segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Você tem direito a um pedido...

Eu queria ter olhos menos apressados e abraços não tão pequenininhos.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Tudo por Dolores *

João perdeu a empresa, teve que vendê-la para pagar as dívidas acumuladas quando se afastou da diretoria , de quando achou que curaria a infelicidade de Dolores com mimos, terapia e tempo disponível para ela, só ela.

João Carreira era um português que contrariava as piadinhas acerca dos lusitanos, ele era extremamente inteligente, desses homens que são bons de negócios, de multiplicar fortunas. Ele multiplicou a fortuna dele. Dono de uma empresa de ônibus, abriu mais 10 filias espalhadas pelo interior do Paraná, na década de 50.
Com a empresa crescendo e prosperando, João Carreira conquistou não só status, mas muita mordomia para a família dele, que agora tinha mais de duas empregadas para cuidar da casa grande e dois motoristas que levava ele, a mulher e os filhos para onde quisessem.
A casa grande era apenas um dos imóveis que tinham. Compraram apartamentos e construíram um condomínio modesto, desses de casas para classe C e D. João tinha lucros consideráveis com os aluguéis, mas também investia em ações, para garantir que o dinheiro não tivesse fim. Naquela época, poucas pessoas faziam cruzeiros e viajavam para a Europa. A família de João vivia em cruzeiros e quase morava no continente europeu. Era puro glamour. Os negócios iam bem. A mulher gostava da boa vida que tinha e os filhos cresciam com grandes oportunidades, com um futuro ilustre, garantia Carreira. Até Dolores aparecer.
Ah Dolores! Dolores era linda. João Carreira se apaixonou por ela no primeiro dia em que a avistou. Foi num baile da alta sociedade. Dolores vestia seu melhor vestido, que acentuava suas curvas delicadas de seu corpo mignon.
João quis aquele corpo. E Dolores, percebendo o interesse, esbanjou sensualidade e bom papo. Filha de um grande fazendeiro da cidade, Dolores era da turma da vanguarda. Tinha estudado na França, cursado artes cênicas e tentado uma vida no Rio de Janeiro, ela não combinava nadinha com aquela cidade interiorana, para onde seu pai a havia arrastado. E João achou a vida dela, o jeito dela, sobretudo ela, o máximo.
Largou a mulher, esqueceu dos filhos e foi morar num dos apartamentos que alugava com Dolores, que achava justa a decisão de Carreira, bolando planos para a vida a dois que levariam. O relacionamento durou cinco anos. João e Dolores se entediam muito bem, mas Dolores, de repente, sem motivos, achou que não era realmente feliz. Falou sobre isso com Carreira, que pagou terapeuta, que lhe deu joias e inúmeras viagens, que se afastou da empresa.
Dolores ficou com os apartamentos e com o condomínio de João. A ex-mulher e os filhos se mudaram da casa grande para uma bem pequena, viveram um tempo das ações que tinham comprado. João? João perdeu a empresa, teve que vendê-la para pagar as dívidas acumuladas quando se afastou da diretoria, de quando achou que curaria a infelicidade de Dolores com mimos, terapia e tempo disponível para ela, só ela.
Continuou na empresa como motorista. De dono das 10 - fora a sede - empresas de ônibus para motorista de uma das empresas. Hoje, com mais de 60 anos, ainda trabalha como motorista de ônibus da empresa que no passado foi dele. De vez em quando visita a ex-mulher e os filhos. Da Dolores não tem mais notícias, nunca mais a viu, desde que o abandonou, levando seus últimos bens. Mas, só de se lembrar dela ou pronunciar o nome, ele suspira. Faria tudo de novo por Dolores, afirma.

