terça-feira, 21 de junho de 2011

Das minhas ignorâncias

Minha avó passou mais tempo com o meu vô do que com ela mesma. O meu avô também. Eram uma boa dupla. Eles fizeram bodas de ouro, o orgulho da família! A vó morreu com saudade do vô, que não teve tempo de se despedir. Três meses separados. Três meses que pareciam mais que anos, era o que a minha avó garantia e repetia sem parar (eu achava exagero, confesso). Meu avô sente saudade, não tem mais vontade de tirar o pijama. E o azul dos olhos dele parece mar de tanto que chora. Dói no vô não ter mais a mulher com quem ele viveu a maior parte de sua vida. E deve ser ruim mesmo acordar com o outro lado da cama vazio, sem o cheiro de quem se ama. Minha mãe conheceu meu pai aos 13 anos, ela conta ainda com um riso maroto como foi. Na rua, na cidade onde ambos passavam as férias. Os primos dela eram vizinhos dos primos dele. Ele tinha 16 anos. Desde então, passaram a se encontrar em todas as férias de dezembro (Ah, o verão!). O acaso fez com que se encontrassem mais tarde na capital. Antes disso, meu pai namorou uma prima da minha mãe e várias outras gurias. Minha mãe garante que, mesmo assim, sempre gostou dele. Meu pai foi o primeiro e único amor da minha mãe. E meu pai baba na minha mãe, mesmo depois de 27 anos de casados e uma enxurrada de problemas. Mesmo que haja mais de três mil quilômetros de distância entre eles. Quando meu avô desanima e minha mãe estremece, eu até tento consolá-los. Mas existe um abismo entre mim e eles. Eu sou analfabeta no amor.

E “só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas”.

4 comentários:

  1. Ah o amor, como um sentimento tão abstrato pode envolver e preencher tanto?!? Sua ausência faz com que o outro se sinta em uma fissura ôntica.

    Eu também sou analfabeta no amor!!! Até que ponto isso pode ser bom ou mal?

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  2. Analfabeta no amor... nunca tinha pensado assim... E também não sei se um dia vou sentir um amor tão lindo, assim. Calma, flor, o tempo resolve tudo. ;)

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  3. Vc me fez lembrar do Vinícius de Moraes. Se ainda tivesse meus alunos de literatura, seu texto me seria matéria de ensino.

    Soneto de Fidelidade

    De tudo ao meu amor serei atento
    Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
    Que mesmo em face do maior encanto
    Dele se encante mais meu pensamento.

    Quero vivê-lo em cada vão momento
    E em seu louvor hei de espalhar meu canto
    E rir meu riso e derramar meu pranto
    Ao seu pesar ou seu contentamento

    E assim, quando mais tarde me procure
    Quem sabe a morte, angústia de quem vive
    Quem sabe a solidão, fim de quem ama

    Eu possa me dizer do amor (que tive):
    Que não seja imortal, posto que é chama
    Mas que seja infinito enquanto dure.
    Vinícius de Moraes

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  4. Prima,damos o valor aqueles que amamamos quando esta ao nosso lado no dia-a-dia e isto ocorreu com os nossos avos. POr isso, digo ame todos os dias quem vc mais ame e de valor aos pequenos detalhes,pois podem ser os ultimos.

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Porque quem comunica se trumbica.