quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sem peso na consciência

Queria ser médico para salvar vidas. Seus planos mudaram. Seria médico para se dar bem na vida. Fez especialização em cirurgia plástica. Tem clínica própria, equipamentos de última geração. Três enfermeiras trabalham com ele. Tem secretária também, que é sua amante, assim como uma das enfermeiras. Vestir-se de branco é o seu charme. Além de mulheres, de branco tem mais prestígio. Atende no SUS também, porque uma graninha a mais é sempre bem vinda.
No público, o atendimento é diferenciado, em menos de cinco minutos examina os pacientes dando-lhes o diagnóstico. Com pressa, já que ganha por paciente - quanto mais melhor -, esqueceu de verificar os batimentos cardíacos do pedreiro que reclamava de dores no peito. Não viu as inflamações na pele da menina que dizia ter fortes dores de cabeça. E ao menino que vomitava sem parar indicou soro caseiro, pois devia ser virose.
Todos morreram. O pedreiro do coração,a menina de uma doença crônica e o menino de um vírus raro. A consciência não pesou. Perder paciente é rotina médica. Só ficava sem sono quando uma de suas clientes da clínica lhe dava cheques sem fundo.

2 comentários:

Porque quem comunica se trumbica.