*História verídica. Achei João burro, extremamente burro. Gostei da Dolores, quis ser tão hipnotizante quanto ela, claro.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O Anacoreta

É como se a solidão me tocasse e num arrepio único eu sentisse todo o frio que há aí fora, e aqui dentro também.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Da coragem de fazer seu próprio destino

Quer saber? Descobri que egoísta e individualista não são vocábulos que rimam verdadeiramente comigo. Não parece, vocês não vão notar, ninguém vai notar, mas os contornos que eu fiz não foram pensando em mim. Sou dona do meu nariz e o apontei para onde quis. Mas o caminho que tracei não é o que eu escolheria, caso pensasse só em mim. Dei-me conta disso somente agora, num momento em que eu abandonaria tudo para, novamente, seguir na vida dos outros. Na vida dos outros! De repente, senti-me muito mais envolvida e comprometida com os outros do que comigo mesma. Uma hora eu vou ter que decidir. Eu ou vocês? Difícil escolher, mas extremamente necessário para a minha realização pessoal. Nesse momento, sim, eu sou egoísta. Às vezes ser egoísta é preciso. Não é mesmo? Também acho que isso não é questão de ser egoísta ou não. É coragem! E eu estou ficando corajosa. Se eu resolver seguir o meu destino estarei logo ali, depois da curva.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Notícia ruim

Um silêncio absoluto e infinito invadiu a sala, depois do diagnóstico. Toda a família reunida e nenhuma palavra trocada. Ninguém se olhava. Disfarçavam a surpresa e a tristeza do laudo médico mirando a TV, fingindo que prestavam atenção no noticiário. Os movimentos eram limitados, mecânicos. Nem pai, mãe, filhos, netos e o marido tiveram coragem de expressar aquilo que sentiam. Medo. Com uma pitada ardida de impotência.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Uma prece não atendida

“Está de greve com o mundo?", eu perguntei, você riu e disse: “Você quer saber de tudo”. E riu de novo, como se eu fosse uma tola. Eu também me achei tola.

Eu fico sem saber o que fazer, sem saber por onde começar - se é que tem começo. Então, eu tento interagir na tentativa de resgatá-la de si mesma. É, eu acho que você está presa em si mesma. Mas ainda não sei se é porque quer ou porque não consegue se libertar. Não acho justo essa prisão. Você, quietinha e amuada. Murcha. Logo você que sempre foi tão expressiva, viva. Sinto falta de suas reclamações constantes e de seu mau humor instantâneo. A falta é tanta que numa tentativa desesperada eu me ponho a conversar com você, mesmo sem resposta, mesmo sem sua atenção. Eu falo bastante, faço-lhe mil perguntas, conto-lhe da minha vida, faço observações e comentários inoportunos. E continuo tagarelando até você dizer alguma coisa, rir. Nunca pensei que comemoraria por você formular uma frase de três ou quatro palavras. Quando isso acontece, de você pronunciar uma frase inteira, eu vibro! E me sinto vitoriosa por ter conseguido tal proeza. Porque agora isso se tornou proeza, não é mesmo? Falar, seu dom natural, agora é ato nobre, só para poucos, pouquíssimos e só de vez em quando, tá ficando raro. E eu me preocupo com isso. A preocupação é tamanha que me dá enjôo, dor de cabeça, ânsia. Porque eu quero entender o porquê, eu quero descobrir a causa, dar uma rasteira na medicina, que ainda não me diz o que você tem. Alguns dizem “é normal da idade” como palavras de consolo, mas não me consola. Jamais a imaginei assim, nesse estado inerte, praticamente estática. Eu já pensei em greve. Sim, em greve! Eu faço isso de vez em quando, fico de greve, sem falar, sem me dirigir a certas pessoas. Você poderia estar de greve comigo. Mas não está né? Não é só a mim que não responde, mas a todos que estão a sua volta. “Está de greve com o mundo?”, eu perguntei, você riu e disse: “Você quer saber de tudo”. E riu de novo, como se eu fosse uma tola. Eu também me achei tola. Daí eu perguntei se você estava feliz, foi quando seus olhos saltaram. E você continuou muda, calada. Eu insisti, perguntei o que sentia, se era tristeza. Então, você me deu uma resposta sabia: “A vida tem disso”. É...ninguém é feliz por 24 horas. “Felicidade eterna só nos comerciais de margarina, né?!!”. Você sorriu, fazendo carinho na minha mão. E eu corri. Corri para longe de você, para que não percebesse o quanto sou fraca. Chorei até meus olhos não aguentarem mais, até ficar com o rosto levemente deformado, inchado. É frustrante não tê-la por completo. Eu não desejei ver você desse modo. Em minhas preces sempre lhe pedi uma boa velhice. Não me atenderam. E, sinceramente, uma prece não atendida me deixa transtornada, totalmente perdida. Agora eu quero um milagre. Milagre, dizem, é mais difícil. Ai ai...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O que me faz sorrir?

