O metro estava lotado, muita gente de pé e nós sentados, assim como vários outros. Do meu lado uma senhora sentada que com frequencia dirigia seu olhar para o senhor que estava a sua frente. Ele também a observava,descaradamente, ambos se queriam muito, havia necessidade e docilidade no olhar deles, que se desejavam desesperadamente. Entre um olhar e outro, a história, o companheirismo, a vida a dois. As maos dela denunciavam os tantos anos vividos e o rosto dele permitia-me lhes dar idade, entre os 50 e 60 anos, talvez mais. Intrigada, obsevava-os, na verdade admirava aquela vontade dos dois, de um sucumbir-se o outro, ali, na frente de todos. Vagou um canto ao lado dele. Ela pulou para o lado de lá, onde ele a esperava. Ela o entrelacou, apertando-o para si. O abraco durou uns instantes, e eu ali de espectadora de uma das cenas mais singelas que preseciei. Doce, era doce ver o casal de mais de 50 anos ainda apaixonadamente apaixonados. Ainda a dois. O abraco deles impregnou o metro de amor.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Porque o meu sonho é conhecer esse mundão de Deus
Foi na Bahia que conhecemos o Pablo, ele estava junto com o seu amigo Gaston. Dois argentinos que foram ao Festival de Verão de Salvador para assistir Gilberto Gil...um tanto intrigante, visto que por lá passam as melhores bandas de rock, pop e axé – sem desmerecer o Gil, claro, mas Pablo e Gaston ainda não fizeram seus 30 anos. Eles desconheciam a grandeza do Festival, mas a Paula fez questão de informar e de alertá-los que a qualquer momento um baiano seria capaz de roubar tudo o que eles tinham, carteira, máquina fotográfica, tênis...Os dois tremeram, literalmente. Mais relaxados, curtiram o show, na verdade os shows. E foram empurrados de um lado para o outro pela multidão que coreografava a música da Banda Eva: “Todo mundo pro lado de lá, todo mundo pro lado de cá”. Foi engraçado.
Após dois anos, vamos conhecer o país dos hermanos que estavam totalmente perdidos numa noite de tanta mistura, que, vale ressaltar, amaram. Convidamos-nos para ficar na casa do Pablito, que, muito bonzinho, não nos disse não. Pois, bem. Acho que agora é a nossa vez de ficarmos perdidas, de não sabermos o que falar e como agir. É a nossa vez de tremer, literalmente. Então, torço para encontrarmos pessoas, que assim como nós, nos informem e nos alertem dos perigos (será que têm?) que poderemos enfrentar. Tô fazendo figa para que não sejam argentinos, na expectativa de encontrar ‘guias turísticos’ que sejam italianos ou chilenos, indianos, bolivianos, peruanos. O importante é que sejam de uma nação que ainda não desbravamos, pois “quem tem boca vai a Roma”. É um tanto improvável, mas não impossível...Argentina, aí vamos nós!
Após dois anos, vamos conhecer o país dos hermanos que estavam totalmente perdidos numa noite de tanta mistura, que, vale ressaltar, amaram. Convidamos-nos para ficar na casa do Pablito, que, muito bonzinho, não nos disse não. Pois, bem. Acho que agora é a nossa vez de ficarmos perdidas, de não sabermos o que falar e como agir. É a nossa vez de tremer, literalmente. Então, torço para encontrarmos pessoas, que assim como nós, nos informem e nos alertem dos perigos (será que têm?) que poderemos enfrentar. Tô fazendo figa para que não sejam argentinos, na expectativa de encontrar ‘guias turísticos’ que sejam italianos ou chilenos, indianos, bolivianos, peruanos. O importante é que sejam de uma nação que ainda não desbravamos, pois “quem tem boca vai a Roma”. É um tanto improvável, mas não impossível...Argentina, aí vamos nós!
domingo, 20 de dezembro de 2009
Sobre a noticiabilidade do suicídio
Entre o noticiar ou não o suicídio, opto pelo não. Existe (ou pelo menos existia) um código de ética dentro da imprensa que declara que o suicídio não deve ser noticiado, que o ato não deve ser explorado, a não ser quando se trata de um caso memorável, no caso de pessoas públicas ou quando a situação é única, como os suicídios em massa. E, mesmo assim, estes suicídios devem ser tratados com responsabilidade, indo além da narração do “ele se matou com um tiro” ou “se matou por causa disso e daquilo”, há a necessidade de depoimentos de especialistas, e, principalmente, o abster-se dos aspectos sensacionalistas.
