terça-feira, 20 de abril de 2010

Da loucura à vanguarda

Zoá era um emaranhado de ideias, eram tantos planos, tantos desejos e uma imensidão de projetos de vidas, que ela se perdia em si mesma.
Passava horas viajando em sua estrada sem trilha, sem roteiro. De vez em quando tentava usar a bússola, que escondia no bolso, com o intuito de se encontrar de novo, mas não adiantava. Ela continuava saboreando aquele mundo mágico, no qual as flores tinham cheiro de sapato novo e por onde as borboletas, em perfeita sintonia, dançavam as partituras de Bethoven, de Bach e depois Mozart.
Não queria sair de si. Encantada com seu mundo introspectivo, deixava-se carregar pelas ondas de poesia, corria por entre as palavras cruzadas. Brincava de forca, para depois se deitar à sombra do gigante, aquele que mandava no reino das coisas escritas. Zangava-se com as letras, partia para os números. Contava sem parar, multiplicava horrores. No fim, os resultados eram sempre positivos, mesmo não ganhando nada no seu cassino imaginário. Longe dali, mas ainda no interior, entre seus rins, Zoá caducava. Pensava em posar nua, em ser protagonista de exposição artística e cineasta falida – dessas que de produções independentes.
Na tentativa de acompanhar seu raciocínio, perdia a razão. Era só faz de conta. E quando a mãe chamava a atenção da menina, Zoá desviava o olhar. Evitava que a vissem sonhar. Tinha vergonha de suas ideias infundadas, de seus planos não conclusos e desejos travessos. Era tímida para expor seus projetos de vidas. Temia ser tachada de insana. No futuro a denominaram de vanguarda.

3 comentários:

  1. Lindo texto Lari!

    Toda vanguarda já foi taxada ou tachada como loucura desfocada da realidade...
    Isso pq a realidade dela está muito a frente de seu tempo!

    Beijos querida!

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  2. Eis que chega Zurumbá, amigo de Zoá. Zurumbá ainda sonha. Prefere ver nos olhos de Zoá as cores das borboletas dançantes e o brilho que mais parece um orvalho numa linda Orquídea. Zurumbá encosta sua mão no coração de Zoá e pede para ela não desviar mais o olhar. Se há alguém que acredita em um sonho, e esse alguém é você, nada, nem canhão, nem guerra, nem opinião alheia, poderá derrubá-la.

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  3. Saiba, há quem acredite em Zoá e seus sonhos. Mais que isso, existirão os que irão seguir seus passos e dizer o quanto foi brilhante a vanguardista. E, mesmo que Zoá pense que é tarde para sonhar, que ela saiba que o sonho nunca acaba. E que cabe a ela - e a nós - construirmos os caminhos que chegam a esse sonho. Lindo, minha flor. Beijoo

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Porque quem comunica se trumbica.