quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Greve

Ficou porque não tinha mais para onde fugir. Tentou escapar, mas pareceu-lhe dever beijá-lo, mesmo que não quisesse. Estava encurralada. Foi. Não gostou. A cada beijo um tormento. Desencaixe. Empenhava-se. Fechava os olhos enquanto seus lábios se desencontravam com o dele. Impedia que o beijo se prolongasse devido à falta de rima. Quis ir embora. O plano de fuga falhou. Queria levá-la para casa, mesmo ela insistindo que não. Fez o percurso como se estivesse amarrada ao banco do passageiro. Imóvel, estática, impotente. Pensou em abrir a porta e dizer que desceria ali, no meio do nada e com o carro em movimento. Seria muito grosseira, e ele, querendo ou não, estava sendo gentil. Gentileza gera gentileza. Bufou! Proclamou greve contra ele. Não o beijaria novamente. Na frente da casa, a tão temida despedida. Arquitetou inúmeras desculpas. Quando o rosto dele chegou ao centro do dela, ela desviou. Ele achou que fosse brincadeira e mirou novamente. Desviou mais uma vez. Ele a observou como quem não tinha entendido nada. Ela mordia os lábios para segurar a língua, pois as palavras coçavam para sair. Tinha costume de falar demais, inclusive aquilo que pensava. Por isso, em pensamento, torcia para que ele não perguntasse nada, que somente respondesse seu adeus. Ele perguntou. Ela respondeu. Disse que não havia encaixe, que podiam ser sinceros um com outro, pois era melhor que uma tentativa frustrada de um beijo sem sabor.

3 comentários:

  1. Sinceridade pode até magoar os outros. Mas também não precisamos subtraí-la somente para a alegria alheia. E a nossa? Onde fica?

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  2. Quem nunca se viu numa situação assim, que atire a primeira pedra...

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Porque quem comunica se trumbica.