terça-feira, 27 de outubro de 2009

Falando de amor

A felicidade se encontra nas pequenas coisas da vida, é o que disse, não necessariamente nesta ordem e desta maneira, um poeta brega ou uma música sertaneja. Para não haver brigas ou acusações de plágio, concordo com os dois.

Chego em casa, depois daquele dia exaustivo. É ele quem me recepciona. ‘Onde você tava?’, pergunta, com aquele olhar de que por horas me esperava. Caminha na minha direção, enquanto termino de fechar o portão (rimou). Ele pega na minha mão e começa a tagarelar. Fala das guloseimas que comeu, comenta da escolinha, fala que quer ir no circo – ele jamais esquece do circo. ‘Vamos na piscina, vamos?’. Só tenho tempo de fazer um ou dois comentários e dizer que a piscina fica para o fim de semana. ‘Mas eu tô sem fralda, tia’, lembra ele - sempre falo que ele só pode ir para o clube depois que não usar mais fralda, ele levou a sério, e tem se empenhado, também argumentado, claro. De mãos dadas seguimos até a cozinha, onde paro para beber uma água. Sigo para o quarto e ele corre atrás, tagarelando novamente. É isso que me deixa feliz. Simples, assim ó!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Cotidiano

Sobre perspectivas, destino, condição. Sobre eu e você ou talvez nada disso

Emprego fixo para quê? O salário baixo ainda não contribui para que ele compre aquele carro almejado, aquele tênis da moda, aquela blusa de marca. Também, ainda, ele não pode comprar o sobrado que ele paquera, há, pelo menos, uns dois anos. Ele estudou quatro anos para isso: viver limitado ao seu semi-salário. ‘Você está em começo de carreira, é por isso, já melhora’, consolam-no. Enquanto isso ele imagina. Pensa no que ele queria realmente ter feito: viajar. As viagens sempre foram seu ideal, seu projeto de vida, seu consumo. Então foi estudar, pois pensava que depois de formado teria a grana para viajar. Enganou-se. O mundo adulto lhe deu uma rasteira, vieram as obrigações, a contribuição em casa, a compra do mercado, o pão do café da tarde, a gasolina para ir até o cinema, o remédio quando ficou doente. E, ainda, tinha o cabelo que deveria ser cortado, os dentes que deveriam ser tratados, o presente do amigo, o computador que quebrou. Desistiu das viagens. O seu empecilho foi a responsabilidade, que o impregnou de cuidados, que o impediu de agir por súbito. E assim, lentamente, o homem que se dizia do mundo, tornou-se enraizado. Teve bom emprego, fez carreira, casou, teve filhos. É feliz. Mas, de vez em quando ele engasga e por um bom tempo viaja, viaja em seus pensamentos, relembrando seus mais absurdos sonhos, seus mais atípicos desejos. E, então, ele se recorda de sua frase clichê, dita à sua mãe quando tudo parecia dar errado: ‘Se nada der certo eu fujo com o circo’. Ele ri. Aos quarenta ele, ainda, acredita que dá tempo de fugir. Só não sabe como. ‘Pai, me dá um braço’, escuta.