Barbeira. Descobri que sou barbeira, definitivamente. Minha mãe, defendendo o meu moral, insiste em dizer que não, não sou barbeira. “Filha você é distraída”, repete ela, na tentativa de me convencer de que meus deslizes no trânsito são apenas...distrações. Ainda não me convenci disso, e me defino barbeira. Sem remorsos. Mas, frustrante. Tem gente que nasceu para viver na boleia, eu ainda não sei para quê vim ao mundo, mas, estou certa de que não foi para viver na boleia. Uma pena.
Eu tirei carteira aos 18 anos, assim, recém-completados e eu já dirigindo. Nunca tinha pegado o carro até iniciar as aulas na autoescola. Embora a falta de prática, eu não era tão ruim assim. Fiz as aulas necessárias, nem mais e nem menos. Passei de primeira, juro, sem suborno. Até a baliza eu fiz. Quando desci do carro, após ter feito a baliza mais perfeita (e a única) de toda a minha vida, minha instrutora (uma perua, que passava cremes nas mãos para não ficar com rugas, vestia-se muito bem, sempre de salto e cabelos escovados, uns 26 anos) deu um grito e correu para me abraçar. Pronto: eu era motorista. Orgulho.
O orgulho durou pouco. Um ano. Meus 18 anos foram bem aproveitados, de acordo com uma amiga minha, com a quantidade que rodei de carro nessa época eu poderia ter ido à Lua. Exagero, pode ser, mas que eu dirigi muito, dirigi. Levava todo mundo para todos os cantos, já que eu fui a primeira da turma a tirar a tal da carteira de motorista. Eu dirigia razoavelmente, mesmo sem experiência.
Então, numa tarde, na qual tínhamos combinado de ir ao cinema, ao atravessar uma das avenidas principais da cidade, um bêbado, doido, num opala caindo aos pedaços, bateu no carro, no carro do meu pai. Foi o fim. E, pior, como eu tinha atravessado a preferencial, a culpa, de acordo com as leis de trânsito, era minha. A batida foi feia, a gente rodou. O carro entortou. O bêbado maluco estava estacionado, na hora em que eu fui atravessar a avenida, ele resolveu ligar o carro e sair em alta velocidade. Não teve outra: PUM! Batida.
Faltava um mês para eu tirar a carteira definitiva, eu ainda estava com a permissão. Eu chorava, primeiro porque o bêbado era um estúpido, falava mole, tentando me xingar,tiveram inclusive que segurar ele, sabe-se se lá o que ele faria naquela situação, dominado pelo álcool. Também, eu chorava por causa da bronca que levaria, já imaginando o sermão do meu pai, mesmo eu não estando errada. E os policiais sabiam que a minha carteira era a permissão. Perdi a carteira, pensava.
No fim os policiais foram bacanas, não levaram a minha carteira, deixaram tudo no nome do meu pai. Ficamos de acertar com o bêbado, que teve a sorte de estar na preferencial. Apesar das testemunhas, meu pai não quis discutir muito com o sujeito, porque, pelo que aparentava, não parecia muito boa gente. Na época, o bêbado levou uns bons trocados da minha família. E isso custou caro para mim. Perdi a minha liberdade de dirigir. Passei anos sem pegar no carro direito. Meu pai me azucrinava, me dava mil conselhos antes de sair de casa, me lembrava do valor que ele tinha pagado ao bêbado. Cansei, desisti de dirigir.
Voltei ao volante há uns seis meses, por insistência da minha mãe. Eu até gosto de dirigir, mas não ando muito inspirada. Parece que regride tudo, pois eu não deixava o carro morrer quando eu tirei a carteira, hoje, isso vive acontecendo. Também não errava constantemente as trocas de marcha e nem fazia as curvas como eu faço hoje. Minhas curvas são péssimas. Eu culpo o carro, lamento pelo câmbio duro, pelo volante duro, pelo banco fora do lugar. Eu sei que não é o câmbio, não é o volante e nem o banco. Sou eu. Eu barbeira. Bibi! Fonfon! Pepê
Eu tirei carteira aos 18 anos, assim, recém-completados e eu já dirigindo. Nunca tinha pegado o carro até iniciar as aulas na autoescola. Embora a falta de prática, eu não era tão ruim assim. Fiz as aulas necessárias, nem mais e nem menos. Passei de primeira, juro, sem suborno. Até a baliza eu fiz. Quando desci do carro, após ter feito a baliza mais perfeita (e a única) de toda a minha vida, minha instrutora (uma perua, que passava cremes nas mãos para não ficar com rugas, vestia-se muito bem, sempre de salto e cabelos escovados, uns 26 anos) deu um grito e correu para me abraçar. Pronto: eu era motorista. Orgulho.
O orgulho durou pouco. Um ano. Meus 18 anos foram bem aproveitados, de acordo com uma amiga minha, com a quantidade que rodei de carro nessa época eu poderia ter ido à Lua. Exagero, pode ser, mas que eu dirigi muito, dirigi. Levava todo mundo para todos os cantos, já que eu fui a primeira da turma a tirar a tal da carteira de motorista. Eu dirigia razoavelmente, mesmo sem experiência.
Então, numa tarde, na qual tínhamos combinado de ir ao cinema, ao atravessar uma das avenidas principais da cidade, um bêbado, doido, num opala caindo aos pedaços, bateu no carro, no carro do meu pai. Foi o fim. E, pior, como eu tinha atravessado a preferencial, a culpa, de acordo com as leis de trânsito, era minha. A batida foi feia, a gente rodou. O carro entortou. O bêbado maluco estava estacionado, na hora em que eu fui atravessar a avenida, ele resolveu ligar o carro e sair em alta velocidade. Não teve outra: PUM! Batida.
Faltava um mês para eu tirar a carteira definitiva, eu ainda estava com a permissão. Eu chorava, primeiro porque o bêbado era um estúpido, falava mole, tentando me xingar,tiveram inclusive que segurar ele, sabe-se se lá o que ele faria naquela situação, dominado pelo álcool. Também, eu chorava por causa da bronca que levaria, já imaginando o sermão do meu pai, mesmo eu não estando errada. E os policiais sabiam que a minha carteira era a permissão. Perdi a carteira, pensava.
No fim os policiais foram bacanas, não levaram a minha carteira, deixaram tudo no nome do meu pai. Ficamos de acertar com o bêbado, que teve a sorte de estar na preferencial. Apesar das testemunhas, meu pai não quis discutir muito com o sujeito, porque, pelo que aparentava, não parecia muito boa gente. Na época, o bêbado levou uns bons trocados da minha família. E isso custou caro para mim. Perdi a minha liberdade de dirigir. Passei anos sem pegar no carro direito. Meu pai me azucrinava, me dava mil conselhos antes de sair de casa, me lembrava do valor que ele tinha pagado ao bêbado. Cansei, desisti de dirigir.
Voltei ao volante há uns seis meses, por insistência da minha mãe. Eu até gosto de dirigir, mas não ando muito inspirada. Parece que regride tudo, pois eu não deixava o carro morrer quando eu tirei a carteira, hoje, isso vive acontecendo. Também não errava constantemente as trocas de marcha e nem fazia as curvas como eu faço hoje. Minhas curvas são péssimas. Eu culpo o carro, lamento pelo câmbio duro, pelo volante duro, pelo banco fora do lugar. Eu sei que não é o câmbio, não é o volante e nem o banco. Sou eu. Eu barbeira. Bibi! Fonfon! Pepê