A princípio, o suicídio é de interesse de quem o pratica e de seus familiares, não havendo motivos para a propagação de tal ato, visto que não deve ser nada confortante para pais, irmãos, avós ou amigos se depararem com notas, matérias ou reportagens do ente querido, que, na maioria das vezes, se mata por problemas que até então todos desconheciam. E, por aqui, em menos de uma semana, três suicídios aconteceram. Os três muito bem noticiados, estampando as páginas de jornais, colorindo a telinha, ecoando pelas ondas do rádio ou em chamadas extremamente agressivas no monitor. Nenhum dos “auto-assassinos” era gente famosa, então, por que noticiar um suicídio?
Por que dá ibope? Porque causa imensos e incontroláveis burburinhos pela cidade. Porque o suicídio instiga a curiosidade. Não sei. O fato é que o porquê de não divulgar é mais sensato do que os vários porquês de divulgar. Suicídio é coisa séria, não é espetáculo de praça e nem capítulo de novela. Especialistas garantem que a divulgação de suicídios pode desencadear uma série de outros. Pesquisas apontam que há um aumento de 2% em casos de suicídio quando uma história semelhante aparece na imprensa.
Independente de exercer influência, de dar ideias ou quem sabe até incentivo, acredito que a publicação do suicídio faz mal. Mal para quem lê, mal para quem fica – os parentes e conhecidos que se culpam por naquele instante serem totalmente dispensáveis e tão insignificantes. Noticiar suicídio é que nem publicar assassinatos, detalhar estupro ou explorar histórias tristes de pessoas simples: não é notícia. São mazelas de uma sociedade, mazelas muito mal retratadas e personagens muito mal descritos.
A princípio, o suicídio é de interesse de quem o pratica e de seus familiares, não havendo motivos para a propagação de tal ato, visto que não deve ser nada confortante para pais, irmãos, avós ou amigos se depararem com notas, matérias ou reportagens do ente querido, que, na maioria das vezes, se mata por problemas que até então todos desconheciam. E, por aqui, em menos de uma semana, três suicídios aconteceram. Os três muito bem noticiados, estampando as páginas de jornais, colorindo a telinha, ecoando pelas ondas do rádio ou em chamadas extremamente agressivas no monitor. Nenhum dos “auto-assassinos” era gente famosa, então, por que noticiar um suicídio?
Por que dá ibope? Porque causa imensos e incontroláveis burburinhos pela cidade. Porque o suicídio instiga a curiosidade. Não sei. O fato é que o porquê de não divulgar é mais sensato do que os vários porquês de divulgar. Suicídio é coisa séria, não é espetáculo de praça e nem capítulo de novela. Especialistas garantem que a divulgação de suicídios pode desencadear uma série de outros. Pesquisas apontam que há um aumento de 2% em casos de suicídio quando uma história semelhante aparece na imprensa.
Independente de exercer influência, de dar ideias ou quem sabe até incentivo, acredito que a publicação do suicídio faz mal. Mal para quem lê, mal para quem fica – os parentes e conhecidos que se culpam por naquele instante serem totalmente dispensáveis e tão insignificantes. Noticiar suicídio é que nem publicar assassinatos, detalhar estupro ou explorar histórias tristes de pessoas simples: não é notícia. São mazelas de uma sociedade, mazelas muito mal retratadas e personagens muito mal descritos.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Não, não vá embora...
Porque eu vou morrer de saudade! Vou sentir falta de todas as brigas, de todos os carinhos, de todos os gritos...