O chinelo do meu sobrinho no meio da sala me faz sorrir. Eu sinto a presença dele mesmo sem vê-lo e é tão bom senti-lo assim. Vê-lo vestido de Batman ou arrancando a camisa para ser o Huck ou ficando só de cueca para ser o Tarzan me faz sorrir. Ele me faz sorrir! Minha mãe me faz sorrir, sempre fez e sempre vai fazer. Amigos, desses que eu colocaria num potinho, me fazem sorrir.Demasiadamente. Pessoas, de qualquer tipo, me fazem sorrir. Mesmo uma velha albina, de temer, me faz sorrir. Porque não é fácil achar a beleza escondida. E todo mundo tem seu charme! Não tem?
Caras estranhos me fazem sorrir, sobretudo os barbudos! Investidas de amores do passado me fazem sorrir também. Sensação gostosinha essa. A minha vida amorosa me faz sorrir. Na verdade, gargalhar. Tenho boas histórias, um dia, quem sabe, eu as publique em algum lugar. Arrancaria risos de muita gente, certeza. As minhas cantadas me fazem sorrir. Afinal, bancar a pedreira não é para qualquer uma, não é mesmo?
O Duca Leindecker me faz sorrir. Como não sorrir diante de um riso tão encantador? E ele riu para mim, tenho a prova! Estar escrevendo um livro me faz sorrir. Sorrir à toa, de um jeito diferente. É um sorriso natural, meio bobo até. Ficar sozinha, esticar a perna e saborear um livro que ganhei me faz sorrir. Para cada livro, um sorriso. Ah! As dedicatórias que me escrevem nos livros me fazem sorrir. São as melhores dedicatórias. Vinho me faz sorrir, não é por causa do efeito do álcool, é porque a bebida me leva para um tempo bom, de muito companheirismo e papos descontraídos.
As minhas viagens me fazem sorrir. Para cada canto que vou, um encontro. Sempre acho pessoas especiais, dessas que por uma semana fazem a diferença para toda a vida. O trajeto das viagens me faz sorrir. A estrada pode proporcionar momentos únicos, como a preocupação com uma amiga que “foi ao banheiro”; um mapa do destino rolando no asfalto; um pote de sorvete, que derreteu claro, comprado para comer no caminho; um esquenta animado antes de chegar à festa...Vários sorrisos. Músicas me fazem sorrir. A minha vida sem música seria cinza, as melodias me dão cores.
Ah! Ver cores me faz sorrir! Também cheiros e toques me fazem sorrir. E escrever sobre o que me faz sorrir, me faz sorrir. Porque tudo aquilo que é importante vem à tona, mexendo com os meus sentidos...Satisfação.


