O império de edifícios é bonito, mas polui a vista. São prédios e prédios e prédios. Mais prédios. As casas foram engolidas. E o comércio também reina. São bares, lanchonetes, lojas dos mais variados artigos. Vendedores ambulantes de fruta, biscoito de polvilho, bala, chicletes e quinquilharias. Nada orna, mas tudo junto e misturado até que possuem certa beleza, escondida, mas há.
Outra coisa chata da grande metrópole é a neurose. A preocupação constante que se deve ter com as bolsas, com a carteira, com o celular. O desassossego é de todos, até as pombas gordas são inquietas. Atentas, planejam a cada segundo um voo certeiro. É nesses voos que elas roubam a comida, que pode estar na mão, na mesa do bar, no chão. Até pomba rouba em cidade grande. Deveria haver um genocídio de pombas, pensa.
Gosta de andar de metrô, coisa de caipira. Mas, gosta. Foi na saída do metrô que encontrou a velha albina, que repousava na mureta da escada. Por dois dias seguidos a velha estava lá, parecia até fazer parte da decoração da calçada. Quase que não se mexia, dava até a entender que era estátua. Uma estátua macabra, de mau gosto, mas estátua. Era estranho se deparar com a velha albina, a falta de melanina causa estranhamento. O olho rosado choca, talvez por isso os albinos tivessem parte com o demo, era assim que pensavam na idade média.
Cabelos curtos e ralos alterando da cor branca à amarela. Saia e blusa de cores neutras para não contrastar com a falta de cor da pele, enrugadíssima. Com a mesma roupa, na mesma pose. Quase mendiga, era mais certo que fosse. A velha albina provoca quem por ela passa, provoca sem dizer nada, sem mostrar nada. Provoca com seus movimentos suaves. Parece louca. Uma insana, somente uma idosa insana sentaria na mureta, permanecendo estática na maior parte do tempo, enquanto zilhões de pernas passam por ali.
A velha albina pode não ter mais memória boa, deve embaralhar-se. Linearidade já não deve fazer parte da sua cabeça, deve ter flash back constantes, pode não ter família, pode ter sido esquecida. Vive no passado. Não sabe quem é. De fato.
Resolve ignorar a velha da mureta, porque depois dela tem o menino descalço com os dentes podres pedindo esmola, tem o negro fedido dormindo junto com três cachorros sarnentos, tem dois jovens fazendo a refeição no lixo, catando o que sobrou do almoço de alguém. Caraca, tem um pedaço de bife aqui. Vibram. Ainda, depois deles têm as putas da esquina, do meio da rua, da quadra inteira. Tem policial batendo em gente decente, homens armados com fuzil, que ninguém sabe se vai ser usado para o bem ou para o mal. Um dia na cidade grande.
Outra coisa chata da grande metrópole é a neurose. A preocupação constante que se deve ter com as bolsas, com a carteira, com o celular. O desassossego é de todos, até as pombas gordas são inquietas. Atentas, planejam a cada segundo um voo certeiro. É nesses voos que elas roubam a comida, que pode estar na mão, na mesa do bar, no chão. Até pomba rouba em cidade grande. Deveria haver um genocídio de pombas, pensa.
Gosta de andar de metrô, coisa de caipira. Mas, gosta. Foi na saída do metrô que encontrou a velha albina, que repousava na mureta da escada. Por dois dias seguidos a velha estava lá, parecia até fazer parte da decoração da calçada. Quase que não se mexia, dava até a entender que era estátua. Uma estátua macabra, de mau gosto, mas estátua. Era estranho se deparar com a velha albina, a falta de melanina causa estranhamento. O olho rosado choca, talvez por isso os albinos tivessem parte com o demo, era assim que pensavam na idade média.
Cabelos curtos e ralos alterando da cor branca à amarela. Saia e blusa de cores neutras para não contrastar com a falta de cor da pele, enrugadíssima. Com a mesma roupa, na mesma pose. Quase mendiga, era mais certo que fosse. A velha albina provoca quem por ela passa, provoca sem dizer nada, sem mostrar nada. Provoca com seus movimentos suaves. Parece louca. Uma insana, somente uma idosa insana sentaria na mureta, permanecendo estática na maior parte do tempo, enquanto zilhões de pernas passam por ali.
A velha albina pode não ter mais memória boa, deve embaralhar-se. Linearidade já não deve fazer parte da sua cabeça, deve ter flash back constantes, pode não ter família, pode ter sido esquecida. Vive no passado. Não sabe quem é. De fato.
Resolve ignorar a velha da mureta, porque depois dela tem o menino descalço com os dentes podres pedindo esmola, tem o negro fedido dormindo junto com três cachorros sarnentos, tem dois jovens fazendo a refeição no lixo, catando o que sobrou do almoço de alguém. Caraca, tem um pedaço de bife aqui. Vibram. Ainda, depois deles têm as putas da esquina, do meio da rua, da quadra inteira. Tem policial batendo em gente decente, homens armados com fuzil, que ninguém sabe se vai ser usado para o bem ou para o mal. Um dia na cidade grande.
Bom, eu me assustei com a velha. Porque realmente tinha achado que era uma estátua... Ai, a cidade grande...
ResponderExcluirTalvez a velha seja a versão carioca da mulher na música 'En el muelle de San Blas', do Maná.
ResponderExcluirVeja se concorda:
http://www.youtube.com/watch?v=aMSq-fqD3YQ
Beijo Lari....