados, com as minhas músicas cantadas erradas e fora de ritmo (afinação zero). Não vai mais ficar tagarelando atrás de mim, me puxando para andar de mão dadas ou pedindo para levar ele à piscina, à casa de alguém, para tomar um sorvete. Eu não vou mais escutar “Onde vamos, tia?”, assim, certinho, com o s no final do vamos (nem eu falo vamos, é vamo). Também, a voz gostosa de criança que dubla filme e que faz propaganda da OI, vai sumir.
Enfim, caiu a ficha. São quase dois anos que voltei para casa. Mas, não parece tanto, na verdade não parecia. Dois anos parecem pouco? Pouco ou muito, parece que eu não fiz nada. É esse nada que me aterroriza. Acredito que a proximidade do meu aniversário também contribui para que eu me sinta limitada ao tempo, querendo controlá-lo, vigiando para que ele não pule segundos, jamais os milésimos de segundo. Eu não tenho medo de ficar velha. Tenho medo de envelhecer, olhar para trás e achar que foi pouco. Às vezes eu quero voltar no tempo, outras quero adiantá-lo. Hoje, acho que por esses dias, eu quero saboreá-lo. Aprecia-lo sem moderação.

“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar
no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.”
(Carlos Drummond de Andrade, Contar o Tempo)

Um comentário:

  1. Não se preocupe, será uma senhora muito bonita, apesar das rugas que representarão suas conquistas.

    Sérgio Maybuk.

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Porque quem comunica se trumbica.