Por isso que voltei, porque amo estar rodeada deles, de tê-los pelos quartos, pela sala, pela cozinha ou até disputando um espelho, uma pasta de dente, dividindo tudo, querendo dividir nada. A minha família não é nem um pouco normal, mas o amor que devoto a ela é monstruoso, todos temos as nossas diferenças e desavenças que se quadruplicaram com problemas que enfrentamos durante uns bons anos. Contudo, o nosso jeito é esse, e acredito que muita família quietinha não se ama e se ajuda tanto quanto nós nos amamos e nos ajudamos. Acho que faz parte da nossa genética italiana, muita voz alta, muitas gesticulações e um emaranhado de sentimentos expressados. Os que me conhecem sabem que eu preciso do tempo comigo mesma, a solidão por uns instantes me convém, é necessária. Todavia, jamais desejei ficar alheia a eles, gosto de casa movimentada, de gente berrando, de risadas espontâneas, de conversar no sofá ou na cama de um de nós. Sou apaixonada pelos nossos passeios em conjunto, quando todo mundo está reunido, mesmo que seja para ir à missa ou para assistir a um filme sem graça na televisão. Os almoços de domingo são os melhores, é tudo tão bom, desde a comida, a bebida, as conversas enquanto se come. Ainda não parece certo e concreto que eles se vão, também não quero pensar nisso, embora isso persiga a minha mente e o meu coração por dias, nessa semana. Eu sei que se eles se forem, por certo eu chorarei. O meu peito vai congelar. Mas, enquanto eles não se vão, pretendo apreciá-los muito mais do que eu os apreciei e venerei por esses meus 24 anos.
Por isso que voltei, porque amo estar rodeada deles, de tê-los pelos quartos, pela sala, pela cozinha ou até disputando um espelho, uma pasta de dente, dividindo tudo, querendo dividir nada. A minha família não é nem um pouco normal, mas o amor que devoto a ela é monstruoso, todos temos as nossas diferenças e desavenças que se quadruplicaram com problemas que enfrentamos durante uns bons anos. Contudo, o nosso jeito é esse, e acredito que muita família quietinha não se ama e se ajuda tanto quanto nós nos amamos e nos ajudamos. Acho que faz parte da nossa genética italiana, muita voz alta, muitas gesticulações e um emaranhado de sentimentos expressados. Os que me conhecem sabem que eu preciso do tempo comigo mesma, a solidão por uns instantes me convém, é necessária. Todavia, jamais desejei ficar alheia a eles, gosto de casa movimentada, de gente berrando, de risadas espontâneas, de conversar no sofá ou na cama de um de nós. Sou apaixonada pelos nossos passeios em conjunto, quando todo mundo está reunido, mesmo que seja para ir à missa ou para assistir a um filme sem graça na televisão. Os almoços de domingo são os melhores, é tudo tão bom, desde a comida, a bebida, as conversas enquanto se come. Ainda não parece certo e concreto que eles se vão, também não quero pensar nisso, embora isso persiga a minha mente e o meu coração por dias, nessa semana. Eu sei que se eles se forem, por certo eu chorarei. O meu peito vai congelar. Mas, enquanto eles não se vão, pretendo apreciá-los muito mais do que eu os apreciei e venerei por esses meus 24 anos.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Dançando, dançando...
Brasília ficou pequena. São inúmeros desvios, onde o dinheiro dos cofres públicos são alojados em cuecas. Tem gente que prefere o bolso mesmo e outros que afirmam que o montante era para os panetones das criancinhas. É tanta sujeira que ninguém mais enxerga limpo. Todo mundo acaba achando normal uma ocultada aqui, uma mentirinha ali, uma aumentada lá ou diminuída para cá. No momento, quem estampa as manchetes dos jornais é o governador do Distrito Federal, José Arruda (DEM – na verdade ex-DEM e hoje sem partido), personagem de um dos maiores escândalos filmados no Brasil. Partiu dele a ideia do panetone (bem convincente! ). Mas, em breve, brevíssimo, ele será mais um que deixará o atual governo, porém, assim como os demais, jamais deixará de lado a política – é muito amor à população, à cidadania e ao bem estar do próximo, do próximo bem material que ele mesmo queira comprar.José Arruda hoje é ladrão. Contudo, amanhã ele pode ser de novo governador ou talvez deputado, prefeito ou vereador (exemplos: Collor, Maluf, Sarney e ACM – in memorian). E, ainda, existe a possibilidade dele ser chamado para algum cargo de confiança. Arruda não ligaria. Só em seu governo são mais de 18 mil cargos comissionados. Sim, 18 mil pessoas que ele escolheu para atuar (roubar?) ao seu lado. Dizem por aí que a quantidade é grande, já que ao governo federal são destinados 21 mil cargos comissionados (21 mil cargos que são distribuídos por todo o Brasil, situação ‘similar’ a de José Arruda, que tem 18 mil pessoas de sua confiança espalhadas por toda...Brasília). É! Aperta, estica e puxa: rouba (todo mundo junto e sincronizado).