Obs: Os blogs que me fazem sorrir já ganharam o selo (vocês sabem o quanto me fazem sorrir!)...A Dayse me faz sorrir. Sorria, meu bem!


domingo, 6 de fevereiro de 2011

O mesmo caminho para um destino diferente

Foi andando. Há tempos não percorria o trajeto até a casa com as próprias pernas. Seguiu por suas ruas preferidas, pelas quais, por mais que tentasse desviar, acabava sempre passando, observando sempre as mesmas casas, as mesmas flores, as mesmas árvores, as mesmas pessoas. Meses sem andar por ali e nada tinha mudado. As mudanças demoram a acontecer, disse a si mesma em pensamento.
Às 18h e alguns minutos, o fusca vermelho estava parado em frente à escola pela qual passava. O carro sempre estava lá, sem ninguém ao volante ou no banco do passageiro. Era um automóvel bem cuidado, embora antigo. Só os bancos que não eram tão bons. Ao ultrapassar o fusca imóvel pela calçada lateral, podia espiar pelos vidros o ambiente interno. Os bancos ainda estavam cheios de furos, com a cor gasta e o volante também. O dono ainda não arrumou. Ou a dona. Nunca soube quem era o proprietário daquele carro, mesmo conhecendo seus defeitos. Defeitos antigos, de quando passava por aquela rua todos os dias, talvez de antes do atual dono do fusca tê-lo.
Após o fusca, avistaria uma velha varrendo a calçada. Ao inclinar seu corpo para dobrar a esquina, enxergou a velha. Ainda mais velha, ainda mais lenta. Tinha muitas folhas para varrer. E as varria todos os dias, naquela hora do dia. Olhou para cima, para a rede elétrica, e viu o par de All Star gasto junto do céu azul. Há meses o tênis estava lá. Talvez anos. Porque demorou para notar o calçado preso na rede elétrica, já que anda olhando para frente e para baixo, normalmente contando seus passos. Vez ou outra algo lhe chama a atenção, então olha para os lados ou ergue a cabeça.
Foi num dia quente que avistou o All Star, num dia de semana, desses que mesmo depois das 18h o sol ainda se faz presente, vivo, quente. Meninos e meninas daquela rua arremessavam pedras, galhos e afins para cima na tentativa de tirar o tênis do fio de energia. As crianças não conseguiram tirar o All Star de lá, constatou.
Seguindo reto, na descida, esbarraria com uma casa de um jardim cheio de rosas, das mais diversas, das mais belas. Era uma casa modesta, mas extremamente charmosa, com uma varanda que contorna a casa. A rede pendurada não era mais da cor de antes. Também notou que o senhor que lia na cadeira de balanço não estava por lá. Era a hora da leitura dele, ela sabia disso. Durante anos o viu devorando livros sobre aquela cadeira, que se encontrava vazia, naquela varanda, naquele horário. Ele deveria estar ali. O senhor combinava tanto com as rosas do jardim! Uma vez o viu conversando com as flores enquanto as regava. Antes de dar as costas para a casa, um moço embicou o carro no portão, impedindo que ela passasse. O moço podia ser o senhor da cadeira quando jovem. Talvez o velho tivesse morrido e o filho tomava conta da casa. Sentiu pelo senhor, mas ficou feliz pelas rosas, que continuavam belas.
Retomou os passos após o moço adentrar com o carro na garagem. Passou pela construção abandonada, pela igreja que nunca viu aberta. Pelo bar de onde sempre ecoavam gritos e risadas provocados pelo bingo. Bingoooo! O canto das cigarras ia ficando mais ameno à medida que caminhava. Sorriu para os vizinhos que chegavam e para aqueles que já proseavam reunidos na calçada. Desviou da bicicleta de uma das crianças. Pulou o buraco no qual por inúmeras vezes machucou o pé. Subiu o degrau que separava uma calçada da outra. Chegou em casa. Era sua última noite ali. Deixou um colchão para dar o adeus definitivo.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Flertando aos 26 anos

Ele: Na nossa idade não tem mais essa coisa de amor...A gente tem que começar a ver quem combina mais com a gente...
Ele a olha, esperando uma resposta. Ela fica por segundos sem responder, analisando o que foi dito. Pensa na idade, na idade de novo e de novo na idade. Sente-se nova ainda para viver um amor de verdade, mais uma vez.
Ela: É...pode ser.
Diz, concluindo que ambos não combinavam.