quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Bendito torcicolo

Acordou com torcicolo. Tentou virar para o lado da mulher, para que ela apertasse o botão do despertador que não parava de tocar, mas não conseguiu. Gemeu de dor. A esposa, enfim, acordou. Preocupada dirigiu o olhar a ele, perguntando o que sentia. Apontou o pescoço, ela entendeu que era torcicolo.
Como era boa nessa coisa de massagem, buscou um de seus cremes. Pediu ao marido que sentasse e começou a massagear onde doía. O homem se sentiu estranho. Ambos se sentiram um pouco incomodados. Ela e ele estavam muito mais próximos do que o habitual. Há meses não se tocavam.
Enquanto a mulher o massageava, ele aproveitava o momento para sentir a pele dela. A mão que aliviava a dor do seu pescoço lhe libertava a alma, provocando seu corpo. Lembrou de quando se conheceram, das mãos que nunca se largavam, das bocas que não se desgrudavam. Do cheiro que exalavam. Não se beijavam mais. Por quê? Ele próprio se perguntava.
A esposa deslizava a mão no torcicolo dele, o movimento repetitivo lhe trazia recordações. De épocas em que tanto a mão dela quanto a dele se lambuzava de prazer. Não visitavam mais a parte íntima um do outro. Ela também buscava respostas para essa distancia.
Sentiu vontade de se envolver nas costas do marido, de roçar seus seios nela. Desistiu. O marido quis pegar-lhe de jeito, entrelaçar suas pernas à dela. Desistiu. Não sabiam mais fazer carícias. A massagem acabou. O marido rezou para amanhecer de novo com torcicolo. A esposa pediu um milagre, para que o torcicolo se estendesse ao corpo inteiro.

3 comentários:

  1. Que lindo, Lari. E que triste. E como é real pra muita gente... Que o torcicolo se estenda, ah, que ele se estenda!

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  2. Acho que todo relacionamento, um dia, precisa de torcicolos... Doem, só de início...

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  3. Nunca pensai que um torcicolo pudesse ser tão inspirador!

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Porque quem comunica se trumbica.