sábado, 12 de dezembro de 2009
Aquele abraço
Gosto de um abraço abraçado. Junto com o abraço eu sinto o cheiro e o carinho da pessoa que me aperta. Quando me dá saudade, eu me imagino abraçando a pessoa da saudade. Tenho amigos que têm abraços mais gostosos. O momento também intervém. Têm dias que o abraço de hoje ganha mais sentido que o abraço de ontem e vice-versa. Eu sinto vontade de abraçar as pessoas, até quem eu não conheço. Sinto a vontade e depois passa, é quando a pessoa atravessa a rua e eu a perco de vista. Mas, mesmo assim, a vontade de me entrelaçar a alguém é repetitiva. E lá vez em quando eu peço um abraço apertado para me despertar. Submeto-me ao abraço, ao toque de gente carregado de afago. Com o abraço eu equilibro as energias e os meus pés flutuam. Acho que o abraço eterniza e inspira a pessoa abraçada, resgata. É exílio a dois. Ele inala e lança vontades. Daí a minha paixão por um abraço abraçado e a minha necessidade de estar por entre seus braços. Mesmo sem saber em quais...
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Quem tem medo da imprensa?
“Foi um serial killing, aberração serial cometida arrogantemente ao longo de dez dias consecutivos: a Folha errou ao publicar o texto, errou no dia seguinte, incapaz de desculpar-se perante os leitores, errou quando não prestou atenção à primeira e breve reprimenda do ombudsman (domingo, 29/11), errou quando localizou o pivô do episódio e colocou em sua boca uma condenação ao texto e não à decisão de publicá-lo, e errou ao silenciar por tanto tempo diante de um desvio de conduta destas proporções. O ouvidor identificou outros erros, todos gerados pela mesma onipotência.” Alberto Dines, Observatório da Imprensa
Sem eleições ou qualquer outra prerrogativa, o jornalismo garantiu para si o quarto poder. Com o poder em mãos, institui-se como o detentor da verdade, aquele que discorre fatos assim como estes verdadeiramente o são. Daí a necessidade de verificar o assunto sobre o qual se discorre, de procurar fontes precisas, de ver os ‘dois lados da moeda’. Pois, assim, mesmo que a notícia não fosse/seja imparcial, visto que um texto é carregado ‘do nosso olhar’, ‘do nosso jeito’ (a gente se denuncia), as informações fluiriam de modo responsável, e, porque não, carregadas de verdades – mas, distantes de serem absolutas.
Principal instrumento para a construção da realidade, o jornalismo usurpa, frequentemente, os direitos que conquistou ao longo dos anos. Então, constrói realidades que não são, de fato, realidades. E, os que circulam por trás deste instrumento, que, na maioria das vezes, colocam-no para funcionar, rendem-se ao joguete, lançando informações imprecisas, assuntos não fidedignos, pautas chulas. É a prática do jornalismo maldito, em todos os sentidos.Independente de sexo, raça, cor ou partido, todos sabemos que há limites. Somos capazes de identificar quando um assunto é deveras impertinente e inconveniente. Contudo, a Folha de São Paulo, o maior jornal impresso do Brasil, não soube.
No dia 27 de novembro, a Folha publicou um artigo de César Benjamin, intitulado de “Os filhos do Brasil”, que, entre outras coisas, acusava o presidente Lula de tentar estuprar um jovem companheiro de cela. O quê? Quando? Onde? Por quê? Então...Benjamin, em seu brilhantíssimo artigo, conta de uma conversa que teve com o presidente e que ele lhe teria revelado a tentativa de subjugar um colega de cela, João Batista dos Santos (ex-militante do Movimento pela Emancipação do Protelariado – MEP), quando estiveram presos, por um mês, na época da ditadura militar, alegando que não conseguia ficar sem sexo (Óh!).
Teria mesmo o presidente da república falado isso? Bom, não sabemos. A versão da Folha nos dá pouca coisa, há somente um viés, o de César Benjamin (e os ‘dois lados da moeda’?). E, ele afirma o ocorrido (e ponto). Vamos à internet. Ah, a internet: inúmeras possibilidades e um bombardeio de pontos de vistas. É lá que encontramos os outros vieses. Lá que a verdade vem à tona. Lula, pelo que consta, não tentou seduzir ninguém. Ele teria (ainda não se sabe se disse ou não) dito mais ou menos o que Benjamin conta, mas em tom de brincadeira – de mau gosto, evidente.
