sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Zoá e o guarda-chuva

Antes de nascer seus pais já haviam comprado. Do lado da cama do hospital maternidade, por entres as várias flores que exalavam cheiro de manhã, lá estava o primeiro guarda-chuva de Zoá. Pequeno, tal como ela era quando veio ao mundo.
Seus pais sabiam da importância de se ter um guarda-chuva, dado à modernidade dos tempos, dado aos perigos do dia a dia, da imprevisível maldade alheia. Quando deu seus primeiros passos, sua mãe já começava a lhe ensinar: O guarda-chuva lhe protegerá das chuvas de traições, das tempestades de ilusões e, principalmente, dos tempos de cólera intensa. Também lhe guardará das garoas de decepção, dessas que chegam sempre sem avisar. Deve segurar o guarda-chuva firme, Zoá, falava a mãe enfaticamente.
A menina, ainda sem entender as letras, sorria. Mas nada de segurar firmemente o guarda-chuva. À medida que foi crescendo, seus pais foram lhe presenteando com guarda-chuvas de diferentes tamanhos, formatos, cores. Havia ainda os que além de guarda-chuva, poderiam ser usados como guarda-sol. Mesmo assim, nada seduzia a menina, que cresceu sem muitos cuidados.
Zoá tropeçava nos brinquedos, pegava gripe por andar descalça, brigava no colégio, desafiava os vizinhos. Fazia poses inusitadas, discordava, corria. E até a maturidade tomou chuva. Várias chuvas. E gostava dos pingos que lhe encharcavam. Sentia-se mais leve após as tempestades, mais livre após os tempos de cólera e muito mais fortalecida depois que as garoas cessavam.
Quando chovia os guarda-chuvas tomavam conta das ruas, lotavam as calçadas. Não se via rostos, não se enxergava pessoas. Todo mundo era um amontoado de guarda-chuvas, sem identidade, sem vida. Zoá se irritava. Não entendia o zelo das pessoas, a cautela para a hora da chuva. Pensou em contar seu segredo, em propagar o não uso do guarda-chuva. Desistiu. Existem dois tipos de pessoas: as que usam guarda-chuva e as que não usam. Zoá não usava guarda-chuva.

5 comentários:

  1. Eu adoro a Zoá! Adoro entrar no mundo dela e adoro a maneira como você o conta. A Zoá é linda. Como você! Ainda bem que ela não usa guarda-chuva.

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  2. Para que usar guarda-chuva se Zoá teria sempre a proteção de Zurumbá?

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  3. Eu já amo guarda-chuva ,imagina está foto então,magnífica simplismente maravilhosa.

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  4. adoro Zoá e suas histórias, sou apaixonada pelo encanto com que você conta suas aventuras,beijos, minha escritora predileta

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Porque quem comunica se trumbica.