domingo, 20 de dezembro de 2009

Sobre a noticiabilidade do suicídio

Entre o noticiar ou não o suicídio, opto pelo não. Existe (ou pelo menos existia) um código de ética dentro da imprensa que declara que o suicídio não deve ser noticiado, que o ato não deve ser explorado, a não ser quando se trata de um caso memorável, no caso de pessoas públicas ou quando a situação é única, como os suicídios em massa. E, mesmo assim, estes suicídios devem ser tratados com responsabilidade, indo além da narração do “ele se matou com um tiro” ou “se matou por causa disso e daquilo”, há a necessidade de depoimentos de especialistas, e, principalmente, o abster-se dos aspectos sensacionalistas.
A princípio, o suicídio é de interesse de quem o pratica e de seus familiares, não havendo motivos para a propagação de tal ato, visto que não deve ser nada confortante para pais, irmãos, avós ou amigos se depararem com notas, matérias ou reportagens do ente querido, que, na maioria das vezes, se mata por problemas que até então todos desconheciam. E, por aqui, em menos de uma semana, três suicídios aconteceram. Os três muito bem noticiados, estampando as páginas de jornais, colorindo a telinha, ecoando pelas ondas do rádio ou em chamadas extremamente agressivas no monitor. Nenhum dos “auto-assassinos” era gente famosa, então, por que noticiar um suicídio?
Por que dá ibope? Porque causa imensos e incontroláveis burburinhos pela cidade. Porque o suicídio instiga a curiosidade. Não sei. O fato é que o porquê de não divulgar é mais sensato do que os vários porquês de divulgar. Suicídio é coisa séria, não é espetáculo de praça e nem capítulo de novela. Especialistas garantem que a divulgação de suicídios pode desencadear uma série de outros. Pesquisas apontam que há um aumento de 2% em casos de suicídio quando uma história semelhante aparece na imprensa.
Independente de exercer influência, de dar ideias ou quem sabe até incentivo, acredito que a publicação do suicídio faz mal. Mal para quem lê, mal para quem fica – os parentes e conhecidos que se culpam por naquele instante serem totalmente dispensáveis e tão insignificantes. Noticiar suicídio é que nem publicar assassinatos, detalhar estupro ou explorar histórias tristes de pessoas simples: não é notícia. São mazelas de uma sociedade, mazelas muito mal retratadas e personagens muito mal descritos.

4 comentários:

  1. Ai, Lari. Eu discordo. Assim como um acidente ou assassinato, suicídio é fato.

    Não sou contra a noticiabilidade, mas é fundamental que a notícia seja dada de maneira técnica e apurada, como qualquer outra, atenta ao leitor que acompanha a leitura e as medidas necessárias para não desencadear situações semelhantes.

    É só uma questão de saber fazer, assim como a divulgação de qualquer outra notícia policial. Agora, o sensacionalismo com que alguns órgão noticiam estes casos, assim como outros, isso sim é vergonhoso e deveria ser coibido.

    =)

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  2. opa!
    Boca de hoje: "Divulgação de suicídio
    Em resposta ao "jornalista" de ontem, transcrevo matéria do Jornal ‘Correio do Cidadão’, de 18 a 21 de dezembro de 2009 - Ano 2 - nº 102 - Pág. 2. Recomendo a todos os jornalistas da região, ao sr comandante da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e chefe da Polícia Civil:

    "...a divulgação de suicídio pode desencadear uma série de outros..."
    (Madelyn Gould - Universidade de Columbia - EUA)
    (David Philips - Universidade da Califórnia - EUA)

    "Noticiar suicídio é que nem publicar assassinatos, detalhar estupro ou explorar histórias tristes de pessoas simples. Não é notícia. São mazelas de uma sociedade. Mazelas muito mal retratadas e personagens muito mal descritos"... Pense nisso!"
    tá se achando, agora, heim?!
    rsrs

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  3. Eu concosdo outro dia vi um jovem qu cometeu suicidio em plena rodoviaria de campinas ai fiquei esperando sair o noticiario. acho mesmo que foi melhor não noticiar é realmente problema dele e da familia

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Porque quem comunica se trumbica.