O assessor do presidente garantiu que Lula ficou triste com a publicação do texto, ressaltando que sobre o assunto nada seria feito. “Vamos dar a mínima importância. Quando o assunto é sério, a gente reage, quando não é..”, explicou. Alguns veículos foram atrás do jovem João Batista dos Santos, hoje com 40 e poucos anos de idade. Inicialmente ele se recusou a dar entrevista formal e ser fotografado, afirmando que nada tinha para comentar sobre o assunto. Depois, acabou dizendo que soube do artigo logo no dia seguinte, quando começou a receber ligações de vários jornalistas e antigos companheiros.
“Foi uma situação constrangedora”, afirmou. Santos disse que não conhece Benjamin e acredita que Lula "deve estar chateado" com o relato do colunista. A mulher de João Batista, que nunca tinha ouvido falar da suposta tentativa de estupro, denominou o artigo de “baixaria”, e agora teme dos filhos sofrerem no colégio com possíveis brincadeiras de mau gosto - heranças de um jornalismo maldito (e ponto!).
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Dando conta do tempo
Fiquei estarrecida ao presenciar aquela cena. Um misto de medo com insegurança, um friozinho na barriga. Ele estava lá, abrindo a geladeira e escolhendo o que ele queria comer. Então, ele olha para trás e vê que eu o observo, ainda perplexa. “Quero ioguti, tia. Tô pegando tá?!!”. Assim, como se nada tivesse acontecido. Olhei para a minha mãe. “Mãe , ele tá ficando grande!”. Ela confirmou com a cabeça, disse que ele já tinha 2 anos e meio, não se alterou - talvez porque ela já tenha criado dois filhos, viu os sobrinhos crescerem e é avó, afinal.
Não sei explicar ao certo o que eu senti. Acho que ver ele tão independente me fez perceber que a velocidade do relógio é rápida demais, que o tempo realmente não para. Pois, daqui um tempo, que cada vez fica mais perto, meu sobrinho não vai mais se agradar com os meus beijos e abraços apertados, com as minhas músicas cantadas erradas e fora de ritmo (afinação zero). Não vai mais ficar tagarelando atrás de mim, me puxando para andar de mão dadas ou pedindo para levar ele à piscina, à casa de alguém, para tomar um sorvete. Eu não vou mais escutar “Onde vamos, tia?”, assim, certinho, com o s no final do vamos (nem eu falo vamos, é vamo). Também, a voz gostosa de criança que dubla filme e que faz propaganda da OI, vai sumir.
Enfim, caiu a ficha. São quase dois anos que voltei para casa. Mas, não parece tanto, na verdade não parecia. Dois anos parecem pouco? Pouco ou muito, parece que eu não fiz nada. É esse nada que me aterroriza. Acredito que a proximidade do meu aniversário também contribui para que eu me sinta limitada ao tempo, querendo controlá-lo, vigiando para que ele não pule segundos, jamais os milésimos de segundo. Eu não tenho medo de ficar velha. Tenho medo de envelhecer, olhar para trás e achar que foi pouco. Às vezes eu quero voltar no tempo, outras quero adiantá-lo. Hoje, acho que por esses dias, eu quero saboreá-lo. Aprecia-lo sem moderação.
“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar
no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.”
(Carlos Drummond de Andrade, Contar o Tempo)
Enfim, caiu a ficha. São quase dois anos que voltei para casa. Mas, não parece tanto, na verdade não parecia. Dois anos parecem pouco? Pouco ou muito, parece que eu não fiz nada. É esse nada que me aterroriza. Acredito que a proximidade do meu aniversário também contribui para que eu me sinta limitada ao tempo, querendo controlá-lo, vigiando para que ele não pule segundos, jamais os milésimos de segundo. Eu não tenho medo de ficar velha. Tenho medo de envelhecer, olhar para trás e achar que foi pouco. Às vezes eu quero voltar no tempo, outras quero adiantá-lo. Hoje, acho que por esses dias, eu quero saboreá-lo. Aprecia-lo sem moderação.
“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar
no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.”
(Carlos Drummond de Andrade, Contar o Tempo)
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