quarta-feira, 28 de abril de 2010

Procura-se

Homem que queira tomar posse de morena, nem alta e nem sensual – apenas morena, contudo, talvez, seja a solução para o seu problema (quem sabe?). Preferência por morenos barbudos, com mais de 25 anos (espécie em extinção). Que goste de não fazer nada a dois, de conversas prolongadas, de fins de semana preguiçosos e programas não high society (cinema em casa, andar de bicicleta, uma pizza, um barzinho, passeios de mãos dadas, voltas ao redor da quadra).
Recusa-se homem grosseiro, pessimista e preconceituoso. O indivíduo deve ser dotado de grande quantidade de paciência – para os dias de crise; um tanto notável de inspiração - para que o romantismo não seja clichê; e uma pitada de loucura – para acompanhar possíveis devaneios. Tem de ser simples. O essencial é que tenha o dom de deixar o dia feliz, mesmo com o céu cinza. Promete-se recompensa para os que o encontrarem.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Da loucura à vanguarda

Zoá era um emaranhado de ideias, eram tantos planos, tantos desejos e uma imensidão de projetos de vidas, que ela se perdia em si mesma.
Passava horas viajando em sua estrada sem trilha, sem roteiro. De vez em quando tentava usar a bússola, que escondia no bolso, com o intuito de se encontrar de novo, mas não adiantava. Ela continuava saboreando aquele mundo mágico, no qual as flores tinham cheiro de sapato novo e por onde as borboletas, em perfeita sintonia, dançavam as partituras de Bethoven, de Bach e depois Mozart.
Não queria sair de si. Encantada com seu mundo introspectivo, deixava-se carregar pelas ondas de poesia, corria por entre as palavras cruzadas. Brincava de forca, para depois se deitar à sombra do gigante, aquele que mandava no reino das coisas escritas. Zangava-se com as letras, partia para os números. Contava sem parar, multiplicava horrores. No fim, os resultados eram sempre positivos, mesmo não ganhando nada no seu cassino imaginário. Longe dali, mas ainda no interior, entre seus rins, Zoá caducava. Pensava em posar nua, em ser protagonista de exposição artística e cineasta falida – dessas que de produções independentes.
Na tentativa de acompanhar seu raciocínio, perdia a razão. Era só faz de conta. E quando a mãe chamava a atenção da menina, Zoá desviava o olhar. Evitava que a vissem sonhar. Tinha vergonha de suas ideias infundadas, de seus planos não conclusos e desejos travessos. Era tímida para expor seus projetos de vidas. Temia ser tachada de insana. No futuro a denominaram de vanguarda.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A um passo da perfeição

Foi assim, de supetão. Ela disse que das pessoas que conhecia, ele era aquele que mais beirava a perfeição. Elogio singelo, direto, sincero.
Assustou-se com o adjetivo perfeito. Perfeito, era perfeito demais. Logo, ele, assim, tão comum, tão banal. Mais um cara perdido, mais um que se deixa carregar pelo destino. Ele, assim, bem sem jeito, nada sexy, totalmente desprovido do patrimônio erótico tão na moda. Ele, assim, na maior parte do tempo tímido, calado. Perto, quase íntimo, da perfeição.
Pensou o que o faria tão completo. Não encontrou tantas qualidades dentro de si. De frente para o espelho, menos ainda. Não era feio, mas tão bonito também não era. Andava com a barba sempre por fazer, vestia-se com certo desdenho – mas isso até ele achava charmoso. Quiçá era o charme, pensou. Também atribuiu aos seus rabiscos, ou seja, as suas tentativas frustradas de ser poeta, o predicativo da perfeição. Mas, logo desistiu da ideia, o talento lhe faltava, embora insistisse com as letras.
Ficou dias com “o que mais beira a perfeição”. O elogio o intimidou, não sabia lidar com tamanha responsabilidade: ser perfeito para alguém. Era muita coisa, lamentava. Passados os dias, a preocupação foi embora. Entendeu que a perfeição não estava nele, mas nos olhos de quem a enxergava. E era apenas ela quem via tamanha excelência. Acaso ela fosse a que mais beirava a perfeição...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Quem cochicha o rabo espicha...

Quem fofoca o rabo entorta.

De lá: http://www.mexendonabolsa.blogspot.com/

Eu prefiro a ausência de palavras às frases desordenadas, que ditas compulsivamente destoam sentidos.

Quem nunca foi vítima de fofoca, por favor, levante a mão. Não, ninguém aí? Pois bem, daí o meu desprezo por afirmações não baseadas em fatos concretos, pela especulação - mesquinha - à vida alheia.
Mulheres fofocam mais que os homens (eu acredito nisso, mesmo que pesquisas mostrem o contrário). Tenho muitos amigos do sexo masculino e nenhum deles se atreve a gastar tanto tempo falando da vida do vizinho quanto à mulherada. Tenho muitas amigas também, elas são capazes de passar horas contando detalhes dos detalhes dos detalhes daquele detalhe que a fulana falou para a sicrana, que jura que ouviu da boca da beltrana.
Não tão difícil de admitir, mas, vergonhoso: minhas companheiras de gênero são fissuradas por uma novidade, por um babado. Não nego que também gosto de estar informada acerca da vida dos outros, principalmente se for de pessoas que eu conheço e não tenho certa estima. Contudo, na maioria das vezes, desprezo os burburinhos, o disse-que-me disse, o telefone sem fio.
Já fui autora de um sexo que não pratiquei. Beijei bocas que nunca toquei, gostei de quem nunca conheci. Também já levaram a outros ouvidos o pedido que eu jamais mencionei e afirmações que eu não declarei. É por isso que eu prefiro o silêncio. Palavras em exagero fazem mal à saúde – o Ministério da Saúde deveria alertar a respeito!
Fofocas, frequentemente, são hipérboles. Não gosto de nada em excesso, pois, mesmo que por vezes eu seja excêntrica, primo pela descrição, pela transparência. O exagero me lembra encenações do tipo novela mexicana, histeria, falta de senso e equilíbrio...Psiuuuuuuuuuuuu, silêncio. Por favor!

“Se as cores vão berrando num sol ensurdecedor
Fecho os olhos Â... Outro mundo
Vou morar no interior
Transbordou a mesa ao lado
Um tsunami arrasador
Fecho os olhos Â... Outro mundo
Vou morar no interior
Eu tenho fé na força do silêncio
Eu tenho fé na força do silêncio”
A força do Silêncio, Humberto Gessinger/Duka Leindecke. Pouca Vogal.